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‘AI-First Mindset’ na banca: É preciso “embeber a IA na vossa estratégia”, diz CIO da OutSystems

Convidado pelo JE para explorar o papel funcional da IA na transformação dos negócios – não é apenas uma ferramenta nem mais um projeto dos sistemas de informação, sublinhou -, Tiago Azevedo defendeu no Fórum Banca 2025 que a “inação não é, de todo, uma opção”.
12 Março 2025, 16h33

O setor financeiro nacional – representado por cinco bancos e os respetivos três mil milhões de euros de lucros no ano passado -, fez-se ouvir, esta quarta-feira, em mais um Fórum Banca do Jornal Económico (JE). As fusões no setor bancário, que deverão crescer este ano por efeito do relatório Draghi, estiveram no centro da discussão dos CEOs do BCP, Santander Totta, BPI, Crédito Agrícola e Banco Montepio, no primeiro painel da conferência. Sobre Inteligência Artificial (IA) pouco se disse, lamentou Tiago Azevedo, CIO (chief information officer) da OutSystems.

Convidado pelo JE para explorar o papel funcional da IA na transformação dos negócios – não é apenas uma ferramenta nem mais um projeto dos sistemas de informação, sublinhou -, o antigo executivo da REN defendeu que a “inação não é, de todo, uma opção”.

“Como é que introduzimos IA na definição da estratégia das próprias empresas?”, questionou Tiago Azevedo perante uma casa cheia, antes de apresentar várias propostas de ação que, pela ordem das coisas – ou do programa da conferência – não chegaram aos destinatários em tempo real. “Tantas dicas e aberturas que foram deixadas da conversa anterior para este tema e foram-se todos embora”, notou.

“A IA (em particular a era generativa) é, sem dúvida, a mega-tendência mais impactante que estamos a ver no mercado. Mas a IA não é apenas uma ferramenta; não é mais um projeto dos sistemas de informação. Está intimamente ligada com a forma como se compete e com a forma como se cria valor”, afirmou o executivo da empresa de software portuguesa.

“Tudo começa pela forma como criamos o que se chama IA-First Mindset: pensar em criar mecanismos de criação de valor com IA em primeiro lugar”, afirmou.

“Mais do que criar segmentação de clientes, estamos a falar na perspetiva de enderençar experiências altamente personalizadas no contacto com os clientes”, explicou. E a realidade é que por trás da IA está um mundo onde basicamente tudo é possível.

“Ouvimos falar de eficiência. Mas, nos tempos que correm, já percebemos que a oportunidade vai muito além da eficiência e vai mesmo para novas formas de criação de valor. Estamos muito habitados a pensar em automatizar uma série de processos na perspetiva de ganhar essa eficiência. Mas a realidade é que, hoje em dia, a IA está por detrás da maior parte das tomadas de decisões em organizações que são altamente ricas do ponto de vista de informação”, analisou.

Passando pelas questões regulatórias, Tiago Azevedo falou em prevenção. “Com a IA conseguimos prever eventuais bridges de segurança muito antes de eles sequer acontecerem. Em vez de andar a responder aos tais pedidos de regulação, é antecipá-los antes que eles cheguem até nós. A conversa não é sobre se a IA vai substituir os humanos, mas sim como é que ela vai tornar os humanos em autênticos super-heróis com a capacidade de tomar decisões muito rapidamente que têm por base a análise de milhares de pontos e de data points e de informação muito difícil de assimilar pelo ser humano e utilizá-las na forma como tratam, aconselham e gerem os seus próprios clientes”, continuou o CIO da OutSystems.

Dirigindo-se à indústria financeira, Tiago Azevedo desafiou as respetivas lideranças a considerarem alguns pedidos de ação, que passou a listar: “a primeira é, efetivamente, embeber a IA na vossa estratégia”. “Pensar em formas personalizadas de criação de valor, não só do ponto de vista comercial, mas também do ponto de vista de atenção ao cliente”, “investir em experiências de aconselhamento aos clientes altamente especializadas e suportadas por IA” e “criar uma organização que esteja capaz de abraçar esta vaga”, acrescentou.

A IA vai substituir os seres humanos? A esta questão, que poderá ser a sucedânea no tempo, por um lado, e a equivalente no que à divergência de opiniões diz respeito, da dos limites do humor, Tiago Azevedo parece seguro: “acredito piamente que a IA não vai substituir os seres humanos”, mas sim “torná-los verdadeiros super-heróis, cheios de poderes, de tomar decisões num espaço de tempo muito curto”.

Dos pedidos de ação passou para três ideias que, segundo o próprio, ajudarão as organizações a transitarem “para a verdadeira criação de valor”.

“Adotar um processo verdadeiramente lean de inovação, começando pequeno, tendo ambições grandes e iterar sobre aquilo que se chama tipicamente minumum viable product milhares de vezes à medida que se vai crescendo. Temos visto muitas organizações a quererem abraçar este potencial de um dia para o outro e, depois, a falharam redondamente nos primeiros passos”

“O segundo ponto é focar na parte da informação e dos dados. A IA está a colocar imensa pressão nas organizações sobre a qualidade da informação”, que é o que “vai estar na riqueza da inteligência destes sistemas”.

“Por último, pensar numa perspetiva end-to-end, e não domínio a domínio”. “Pensar domínio a domínio é como segmentar um cérebro humano aos bocadinhos e isolar o conhecimento entre eles. A capacidade de correlação de informação entre diferentes fontes de conhecimento é, no fundo, a riqueza que está por trás da inteligência”, finalizou.

A edição de 2025 do Fórum Banca do Jornal Económico teve lugar no Hotel da Lapa, em Lisboa, esta quarta-feira. Joaquim Miranda Sarmento, ministro das Finanças, e Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, abriram e encerram, respetivamente a conferência do JE,

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