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Abu Mohammed al-Jolani e Mohammed al-Bashir: quem é quem na ‘nova‘ Síria?

Um líder radical que optou pela moderação e o governador da região de Idlib – que não estava sob as ordens de Bashar al-Assad. São estes os dois homens que querem encarregar-se da transição pacífica da Síria para a fase pós-Assad.
Síria
Umit Bektas/Reuters
9 Dezembro 2024, 13h55

A má notícia, pelo menos na ótica ocidental, era que os rebeldes radicais muçulmanos (sunitas) voltavam ao primeiro plano político na Síria – era o fantasma do Afeganistão que teimava em reaparecer. A boa notícia era que o líder desses radicais, em vez de tratar desde logo, mal chegou à capital síria e colocou em fuga a família al-Assad, de dizimar a oposição xiita, preferiu ir à mais icónica mesquita de Damasco para explicar que depositava nas mãos do primeiro-ministro a função de encontrar um governo de transição.

Abu Mohammed al-Jolani, o tal extremista-moderado, dava assim alguma esperança à comunidade internacional de que o processo sírio não entrasse mais uma vez em regime de guerra civil. A admiração pela contenção do líder rebelde reforçava-se ainda pelo facto de ser conhecido que o grupo que liderava ter tido em tempos uma ligação estreita à al-Qaeda. Mas o fantasma do Afeganistão mantém-se: quando regressaram ao poder, os radicais afegãos também deram mostras de alguma moderação, que acabou por desaparecer rapidamente.

Ou seja, é ainda cedo demais para considerar Abu Mohammad al-Jolani um moderado, apesar de já poder ser incluído no grupo dos pragmático: sabe que grandes potências regionais (Rússia, Irão e Turquia) estão a monitorizar de perto os seus passos e por isso convém não alardear nenhuma tendência para a radicalização. É que, para além de haver ainda um contingente militar norte-americano algures no país, a conveniência estratégica induz que qualquer réplica do discurso e do modo de operar do (mais ou menos) defunto Estado Islâmico pode motivar a ira destes Estados.

Abu Mohammed al-Jolani

Durante anos, o líder rebelde evitou expor-se. Mas não tanto que a Wikipedia não deixasse de se interessar pela sua personalidade. A acreditar nessa fonte, Abu Mohammad al-Jolani, nascido em 1982, é um líder que serviu como o segundo emir de Tahrir al-Sham a partir de 2017. Nascido na Arábia Saudita no seio de uma família de exilados sírios, regressou à Síria no final da década de 1980. Antes de se afastar da Al-Qaeda em 2016, al-Julani foi um dos responsáveis da extinta Frente Al-Nusra, o antigo braço sírio da Al-Qaeda.

Mas o corte com aquela formação radical não implicou a sua radicalização – como sucedeu com vários líderes sunitas. Ao contrário, tentou procurar legitimidade internacional concentrando-se na governação na Síria em vez de enveredar por objetivos jihadistas. Segundo fontes citadas por alguns jornais norte-americanos, al-Jolani terá testado a possibilidade de, regionalmente, tentar dar aos sírios das redondezas uma vida semelhante à normalidade: cobrava impostos, fornecia serviços públicos, emitia licenças de deslocação. A opção correu bem – com alguma repressão à mistura, evidentemente, mas terá permitido a al-Jolani perceber que a radicalização talvez não fosse a via mais conveniente. Até porque a própria Liga Árabe já não está com ‘paciência’ para aturar (e muito menos apoiar) qualquer réplica do ISIS.

O líder do grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), cresceu em Mezzeh, um distrito abastado de Damasco, numa família rica e foi sempre um bom aluno, chegando a estudar Medicina – como sucedeu com Bashar al-Assad, que ajudou a fazer fugir, parece que para Moscovo.

Agora que faz parte dos vencedores, tem passado a mesma imagem de moderação – o que constitui uma surpresa para a imprensa ocidental. E já disse que não executará ataques de vingança contra as diversas minorias que vivem na Síria – nem sequer a alauita, de que faz parte o clã presidencial entretanto posto em fuga.

Para todos os efeitos, al-Jolani tem conseguido manter o país mais ou menos calmo, numa altura em que o pior medo do ocidente é a eclosão de uma guerra civil que dizime o pouco que ainda há para dizimar num país que está em guerra, mesmo que de baixa tensão, desde 2011.

Entretanto, segundo a cadeia televisiva Al Jazera, a nova administração da Síria deve selecionar Mohammed al-Bashir como primeiro-ministro do governo de transição. Espera-se agora que Al-Bashir seja encarregado de formar um novo governo para gerir a fase de transição.

Mohammed al-Bashir
Mohammed al-Bashir

Mohammed al-Bashir, nascido em 1983, é engenheiro e era até agora o líder do governo de salvação Sírio criado em desde 13 de janeiro de 2024 – e que, evidentemente, nunca foi reconhecido pelo regime de al-Assad. Al-Bashir nasceu na região de Jabal Zawiya , na província de Idlib, e formou-se na Universidade de Aleppo. Em 2011, trabalhou na fábrica de da Syrian Gas Company.

Al-Bashir foi diretor de Educação Islâmica no Ministério da Educação durante dois anos e meio, para mais tarde assumir funções como diretor adjunto e depois Diretor de Assuntos das Associação no Ministério de Desenvolvimento e Assuntos Humanitários. Entre 2022 e 2023, foi ministro de Desenvolvimento e Assuntos Humanitários, em substiruição de Ali Keda.

Em janeiro de 2024, o Conselho Shura do Governo da Salvação (em Idlib) votou para eleger al-Bashir como primeiro-ministro. Quando em novembro passado, o grupo HTS lançou a ofensiva do noroeste da Síria, levando à captura de Aleppo e aumentando significativamente a extensão dos territórios controlados pelo Governo da Salvação, o seu nome passou a circular entre os ‘ministeriáveis’. Al-Bashir foi encarregado de formar um governo de transição depois de Abu Mohammad al-Julani se ter encontado com o ex-primeiro-ministro sírio, Mohammad Ghazi al-Jalali, para organizar uma transferência de poder.

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