Portugal teve o seu primeiro contacto com a Covid-19 há quase um ano e desde então tudo no país mudou. O Ministério da Saúde apontou as vacinas como um sinal de esperança que melhores dias estariam para chegar. O virologista Celso Cunha é da opinião que “nos próximos meses não vão existir grandes mudanças no padrão global de evolução da pandemia”. Porém, vários aspetos devem ser considerados: a capacidade de vacinação de cada país e as medidas restritivas adotadas em cada um deles”, completou.
“Penso ser prudente dizer que iremos assistir a evoluções diferentes em diversas partes do globo, de país para país e de continente para continente”, afirmou. E nos países com infraestruturas mais frágeis, algumas vacinas são preferíveis a outras. “As vacinas da Pfizer e da Moderna não são adequadas, do meu ponto de vista, à realidade presente em países de baixa renda, devido à complexa logística do seu transporte e de toda a cadeia de refrigeração necessárias”, referiu Celso Cunha ao Jornal Económico.
Para o virologista, “vacinas do tipo das que estão a ser desenvolvidas pela AstraZeneca e outras companhias são mais baratas e de mais fácil transporte e acondicionamento”. Em Portugal o Ministério da Saúde anunciou que a 9 de fevereiro chega o primeiro lote de 113 mil vacinas da AstraZeneca.
Pandemia acelerou o esforço da comunidade científica
Quando questionado sobre se a pandemia veio acelerar a indústria farmacêutica, Celso Cunha explicou: “não acredito que tenha acelerado a indústria farmacêutica. Acelerou o esforço da comunidade científica em geral mas não da indústria farmacêutica em particular. Diversas companhias mostraram optar por abordagens diversas aos problemas colocados pela atual situação pandémica”.
“Houve uma espécie de corrida para determinar quem chegava primeiro com uma vacina ao mercado, mas a primeira poderá muito bem não vir a ser a melhor, a que confere imunidade mais duradoura. A que seja mais eficaz nos idosos, por exemplo. É uma competição em que o vencedor não é obrigatoriamente quem chega primeiro”, assegurou Celso Cunha.
Enquanto se verificou um aumento na produção de vacinas, o mesmo não aconteceu com os medicamentos, segundo Celso Cunha.
“Quanto ao investimento no desenvolvimento de novos medicamentos, o que se tem verificado é que é reduzido devido, em parte, ao tempo que demoram a ser desenvolvidos e ao superior investimento que é necessário e com menor garantia de sucesso”, disse o virologista.
Na perspetiva de Celso Cunha, “a maior parte das companhias e da comunidade científica tenta optar por uma abordagem de reposicionamento de fármacos já aprovados para outras patologias e que mostraram ser seguros. Isto poupa, pelo menos, o investimento na fase de investigação da segurança. O caso típico, mais falado e também controverso, deu-se com o Remdesivir da Gilead”.
Novas estirpes são forma de compreender melhor o vírus
Na ótica de Celso Cunha, “o surgimento de novas variantes e a apertada vigilância epidemiológica, que está a ser efetuada em pouco por todo o mundo, é sem dúvida, um grande contributo para entender melhor as tendências de evolução do vírus”.
“Eventualmente, com o acumular de muitos mais dados, podermos ser capazes de prever com alguma probabilidade o surgimento de outras variantes com outras caraterísticas. Mas ainda é muito cedo para nos atrevermos a fazer qualquer previsão”, destacou o virologista.
Sobre a estirpe de Covid-19 originária do Reino Unido, Celso Cunha salientou “é mais contagiosa embora não cause sintomas mais graves”. “Provavelmente, neste momento, para além dos outros países europeus que já a reportaram como circulando nos seus territórios, também já se deverá ter espalhado um pouco por todo o mundo”, concluiu.
Confinamento dependerá da evolução do número de infeções
Sobre a duração do confinamento, Celso Cunha defende que: “Tudo vai depender da evolução do número de casos semanais. Se o número de novos diagnósticos e internamentos baixar a um ritmo elevado, será possível aliviar algumas medidas”.
O virologista considerou que “as decisões de aumentar ou diminuir as restrições são mais políticas do que técnicas”.
Artigo publicado em especial do Jornal Económico a 05-02-2021
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