O incêndio em Pedrógão Grande não está extinto e já é utilizado como arma de arremesso política. Há quem peça a demissão da ministra da Administração Interna, citando o antecedente da (admirável) renúncia de Jorge Coelho após a queda da ponte de Entre-Os-Rios. A ver vamos e esperemos que, a existirem responsabilidades, as mesmas sejam apuradas e assumidas por quem de direito.

Mas a horrível tragédia que ocorreu em  Pedrógão Grande deveria servir, antes de mais, para que a sociedade portuguesa inicie uma reflexão séria sobre o problema dos fogos florestais. É hora de ir à raiz do problema. A qual tem mais que ver com economia do que com meios de combate aos incêndios. Porque arde a floresta portuguesa? E por que razão a floresta portuguesa arde mais do que as dos outros países mediterrânicos?

A resposta reside em larga medida na estrutura de propriedade da floresta portuguesa, que em grande parte do país está distribuída por minifúndios. Os quais, isoladamente, não têm viabilidade económica e estão por isso votados ao abandono.

Durante séculos, a floresta foi essencial para a sobrevivência das famílias portuguesas. A floresta dava-nos madeira para o aquecimento no inverno e para construir (parte das) casas. E as matas eram limpas porque os restos de vegetação eram necessários para a criação de gado e para a agricultura. As famílias juntavam dinheiro durante anos para comprar bouças e pinhais, porque estas propriedades contribuíam para o sustento diário e eram uma forma de poupança.

Mas o país mudou, com a industrialização, as migrações para grandes cidades, a emigração em massa para o estrangeiro e a melhoria generalizada da qualidade de vida. A floresta deixou de ser decisiva para a subsistência das famílias portuguesas e, antes pelo contrário, passou a ser um encargo. Para trás ficaram milhares de pequenas propriedades espalhadas pelo país, por vezes tornadas ainda mais pequenas devido aos processos de partilhas. Hoje, muitos portugueses que vivem nas grandes cidades não sabem sequer onde ficam os prédios rústicos que os antepassados lhes deixaram. E mesmo que tentem saber onde estão esses terrenos, não é fácil descobrir.

Urge, por isso, repensar a estrutura de propriedade da floresta portuguesa de modo a que a riqueza que a mesma gera possa ser devidamente aproveitada e, desta forma, se possa prevenir os incêndios. Não podemos continuar a ter uma grande parcela do território nacional votada ao abandono, numa situação que, como alguém afirmou este fim-de-semana, equivale a deixar os bicos do gás abertos e pedir aos moradores para não acenderem a luz.

A floresta é uma das nossas principais fontes de riqueza e esta riqueza tem de ser devidamente gerida e explorada, para benefício dos portugueses e da natureza. Só conseguiremos impedir os fogos se apostarmos na prevenção, o que se consegue com uma exploração racional da floresta e dos seus recursos.

Os últimos Governos têm procurado resolver o problema e a Bolsa Nacional de Terras que foi criada constitui certamente um passo no sentido certo. Mas é preciso mais. Haja coragem política para tomar decisões difíceis neste domínio.