[weglot_switcher]

A lição militar

Quando a estrutura da Saúde se afastou do centro do combate à pandemia, este passou a mostrar-se mais eficaz. Deixámos de ter apenas discurso e passámos a ter ação. Uma ação percetível, equacionada e inclusiva.
1 Abril 2021, 00h10

O plano nacional de vacinação entrou na nova dimensão de execução com o início do processo extraordinário para as escolas, para pessoal docente e não docente. Tal momento, que deveria ter sido assumido antes da reabertura das escolas, ainda se realiza em tempo oportuno para proteger parte do sistema educativo, pedra angular da formação dos nossos jovens. Esta fase, contudo, foi aproveitada de forma propagandística com reportagens sucessivas e em direto pelo país fora, como se fosse a decisão mais prioritária de todas e a solução mais óbvia e certeira.

O desafio da execução da vacinação maciça é gigantesco e a polémica à volta das vacinas seria sempre significativa. Contudo, o processo não se iniciou da melhor forma. Desde já, a episódica e pouco esclarecida liderança inicial da task force com grandes anúncios e muitas hesitações. Mas a substituição de responsáveis sucedeu em boa hora e quase repentinamente surgiu uma nova estratégia, uma forte imagem e uma linha de rumo que antes não se vislumbrou emergiu uma evidência desta alteração.

Inicialmente quis-se impor um ex-governante. Mas à política o que é da política, e deixemos a ação para quem dispõe de preparação adequada. O vice-almirante Gouveia e Melo soube assumir com espírito de missão o que parecia ser uma ingrata tarefa, e em poucos dias transformou o plano numa operação eficaz, com um discurso realista, cauteloso e focado apenas em alcançar objetivos.

O percurso da equipa entretanto retomado demonstra a relevância da escolha de quem lidera – o vice -almirante já estava na equipa mas não dispunha da liderança da mesma. Deixamos de ter apenas discurso e passamos a ter ação, ação percetível, equacionada e inclusiva. Quando receámos o falhanço vimos serenidade, organização e eficácia.

E mesmo perante a absurda atitude de alguns governos europeus – incluindo o português – de suspender a vacina da AstraZeneca, ou quando assistimos a lamentáveis atrasos de fornecimentos por parte de um laboratório (por mero acaso, sempre o mesmo) vimos respostas. Ignorando públicas manifestações de negacionistas que apenas querem dar nas vistas, exprimindo publicamente as suas frustrações, a execução do plano perdeu as hesitações.

Num domínio tão sensível como o da Covid-19, exigia-se serenidade e bom senso e deram-nos isso, e além de acreditarmos nas metas propostas vimos também governantes a reboque desta nova estratégia. A partir do momento em que a estrutura da Saúde se afastou do centro deste combate, este passou a mostrar-se mais eficaz.

A nova liderança que executa este Plano trouxe os princípios de organização para esta nova fase. Ao iniciar um momento extraordinário que exige concertação entre múltiplas atividades, um militar soube trazer ao topo a confirmação da qualidade da formação dos militares portugueses, tão elogiada pelos beneficiários de ações no estrangeiro e tão pouco realçadas e reconhecidas internamente.

Este momento merece ser apontado pelo que de bom o país tem para oferecer a si mesmo. Se a luta contra a pandemia é uma guerra que se vence de batalha em batalha, então é bom podermos acreditar nos nossos efetivos.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.