Dizem todos os estudos de opinião que, a dois dias das eleições legislativas, o número de indecisos é muito maior que em 2022 e 2019. O que significam estes dados?

Que há uma enorme fatia do eleitorado que não está convencida acerca das propostas em jogo ou sobre os líderes que encabeçam os dois principais partidos.

Se assim for, podem acontecer dois cenários: ou há uma ida em massa às urnas destes indecisos, como em 2022, que levaram cerca de 300 mil pessoas a votar em António Costa e no PS, ou, destarte, uma elevada abstenção que ainda condicionará muito mais o cenário pós-eleitoral.

Neste momento, Marcelo Rebelo de Sousa não está descansado. Poderemos entrar, como há muito apontei, numa instabilidade permanente que nos leve a novas eleições ainda em 2024, e, consequentemente, a uma “italianização” do regime, como nos tempos anteriores a 1993 (ano da Operação Mãos Limpas), em que Giulio Andreotti era o “master of puppets” de 16 executivos que tomaram posse em 20 anos.

As maiorias absolutas são animais em vias de extinção e Portugal, tal como ocorre em tantos países da Europa, vai ter de se habituar a governos de maioria relativa e acordos de incidência parlamentar entre diversas forças.

O normal seria a vitória da AD, pois após um longo ciclo de poder de oito anos do PS, há um desgaste inerente a inúmeros casos e casinhos que marcaram indelevelmente uma maioria absoluta completamente desbaratada.

Sem rodeios, Luís Montenegro está obrigado a ganhar. Se tal não acontecesse, aumentaria no partido o apelo a um D. Sebastião que voltasse a dar vitórias aos sociais-democratas, mas que também tivesse capacidade de obstruir o crescimento do Chega, que teve sete por cento em 2022 e pode agora conquistar um elevado número de deputados.

Há inúmeras incógnitas para domingo, contudo, há uma quase certeza: é que a direita poderá ter mais mandatos que a esquerda. Porém, o teste do algodão é a apresentação do Orçamento do Estado, que necessita de uma maioria parlamentar.

Depois veremos como se comportam PCP (se Paulo Raimundo sobrevive e não perde ainda mais votos e representantes), se a sorridente Mariana Mortágua faz crescer o BE, se o Livre (Rui Tavares merece) tem um grupo parlamentar e o PAN não se apaga com o apoio concedido ao Governo regional da Madeira.

E falta a Iniciativa Liberal. Rui Rocha passou o teste dos debates, mas não é João Cotrim de Figueiredo e o seu eleitorado pode seguir o canto da sereia do voto útil. Domingo veremos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.