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“Ainda há preconceito contra as mulheres que lideram empresas”

Na atividade profissional de ‘coaching’, Mafalda Almeida promove sobretudo a autoconfiança e a autoestima das mulheres. Mas, para além das barreiras psicológicas, acrescem vários obstáculos externos como o preconceito e a desigualdade salarial.
24 Agosto 2019, 17h00

Em que consiste a atividade de coaching para o desenvolvimento feminino?
Podemos dizer que o coaching para o desenvolvimento feminino consiste no acompanhamento e desenvolvimento de projetos no âmbito pessoal ou profissional, no panorama da realidade das mulheres. Um/a coach que se dedique a este nicho de mercado deverá facilitar às suas clientes ferramentas que as façam pensar fora da caixa, com foco no pensamento criativo e em soluções que as ajudem a chegar mais longe e atingirem os mais diversos objetivos a que se proponham. De facto, no que diz respeito à realidade empresarial e profissional, as mulheres enfrentam diariamente bastantes desafios externos e internos, estes últimos por vezes muito mais limitadores do que os externos.

 

O que procuram as suas clientes e seguidoras? Quais são as principais motivações e preocupações?
A questão que se prende com o tema “progressão de carreira profissional”, bem como o desenvolvimento das capacidades de liderança, onde podemos incluir a melhoria da assertividade, autoconfiança e organização de ideias e estratégias. Estas são duas das principais razões que levam as minhas clientes a recorrer aos meus serviços de coaching e mentoria. Também existem cada vez mais casos de clientes que desejam mudar os seus rumos profissionais e implementar negócios próprios numa realidade empreendedora. Quem recorre aos meus serviços, procura, acima de tudo, um acompanhamento personalizado de alguém que tem as perguntas e as ferramentas certas e ajustadas às diversas fases e contextos das nossas vidas. As minhas clientes deparam-se muitas vezes com impedimentos próprios, que têm origem numa fraca gestão das suas vozes interiores e da sua intuição. Saber ouvir as mensagens que transmitimos a nós mesmas, e saber interpretá-las, é fundamental no processo de melhoria da nossa autoconfiança. E isso na grande maioria das vezes é esquecido. A transformação da comunicação interior, com consequentes melhorias no desempenho, confiança e autoestima, é um tema bastante trabalhado nas sessões de coaching que desenvolvo. Tudo depende do objetivo de cada cliente e, sobretudo, da intenção e dos valores que se encontram por detrás desses objetivos.

 

Considera que há características inerentes à liderança executiva feminina que a distinguem da masculina, ou o mais importante é a personalidade e a capacidade de cada pessoa, independentemente do respetivo género?
Sim, sem dúvida que existem dois estilos predominantes no que diz respeito à liderança: o estilo de liderança feminino e o masculino. Ambos têm características positivas e negativas. Obviamente que diferem também muito devido à capacidade, carisma, e personalidade de cada um. No entanto, existem traços comuns às mulheres e outros comuns aos homens que lideram. A chave aqui é aproveitar o melhor que cada género tem a dar no momento em que ocupa algum cargo de middle ou top management. As mulheres poderão ter um estilo de liderança mais sensorial, admitindo alguma atenção às emoções. Isso é positivo porque de facto existem coisas que só conseguimos ver com as nossas emoções e, acima de tudo, dando ouvidos à nossa intuição e ao nosso sexto sentido. Os homens poderão liderar mais com a razão, com a cabeça, o que é muito positivo por exemplo nos momentos de tomada de decisões mais desafiantes. A chave aqui não é moldar as mulheres no sentido de adquirirem características masculinas para liderar, nem vice-versa. A chave aqui é ter a preocupação de melhorar sempre, todos os dias, e de dar o exemplo. A chave é ser humilde o suficiente para admitir que é necessário estar sempre a aprender e a trabalhar no sentido de melhorar capacidades e adquirir outras.

 

Quais são os maiores obstáculos que as mulheres enfrentam no plano profissional?
Penso que o maior obstáculo se encontra no interior de cada mulher. A gestão dos diálogos internos, a conversão de mindset (foco na solução e não no problema, assumir e potenciar ainda mais os pontos fortes de cada uma), o saber dizer “não”, estes são alguns exemplos de obstáculos que as mulheres poderão enfrentar e que dizem respeito somente a si mesmas. Esta é a boa notícia: isso pode mudar, trabalhando no sentido de reverter alguns hábitos de pensamento, trocando-os por outros mais benéficos. Depois, podemos encontrar os obstáculos externos, nomeadamente o preconceito contra as mulheres que lideram empresas, equipas ou áreas de negócio. Sei de bastantes casos, demasiados, em que as mulheres ainda têm de lutar muito por ganhar o respeito das equipas masculinas (ou maioritariamente masculinas) que lideram. Sei também que existem situações que se prendem com as desigualdades salariais, o que desmotiva e revolta algumas clientes. Ainda temos um longo caminho a percorrer no que diz respeito a este tema.

 

A conciliação entre a vida profissional e pessoal das mulheres em Portugal tem melhorado nos últimos anos? Que mudanças é que destaca nesse âmbito?
Atrevo-me a dizer que o tema “conciliação entre vida profissional e pessoal” é algo que infelizmente não existe. O worklife balance neste momento é algo muito embrionário na sociedade portuguesa. As mulheres comprometem o tempo que deveriam ter para elas mesmas a favor de mais horas de trabalho dedicadas à possibilidade de uma promoção profissional, por exemplo, ou em prol da família que estão a criar. Ao nível de prioridades, ficam quase sempre para último lugar, e isto obviamente que a médio e longo prazo compromete a sua autoconfiança e autoestima.

 

No seu livro [“Veja em si a melhor mulher do mundo”] centra-se sobretudo na promoção da autoconfiança das mulheres. Será suficiente para superar os obstáculos, ou ainda há um longo caminho a percorrer ao nível social, das políticas públicas, da organização empresarial…
O meu livro pretende acima de tudo proporcionar ferramentas que ajudem as leitoras a pensar sobre a sua realidade e a traçar um plano de melhoria. Existe sempre espaço para melhorar algo na nossa vida e foi nesse sentido que o livro foi desenvolvido.

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