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“A União Europeia não aprendeu nenhuma lição com o Brexit”, defende investigadora

Publicamente envolvida no “Remain Movement” na Grã-Bretanha, Tanja Bueltmann esteve em Portugal para participar como oradora da conferência “Eleições Europeias: o que está em jogo”. Em entrevista ao Jornal Económico diz que com o processo do Brexit estão “a ser sacrificados cinco milhões de cidadãos da UE”.
9 Maio 2019, 07h47

Tanja Bueltmann é professora de História na Universidade de Northumbria em Newcastle upon Tyne, onde se dedica à investigação sobre migração, que já originaram vários livros. Publicamente envolvida no “Remain Movement” na Grã-Bretanha, esteve em Portugal para participar como oradora da conferência “Eleições Europeias: o que está em jogo”, organizada pelo Goethe-Institut. Em entrevista ao Jornal Económico diz que a imigração não irá parar e favorecer as opiniões anti-imigração “não irá ajudar ninguém”.

Estamos a poucos dias das eleições europeias. A sobrevivência da União Europeia está em jogo?

Não exactamente. Mas está certamente sob a ameaça séria do populismo. Os ideais da UE são admiráveis e acredito firmemente que devemos lutar por eles, mas a liderança da União Europeia também cometeu erros no passado, dos quais nem sempre aprenderam. Precisamos que todos de celebrar melhor e reconhecer o que a UE nos dá, os benefícios que traz.

Que lições é que a União Europeia aprendeu com o Brexit?

Temo que nenhuma. Neste momento, a UE está, e fico muito triste por ter de dizer isto, a sacrificar cinco milhões de cidadãos da UE no Brexit – 3,7 milhões de cidadãos da UE no Reino Unido e 1,3 milhões de cidadãos britânicos na UE. Os líderes da UE não querem isolar o acordo de direitos dos cidadãos já feito – isolar significaria que para os cidadãos, o acordo alcançado permaneceria, independentemente do que acontecesse a seguir. Isso finalmente colocaria fim à incerteza de cinco milhões de pessoas. Mas a UE acha que isso é uma questão de escolha. Essa visão é uma tragédia e faz muitos questionarem o que significa realmente a cidadania da UE se esta não protege os seus cidadãos.

Contrariamente aos receios iniciais, o Brexit poderá ter tido o efeito inesperado de contribuir para, de alguma forma, aprofundar um sentimento de pertença europeu?

Parece que sim. Há estudos que mostram que não existe disposição de outros países para seguirem os passos do Reino Unido. Mesmo nos países mais céticos da UE, as percentagens para permanecerem como membros da UE são relativamente altas.

Depois de 60 anos, a União Europeia ainda procura a sua identidade?

Acho que sim. Os valores fundamentais são claros, mas muitos parecem tê-los esquecido. Temos que trabalhar para aumentar o sentimento de pertença, de solidariedade, não apenas ao nível superior, mas dos cidadãos.

O crescimento dos movimentos populistas tem sido identificado por muitos como uma ameaça. De que forma pode ser contido?

Acho que precisamos de debates muito mais progressistas e abertos sobre os desafios que enfrentamos. Pensemos, por exemplo, o aumento das opiniões anti-imigrantes. A imigração não vai parar. Devido às alterações climáticas e a outros factores é provável que aumente. Favorecer estas opiniões anti-imigração – o que muitos políticos fazem – não irá ajudar ninguém. Precisamos dar soluções que respondam aos problemas reais: parar a austeridade, investir em infraestruturas, etc., tudo pode ajudar.

O envelhecimento da população é um dos principais desafios que a União Europeia enfrenta. A imigração é a resposta que a Europa precisa para o equilíbrio?

É certamente parte da resposta. A Escócia, por exemplo: sem a imigração, a população escocesa vai diminuir- simplesmente não há crianças suficientes. Os imigrantes desempenham um papel vital na Escócia, por exemplo, no Serviço Nacional de Saúde.

De que forma é que se pode aumentar a integração dos imigrantes?

Muitos imigrantes estão bem integrados, é enganoso supor que não estão. Mas claramente, por vezes, esse não é o caso. Dar apoio aos recém-chegados para aprender a língua do país é um passo importante. Outros programas podem ser usados para ajudar. Na Alemanha, por exemplo, houve programas de formação e trabalho que foram iniciados na sequência da chegada de um grande número de refugiados e que funcionaram muito bem.

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