[weglot_switcher]

A jornalista portuguesa a dar notícias em mais de 150 países

Nas últimas semanas, esteve em 4 países diferentes em trabalho. Foi estudar lá para fora e começou a sua carreira no coração da política europeia. É agora uma das caras da estação televisiva CNBC a dar notícias diariamente em mais de 150 países. Para os jovens jornalistas deixa um conselho: “Continua a trabalhar. Se tens paixão pelo jornalismo, avança”. E aprender muito, diariamente.
8 Março 2025, 10h30

Milão, Munique, Bruxelas, Dinamarca. Estes são apenas alguns dos destinos para onde Sílvia Amaro viajou em trabalho ao longo das últimas semanas para cobrir eventos internacionais.

Sediada em Londres, a vida profissional da jornalista portuguesa acelerou este ano ao ser promovida a pivot na CNBC Internacional, o canal de televisão norte-americano focado em economia e temas internacionais.

É a primeira pivot portuguesa na CNBC e é uma das principais caras da estação a dar notícias diariamente para mais de 150 países em todo o mundo.

Economia, política europeia, empresas. As áreas que segue são diversas e tem a oportunidade de assistir ao desenrolar da história mundial à sua frente.

Prova disso foi a entrevista que realizou ao então embaixador russo junto da União Europeia, Vladimir Chizhov, apenas semanas antes de a invasão da Ucrânia em 2022. “Já havia essa tensão no ar. Foi a entrevista mais dificil que fiz até hoje, a que me marcou mais também, mas também aprendi imenso. Porque é um assunto humano: estavamos a falar de uma potencial invasão e guerra, com consequências trágicas. Estamos a falar de vidas que se perderam. E a guerra continua, infelizmente.”

Noutra área, ainda recentemente entrevistou Andrea Orcel, CEO do banco italiano Unicredit, que está interessado no banco italiano Commerzbank o que já levou a críticas por parte do Governo alemão. Um banco italiano a comprar um banco alemão? Ninguém imaginaria há uns anos. “Gosto muito de política europeia, gosto muito de conhecer empresas, mas é a oportunidade de fazer entrevistas a pessoas que estão nestes cargos que me traz felicidade e essa também era uma das razões pelas quais eu queria fazer televisão”.

E foi um longo caminho para aqui chegar desde a sua juventude passada no distrito de Viseu. Aos 18 anos, deixou o país para ir estudar para Londres. Licenciou-se em Jornalismo na City St George’s, University of London.

“Os meus pais viveram em Londres antes de eu nascer. Cresci com muitas histórias deles dessa altura. E desenvolvi um sonho de miúda de um dia ir estudar para Londres. E aos 12 anos decidi que queria ser jornalista de televisão. Estas duas ideias definiram a minha vida toda até hoje. Trabalhei para isso e consegui atingir estes objetivos. Lembro-me de todos os dias à noite ver o noticiário das 20h00 com os meus pais. Era o clássico. O meu pai gosta muito de política e eu debatia com ele, e com a minha mãe, e também sobre economia. Isso levou a que desenvolvesse um interesse por esse tipo de assuntos”, conta Sílvia Amaro ao Jornal Económico a partir de Londres.

Já na universidade decidiu que queria dedicar-se aos temas económicos, num momento em que a crise das dívidas soberanas atingia Portugal em força e com a troika já instalada no país. “Estávamos em 2011, Portugal estava numa situação muito difícil. E queria perceber o que estava a acontecer e conseguir explicá-las às pessoas”.

Com o canudo na mão decide ir para Bruxelas, o centro da política europeia, onde trabalhou para a agência de notícias inglesa Market News International e também escreveu para o jornal Público, durante 2 anos. “Foi assim que caí de paraquedas em Bruxelas. Foi uma oportunidade. Era a jornalista mais nova a cobrir as instituições europeias: 21 anos. No primeiro dia, estavam a falar do Eurogrupo e nem sabia o que era. O primeiro ano foi difícil a nível pessoal e profissional, mas aprendi muito. Os correspondentes portugueses em Bruxelas acolheram-me muito bem e foram a minha família. Serviram de exemplo para mim. Ainda tinha vergonha de fazer perguntas nas conferências de imprensa, mas via as minhas colegas a fazer e avançava”.

Mas ainda havia uma história para escrever no outro lado do Canal da Mancha. “Sentia que a minha história em Londres basicamente ainda não estava completa”, afirma, tendo por isso candidatado-se a uma vaga na CNBC na capital inglesa; passado uns meses regressou a Londres como repórter digital. “Penso que gostaram de ter experiência em Bruxelas, conhecer a bolha, e isto na altura da votação do Brexit. Era preciso alguém que conhecesse o lado europeu e política europeia era a minha especialidade”.

A jornalista entrou na CNBC em 2016 como repórter digital e começou a fazer televisão em 2018, mas só integrou a equipa de TV da CNBC em 2023, passando a fazer televisão diariamente como repórter.

“A minha carreira tem sido muito dedicada à União Europeia. Quando juntei-me à CNBC não havia ninguém com esse tipo de experiência em Bruxelas que conhecesse a bolha e soubesse o que é que estava a acontecer na altura. Com o Brexit, fui desenvolvendo as minhas competências e os meus conhecimentos”, mas com um espírito irrequieto pedia sempre ao seu editor para dar-lhe temas novos para seguir, para conseguir aprender mais.

Questionada sobre os conselhos que daria a um jovem jornalista, não tem dúvidas: trabalho, trabalho, trabalho. “Continua a trabalhar porque vais lá chegar. Tu não vais para jornalismo porque queres fazer muito dinheiro. Vais porque gostas. Queres aprender e partilhar esse conhecimento com as pessoas. Se tens essa paixão, por mais difícil que seja, avança. Com tempo, trabalho e dedicação, as oportunidades vão estar lá para ti”.

“Na minha opinião, não deves seguir jornalismo só porque queres aparecer ou só porque achas que é giro aparecer na televisão.  Mas sim pelo gosto da profissão, pelo gosto de aprender e partilhar o conhecimento. Há deadlines para cumprir. É preciso viajar. Há muitos dias em que não podes fazer certas coisas da tua vida privada por causa do teu trabalho e tens que equilibrar estes dois mundos ao mesmo tempo”, defendeu.

A viver fora do país há 15 anos, quais as diferenças que sente na forma como Portugal é olhado a partir do exterior? “Quando fui para a universidade, Portugal ainda estava muito associado aos PIGS, odeio este nome. Era um país que estava a sofrer economicamente. Agora, Portugal está imenso na moda, toda a gente quer comprar casa em Portugal, a visão que têm do nosso país mudou”.

A sigla PIGS foi muito usada durante a crise do euro em 2010/2011/2012 para os países sob maior pressão dos mercados – Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha – tendo uma conotação negativa; em inglês, significa porcos].

Pedro Pinto foi o primeiro pivot português numa grande cadeia internacional, a CNN. Outro nome português numa estação internacional é Isa Soares que trabalha na CNN Internacional a partir de Londres.

E voltar um dia para Portugal? “Adorava viver em Lisboa, mas estou a viver o meu sonho e não tenho planos para sair daqui nos próximos anos”.

“Agora, como pivot sigo tudo: o que é que o Trump disse? E a Ursula von der Leyen? O que aconteceu com a Novo Nordisk? É uma procura constante de informação”, revela sobre o seu dia-a-dia.

Para os interessados, Sílvia Amaro vai para o ar de segunda a sexta-feira entre as 06h e as 10h da manhã, hora de Londres. “Se não estiver em estúdio, estarei algures numa capital europeia”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.