Milão, Munique, Bruxelas, Dinamarca. Estes são apenas alguns dos destinos para onde Sílvia Amaro viajou em trabalho ao longo das últimas semanas para cobrir eventos internacionais.
Sediada em Londres, a vida profissional da jornalista portuguesa acelerou este ano ao ser promovida a pivot na CNBC Internacional, o canal de televisão norte-americano focado em economia e temas internacionais.
É a primeira pivot portuguesa na CNBC e é uma das principais caras da estação a dar notícias diariamente para mais de 150 países em todo o mundo.
Economia, política europeia, empresas. As áreas que segue são diversas e tem a oportunidade de assistir ao desenrolar da história mundial à sua frente.
Prova disso foi a entrevista que realizou ao então embaixador russo junto da União Europeia, Vladimir Chizhov, apenas semanas antes de a invasão da Ucrânia em 2022. “Já havia essa tensão no ar. Foi a entrevista mais dificil que fiz até hoje, a que me marcou mais também, mas também aprendi imenso. Porque é um assunto humano: estavamos a falar de uma potencial invasão e guerra, com consequências trágicas. Estamos a falar de vidas que se perderam. E a guerra continua, infelizmente.”
Noutra área, ainda recentemente entrevistou Andrea Orcel, CEO do banco italiano Unicredit, que está interessado no banco italiano Commerzbank o que já levou a críticas por parte do Governo alemão. Um banco italiano a comprar um banco alemão? Ninguém imaginaria há uns anos. “Gosto muito de política europeia, gosto muito de conhecer empresas, mas é a oportunidade de fazer entrevistas a pessoas que estão nestes cargos que me traz felicidade e essa também era uma das razões pelas quais eu queria fazer televisão”.
E foi um longo caminho para aqui chegar desde a sua juventude passada no distrito de Viseu. Aos 18 anos, deixou o país para ir estudar para Londres. Licenciou-se em Jornalismo na City St George’s, University of London.
“Os meus pais viveram em Londres antes de eu nascer. Cresci com muitas histórias deles dessa altura. E desenvolvi um sonho de miúda de um dia ir estudar para Londres. E aos 12 anos decidi que queria ser jornalista de televisão. Estas duas ideias definiram a minha vida toda até hoje. Trabalhei para isso e consegui atingir estes objetivos. Lembro-me de todos os dias à noite ver o noticiário das 20h00 com os meus pais. Era o clássico. O meu pai gosta muito de política e eu debatia com ele, e com a minha mãe, e também sobre economia. Isso levou a que desenvolvesse um interesse por esse tipo de assuntos”, conta Sílvia Amaro ao Jornal Económico a partir de Londres.
Já na universidade decidiu que queria dedicar-se aos temas económicos, num momento em que a crise das dívidas soberanas atingia Portugal em força e com a troika já instalada no país. “Estávamos em 2011, Portugal estava numa situação muito difícil. E queria perceber o que estava a acontecer e conseguir explicá-las às pessoas”.
Com o canudo na mão decide ir para Bruxelas, o centro da política europeia, onde trabalhou para a agência de notícias inglesa Market News International e também escreveu para o jornal Público, durante 2 anos. “Foi assim que caí de paraquedas em Bruxelas. Foi uma oportunidade. Era a jornalista mais nova a cobrir as instituições europeias: 21 anos. No primeiro dia, estavam a falar do Eurogrupo e nem sabia o que era. O primeiro ano foi difícil a nível pessoal e profissional, mas aprendi muito. Os correspondentes portugueses em Bruxelas acolheram-me muito bem e foram a minha família. Serviram de exemplo para mim. Ainda tinha vergonha de fazer perguntas nas conferências de imprensa, mas via as minhas colegas a fazer e avançava”.
Mas ainda havia uma história para escrever no outro lado do Canal da Mancha. “Sentia que a minha história em Londres basicamente ainda não estava completa”, afirma, tendo por isso candidatado-se a uma vaga na CNBC na capital inglesa; passado uns meses regressou a Londres como repórter digital. “Penso que gostaram de ter experiência em Bruxelas, conhecer a bolha, e isto na altura da votação do Brexit. Era preciso alguém que conhecesse o lado europeu e política europeia era a minha especialidade”.
A jornalista entrou na CNBC em 2016 como repórter digital e começou a fazer televisão em 2018, mas só integrou a equipa de TV da CNBC em 2023, passando a fazer televisão diariamente como repórter.
“A minha carreira tem sido muito dedicada à União Europeia. Quando juntei-me à CNBC não havia ninguém com esse tipo de experiência em Bruxelas que conhecesse a bolha e soubesse o que é que estava a acontecer na altura. Com o Brexit, fui desenvolvendo as minhas competências e os meus conhecimentos”, mas com um espírito irrequieto pedia sempre ao seu editor para dar-lhe temas novos para seguir, para conseguir aprender mais.
Questionada sobre os conselhos que daria a um jovem jornalista, não tem dúvidas: trabalho, trabalho, trabalho. “Continua a trabalhar porque vais lá chegar. Tu não vais para jornalismo porque queres fazer muito dinheiro. Vais porque gostas. Queres aprender e partilhar esse conhecimento com as pessoas. Se tens essa paixão, por mais difícil que seja, avança. Com tempo, trabalho e dedicação, as oportunidades vão estar lá para ti”.
“Na minha opinião, não deves seguir jornalismo só porque queres aparecer ou só porque achas que é giro aparecer na televisão. Mas sim pelo gosto da profissão, pelo gosto de aprender e partilhar o conhecimento. Há deadlines para cumprir. É preciso viajar. Há muitos dias em que não podes fazer certas coisas da tua vida privada por causa do teu trabalho e tens que equilibrar estes dois mundos ao mesmo tempo”, defendeu.
A viver fora do país há 15 anos, quais as diferenças que sente na forma como Portugal é olhado a partir do exterior? “Quando fui para a universidade, Portugal ainda estava muito associado aos PIGS, odeio este nome. Era um país que estava a sofrer economicamente. Agora, Portugal está imenso na moda, toda a gente quer comprar casa em Portugal, a visão que têm do nosso país mudou”.
A sigla PIGS foi muito usada durante a crise do euro em 2010/2011/2012 para os países sob maior pressão dos mercados – Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha – tendo uma conotação negativa; em inglês, significa porcos].
Pedro Pinto foi o primeiro pivot português numa grande cadeia internacional, a CNN. Outro nome português numa estação internacional é Isa Soares que trabalha na CNN Internacional a partir de Londres.
E voltar um dia para Portugal? “Adorava viver em Lisboa, mas estou a viver o meu sonho e não tenho planos para sair daqui nos próximos anos”.
“Agora, como pivot sigo tudo: o que é que o Trump disse? E a Ursula von der Leyen? O que aconteceu com a Novo Nordisk? É uma procura constante de informação”, revela sobre o seu dia-a-dia.
Para os interessados, Sílvia Amaro vai para o ar de segunda a sexta-feira entre as 06h e as 10h da manhã, hora de Londres. “Se não estiver em estúdio, estarei algures numa capital europeia”.
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