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Alemanha. Grande coligação vai ter de negociar com oposição mudanças no travão da dívida

Analistas apontam que das eleições deverá nascer uma coligação entre conservadores e sociais-democratas, mas sem dois terços do Bundestag vão ter de negociar com outros partidos mudanças ao travão da dívida.
Bloomberg
24 Fevereiro 2025, 13h20

Uma grande coligação entre os conservadores da CDU/CSU e os sociais-democratas do SPD é o cenário mais provável na Alemanha pós-eleições, acreditam diversos analistas.

Esta alianção do centrão – conhecida por Grosse Koalition – é normal na Alemanha, tendo acontecido mais recentemente durante a liderança de Angela Merkel.

Mas por não controlarem dois terços do Parlamento, o Bundestag, esta grande coligação vai ter de negociar com outros partidos alterações ao famoso travão da dívida, o schuldenbremse.

Com mais de 80% dos eleitores a dirigirem-se às urnas, a CDU/CSU venceu o escrutínio (28%), seguido da extrema-direita da AfD (21%), do SPD (16%), dos Verdes (12%), a Esquerda (9%), BSW (5%) e FDP (4%).

Os mercados já reagiram esta manhã. O euro atingiu um máximo de um mês: 1,0528 dólares.

Já a bolsa de Frankfurt (Dax) ganha menos de 1% na negociação esta segunda-feira, com a Rheinmetall a ganhar 4%, e a E.ON, Vonovia, Commerzbank e RWE a negociarem pertos dos 3%.

“Uma vez que o FDP e o BSW não conseguiram entrar no Bundestag, é de esperar que se forme uma coligação CDU/CSU-SPD (SPD = sociais democratas)”, segundo Christoph Berger  da Allianz Global Investors (AllianzGI) que espera que Friedrich Merz seja o novo chanceler.

Mas uma reforma do travão da dívida exige uma maioria de dois terços no Bundestag, o que “significa que esta coligação teria de contar com o apoio da oposição ou utilizar outros meios, como “fundos especiais”, para fazer arrancar investimentos importantes para o futuro. Por conseguinte, agora vão ser necessários compromissos. Durante a campanha eleitoral, o atual presidente da CDU e possível novo chanceler, Friedrich Merz, fez campanha por um programa favorável às empresas, com impostos mais baixos, menos regulamentação e menos benefícios sociais. Contudo, é preciso também olhar para os objetivos do SPD. O seu programa eleitoral colocou especial ênfase na justiça social, no investimento na educação e na infraestrutura, bem como na redução dos custos energéticos. Os pontos em que as partes vão convergir são, por agora, pura especulação”, segundo o analista.

A Allianz GI considera que há várias áreas que vão beneficiar de uma grande coligação: como os investimentos em infraestrutura, o que pode beneficiar as empresas de construção, energia e infraestruturas.

A aposta nas energias renováveis é uma das bandeiras do SPD, e a CDU também apoia medidas para o sector. Já a modernização do sistema educativo e o investimento na digitalização são prioridades para ambos os partidos.

Por outro lado, aponta a Allianz GI, o SDP tem mais foco na justiça social, o que “pode levar a maiores despesas sociais e a uma maior regulação do mercado de trabalho. Este é um aspeto menos favorável ao mercado de capitais e resta saber até que ponto a CDU concordará com isto. E quando se trata de política externa, as sobreposições entre a CDU e os Verdes parecem ser maiores do que aquelas entre a CDU e o SPD”.

Para Ben Ritchie da Abrdn, o resultado torna a reforma do travão da dívida “improvável”, com os maiores partidos dependentes, com o Die Linke a ser uma possibilidade para um acordo. “Mas muito depende das negociações sobre a coligação e se Merz vai ser capaz de inovar em políticas que conduzam a reformas pró-negócio e estabelecer financiamento para apoiar gastos da defesa, apoio à Ucrânia e política energética”.

Já os analistas do XTB apontam que “ tudo aponta para uma coligação entre a CDU e o SPD“, pois Friedrich Merz exclui a possibilidade de cooperar com o AfD. “A coligação entre a CDU e o SPD – parece ser a alternativa mais viável, pelo menos a curto prazo, e, provavelmente, positivo tanto para o euro como para o DAX, o principal índice bolsista alemão”.

Analisando o cenário pos-eleições, Ricardo Evangelista do ActivTrades sublinha que os “mercados financeiros receberam os resultados das eleições alemãs com um otimismo moderado. O desfecho esteve em linha com as projeções, sem surpresas — um primeiro sinal positivo para os investidores que valorizam a previsibilidade. Outro fator encorajador é a composição final do Bundestag, que permite às duas forças centristas, CDU e SPD, formar uma coligação maioritária, evitando uma negociação tripartida que tenderia a ser mais complexa e demorada”.

O analista considera que “há também motivos de preocupação”,  pois aumentar o teto da dívida alemã exige dois terços de maioria no Parlamento e este é um “passo crucial para financiar o reforço dos investimentos em defesa e infraestruturas”.

“Isso significa que será necessário negociar o apoio dos partidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita, sendo que ambos já se mostraram estar em desacordo com tais medidas, o que antecipa um processo de negociação desafiante. Neste contexto, os investidores reagiram aos resultados eleitorais com algum alívio e até um ligeiro otimismo. O índice alemão DAX abriu em alta, assim como o Euro Stoxx, que reúne empresas europeias. Entretanto, o euro valorizou face ao dólar, e os juros dos Bunds alemães caíram devido ao aumento da procura, especialmente nos títulos de longo prazo”, segundo o CEO da ActivTrades Europa.

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