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Água de icebergs vendida a 80 euros e água com “frequências sonoras de amor” entre as melhores do mundo

Extraídas a 914 metros de profundidade no Havai, de fontes nas ilhas Fiji ou polvilhadas com ouro. São assim algumas das águas engarrafas mais caras do mundo.
17 Julho 2019, 10h37

“Frequências sonoras de amor, de lua e espectros de luz do arco-íris”. Podíamos estar a falar de música ou de um objeto, mas a descrição refere-se à melhor água engarrafada do mundo, de uma marca australiana. A descrição e votação é do concurso internacional de prova de águas de Berkeley Springs, no ano passado, noticia o The Guardian.

Vendida por 2,30 dólares australianos (2,06 euros), por cada litro, a Frequency H2O é um “elixir definitivo da vida”, afirma o criador da marca, Sturt Hinton. Outra marca reconhecida pelo júri do concurso foi a Svalbarði, que vende garrafas de água diretamente do icebergs noruegueses por 90 dólares (80,26 euros), sendo espremida na hora.

Os slogans são extravagantes e o preço luxuosos fazem da água engarrafada um género de alterações climáticas líquidas para os mais ricos. A indústria da água engarrafada nunca foi tão forte como nos dias de hoje, sendo que as empresas que vendem estas águas premium garantem que tem “benefícios para a saúde”, sendo a alcalinidade um dos fatores chave. Este setor encontra-se em rápido crescimento nos Estados Unidos da América, estando avaliado em 18,5 mil milhões de dólares (16,5 mil milhões de euros).

Extraídas a 914 metros de profundidade no Havai, de fontes nas ilhas Fiji ou polvilhadas com ouro. São assim algumas das águas engarrafas mais caras do mundo, e até podem justificar o preço porque quanto mais obscura a origem, a preparação elaborada, ou os seus benefícios para a saúde, a água torna-se mais cara, indica o ‘The Guardian’.

Estes preços exorbitantes podem estar relacionados com a escassez de água que se está a registar em alguns locais do mundo, que deverá vir a afetar dois terços da população mundial até 2025. A poluição do plástico, para o qual as garrafas descartáveis contribuem, é também uma questão que os especialistas criticam na escolha pela água engarrafada.

Água engarrafada vs. água da torneira

Um dos pontos que o jornal considera cruciais é o facto de a água engarrafada não ser superior à água da torneira. Em Portugal, a água de torneira na maioria do país tem registado elevados níveis de qualidade, segundo a análise feita anualmente pela Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR).

Num recente estudo psicológico e social sobre escolhas de consumo de água, os pesquisadores Stephanie Cote e Sarah Wolfe afirmam que a ansiedade humana relacionada com a morte pode levar os consumidores  a rejeitarem um “comportamento ambientalmente sustentável”, segundo o The Guardian.

“As lembranças da morte aumentam a exploração egoísta dos recursos naturais pelos seres humanos”, indica Sarah Wolfe, ao explicar que quando os humanos consideram a morte iminente, as decisões irracionais começam a surgir. A cientista indica que as pessoas pensam, inconscientemente: “Como é que o planeta pode estar a morrer se eu estou a segurar uma garrafa de água imaculada? Como é que eu posso estar a morrer se estou a tomar decisões saudáveis?”

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