Os países do sul da Europa foram o epicentro da crise da dívida que quase destruiu o euro entre 2011 e 2013. Na altura, Espanha, Portugal, Grécia, Itália e Irlanda eram economias em recessão, muito pouco competitivas, com grandes défices e elevada dívida privada. Com este currículo, esses países receberam o apelido não oficial de PIGS – e levaram a outros ‘mimos’, como foi o caso de um ‘flying dutchman’ que colocou a hipótese de os países frugais estarem a financiar (indiretamente) mulheres e vinho, importantes ativos dos países do sul.
Hoje, a situação é um pouco diferente. Numa análise assinada por Vicente Nieves, o jornal espanhol “El Economista” recordar que, embora os países do Sul continuem a ter vulnerabilidades significativas, “muitas das fraquezas das suas economias foram resolvidas. Pelo contrário, os países centrais enfrentam uma situação mais complexa, pelo menos a curto prazo”.
Recordando que a projeções de crescimento do FMI e de outras instituições sugerem que os países do sul apresentarão um crescimento económico maior que a Zona Euro central e do norte, o fosso do PIB per capita tenderá a reduzir-se nos próximos anos. As previsões do FMI mostram que Grécia, Espanha e Portugal crescerão em 2023 e 2024 (com taxas de cerca de 2%) a um ritmo que, em muitos casos, multiplica por dois o das grandes economias da Europa Central e Meridional.
Há dois fatores que estão a dar tração às economias dos tais PIGS em comparação com a Alemanha ou os Países Baixos: por um lado, o bom desempenho das economias dos países do sul graças aos esforços do passado e à força do turismo. Por outro, os maus momentos vividos por economias cujo PIB depende em maior medida da indústria e do gás barato, cuja torneira foi fechada no Donbass.
O jornal espanhol dá voz a Mathieu Savary, estratega-chefe de investimentos para a Europa da BCA Research, para quem o fraco desempenho da Alemanha explica tudo. Ou quase. Como o país da Europa que mais impacto sofreu com a fecho da torneira russa – a verdade é que a economia germânica está em dificuldades para encontrar uma alternativa que lhe permita manter o mais potente motor da União Europeia em funcionamento – sem ‘raters’.
“O ciclo industrial global tem sido extremamente fraco porque o crescimento chinês continua morno, os stokes globais estavam muito altos e o consumidor dos Estados Unidos restringiu suas compras de bens, depois de esbanjar durante a pandemia. A indústria transformadora representa uma maior parte do VAB da Alemanha do que qualquer outra economia da Zona Euro. Como resultado, a Alemanha é a que mais sofre com a fraqueza do ciclo industrial global. Para piorar, a forte exposição da Alemanha à energia russa acentuou as suas contrariedades em comparação com o resto da Zona Euro”.
Por outro lado, “o bloco mediterrânico resistiu à pandemia e à crise energética e agora está a comportar-se surpreendentemente bem, apesar das taxas de juros mais altas”. Embora a Itália se encarregue de ‘enlamear’ o bom momento dos países do Sul, tudo indica que “o risco de uma nova crise da dívida soberana europeia emergir da periferia é baixo”, refere o analista.
“A combinação de reformas, algum rigor orçamental e uma política monetária de apoio permitiu uma convergência da competitividade entre a periferia e o resto da área do euro. Os Indicadores Harmonizados de Competitividade da OCDE revelam que Portugal e Espanha estão agora muito mais competitivos que nos últimos anos. Em termos relativos, a Grécia e a Itália também registaram uma forte recuperação da sua competitividade desde a crise da dívida soberana. Ainda mais revelador é o facto de o custo unitário do trabalho dos países centrais da Europa, o rácio entre a remuneração do trabalho e a produção, ter ultrapassado largamente o aumento do custo unitário do trabalho na periferia”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com