Na língua portuguesa, a palavra economia assume múltiplos significados. Aqui, interessa-me destacar dois: 1. “conjunto de actividades desenvolvidas pelas pessoas para obter os bens e serviços indispensáveis à satisfação das suas necessidades”; 2. “ciência que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços, e a repartição de rendimentos”.

Ou seja, a economia tanto é a realidade material que vamos transformando para satisfazer as nossas necessidades, como é a ciência que estuda tal processo.

Em inglês, essa duplicidade não acontece, uma vez que existem duas palavras diferentes: economy, que corresponde à primeira definição enunciada; economics, que se refere à segunda.

Quis fazer esta introdução para ficar claro que, no título desta crónica, utilizo a palavra economia nos seus dois significados aqui descritos: a economia, realidade material e ciência, que não cumpra a sua função de produzir felicidade é ineficiente, ineficaz, imoral.

Ou seja, se aquilo que andamos colectivamente a produzir para, supostamente, satisfazer as nossas necessidades, não estiver a ser capaz de nos tornar mais felizes, então, algo de profundamente errado se passa.

Mais, se a ciência económica que temos não for capaz de nos ajudar a explicar porque estamos nesse paradoxo (de não produzir o que nos faz sustentavelmente felizes), nem a desenhar políticas de promoção da felicidade, então, temos uma ciência inútil e perversa.

Infelizmente, esse é o ponto em que, grosso modo, estamos.

A economia mundial cresce, mas a felicidade de muitos povos estagna ou decresce.

A ciência económica ortodoxa, que se orgulha de ser a ciência aborrecida (dismal science no original inglês), não é capaz de dar resposta aos problemas que afectam o bem-estar das pessoas, tendo até, muitas vezes, sido causadora dos mesmos. A verdade é que não é automático, linear e imediato o processo através do qual a economia cumpre o seu verdadeiro desiderato: produzir felicidade.

Desafortunadamente, o século XX foi um século que viveu ofuscado pela ideia de que esse processo era simples e que bastava crescer, bastava aumentar-se o PIB, para que tudo corresse pelo melhor.

O século XXI está a demonstrar quanto esse preconceito era equívoco, pois precisamos de ter em conta a sustentabilidade ambiental e perceber que a felicidade das pessoas não se cria automaticamente a partir da riqueza material.

O objectivo último da humanidade é a felicidade.

Uma economia (no seu duplo sentido) que produzir infelicidade é uma economia desviada, uma economia imoral. Por isso é vital calibrarmos a economia mundial na direcção da felicidade sustentável. Isso só sucederá com apostas políticas claras e informadas pela ciência (nomeadamente a economia política).

A Economia da Felicidade, com a força que tem vindo a adquirir desde o final do século XX, está a contribuir para que a ciência económica cumpra o seu verdadeiro propósito de ajudar a economia a ser o que deve ser. Enquanto cidadãos, compete-nos fazer as escolhas certas (de consumo, de produção, de política) para que a economia possa ser um lugar feliz.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

PS: as definições do primeiro parágrafo têm como fonte a Infopedia da Porto Editora; não há uma definição única de ciência económica, mas a apresentada satisfaz-me.