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A próxima crise e os futuros (grandes) desafios das instituições

O QE poderá ser uma arma novamente, mas os efeitos deste método não são claros e receia-se que possa tornar-se num criador de “bolhas”, para além de ser um péssimo hábito.
27 Novembro 2018, 07h40

Passaram-se dez anos desde o choque de 2008 que abalou fortemente o mundo. Hoje, a generalidade das economias ditas “desenvolvidas” crescem consistentemente, apesar de o fazerem de forma muito moderada. No entanto, uma onda de dúvidas quanto ao futuro destas economias reflete-se na volatilidade que vários índices como o S&P500, o DAX30 ou o FTSE100 têm sentido.

Dito isto, uma questão começa a ter cada vez mais importância: estará o mundo minimamente preparado para uma próxima crise?

A história e os manuais ensinam-nos como combater crises – através de política monetária e fiscal. A lógica é simples: baixa-se a taxa de juro e alargam-se os cordões do Estado em tempos de crise (estimulando assim o crédito, o consumo e o investimento), e em tempos de bonança faz-se o inverso de maneira a prevenir uma economia inflacionista.

Neste sentido, o grande problema da atualidade prende-se com o facto de termos um arsenal de combate às crises praticamente esgotado. A fraca reação das economias desenvolvidas a estas políticas após a crise de 2008, obrigou a que os bancos centrais diminuíssem de forma inédita a sua taxa de referência para zero.

Por outro lado, e tendo-se apercebido da gravidade da situação, muitos Estados foram obrigados a incorrer em quantidades absurdas de dívida de forma a evitar um colapso total do sistema. Alguns destes países, incluindo Portugal, atingiram o seu “máximo” de dívida, ou seja, aquele valor de dívida a partir do qual os investidores passam a cobrar taxas de juro incomportáveis para o país.

Passados alguns anos torna-se evidente que o crescimento económico que se tem verificado não está a ser suficiente para compensar a enormidade da crise (como já se previa). Consequentemente, só em 2016 a FED decidiu começar a aumentar de forma significativa a sua taxa de referência (estando ainda abaixo dos 2,5%).

Já na Europa e no Japão, para além de esta taxa continuar no zero, ou até mesmo em níveis negativos (no caso do Japão), ambos os bancos centrais continuam com os seus programas de compra de ativos (o chamado QE-Quantitative Easing). Ou seja, na eventualidade de uma crise num futuro próximo, nem os bancos centrais poderão diminuir as taxas de juro, nem os Estados terão a capacidade de emitir dívida em larga escala.

Os investidores, conscientes da falta de armas das instituições, deixam que a incerteza se instale. As instituições têm de estar preparadas para o pior. O QE poderá ser uma arma novamente, mas os efeitos deste método não são claros e receia-se que possa tornar-se num criador de “bolhas”, para além de ser um péssimo hábito. A solução poderá passar por deixar a inflação crescer. Não é de todo a solução ideal (inflação gera incerteza e possíveis quedas na produção), mas isto permitiria uma redução no peso das dívidas dos Estados e obrigaria os investidores a entrarem no mercado.

Esta solução é particularmente difícil de ser aplicada na Europa. Muitos países não têm problemas de dívida, pelo que a inflação tem pouco de vantajoso. Um processo deste género poderia pôr novamente em causa a continuidade da União, especialmente num momento em que movimentos populistas e nacionalistas varrem a Europa e retiram poder político às suas instituições

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