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Alemanha: Scholtz pede cerca sanitária face ao AfD mas não escapa a fortes críticas

As eleições ficam marcadas pelo facto de terem sido realizadas muito pouco depois dos acontecimentos em Solingen. Mas os críticos afirmam que a coligação do governo federal já não tem resposta satisfatória para dar aos alemães.
Filipe Singer/EPA via Lusa
2 Setembro 2024, 19h12

O chanceler alemão, Olaf Schultz, optou, quando aceitou comentar as eleições regionais deste fim-de-semana no leste do país, por repetir a resposta do presidente francês Emmanuel Macron, quando este se viu confrontado com o crescimento da extrema-direita: invetivou os restantes partidos a não aceitarem qualquer tipo de coligação com os extremistas, explicou que qualquer cedência nessa frente seria colocar em causa a democracia e tratou de esquecer o que são possivelmente as suas próprias culpas nesta deslocação do eleitorado para os extremos.

Os resultados deste discurso – já tentado em vários países da União Europeia, Portugal incluído – têm dado sinais diferentes, como são os exemplos de Itália – onde a extrema-direita se consolidou no poder e tem vindo a ‘reescrever’ o seu posicionamento (face à União e à NATO, por exemplo) – e dos Países Baixos, onde os extremistas, tendo ganho as eleições, já desistiram de formar governo.

Em França, o presidente está bloqueado entre as várias frentes políticas e não consegue encontrar uma solução. Schultz não está no mesmo ‘aperto’ pela simples razão que as eleições gerais serão só no próximo ano e os alemães têm a tendência para castigar quem não leva (ou que não permite que se leve) as legislaturas até ao fim. Mas as críticas ‘chovem’ de todos os lados – e têm um veio comum: o governo de coligação entre social-democratas, liberais e verdes atirou o país para a recessão e não tem soluções para apresentar aos alemães.

O analista Nikolaus Blome afirma, citado pelo jornal “Die Spiegel”, que o chanceler não conseguiu aprender nada com as sucessivas derrotas que vai averbando nas regiões que têm entrado em processo eleitoral – ou talvez mesmo antes disso. “Os líderes social-democratas não quiseram aprender nada com Solingen e não aprenderão nada com as eleições na Turíngia e na Saxónia. Para o partido, o fim vem do Oriente”. Solingen? É a pequena cidade onde um sírio de 26 anos matou três pessoas, em 25 de agosto. Foi há pouco mais de uma semana, e como nota Blome, não havia forma de o ataque islâmico deixar de influenciar as eleições. Foi o que aconteceu – e inesperadamente tanto à direita como à esquerda: para a além dos extremistas do AfD, o novo partido de esquerda (um spin-off do Die Linke) que é também contra a imigração e tem dúvidas sobre a multiculturalidade, ‘arrasaram’ as eleições.

Para o analista, não chega Olaf Schultz vociferar contra a extrema-direita. Num contexto onde a economia ainda não arrancou – e será muito difícil que venha a arrancar até ao final do ano – e a insegurança se instalou, o atual governo já não tem nada para oferecer aos alemães. “Quem quer que tenha visto o alívio satisfeito de muitos políticos do SPD por não terem sido expulsos dos parlamentos estaduais deve duvidar” que o partido tenha aprendido a lição. E repetir a mensagem ‘estafada’ e pouco eficaz de Emmanuel Macron também não parece ser a melhor ideia.

De qualquer modo, os resultados de domingo beneficiam o líder da CDU, Friedrich Merz: vários analistas disseram que os resultados sugerem que, sob a sua liderança – mais conservadora que Angela Merkel relativamente aos problemas como a imigração – o partido tem hipótese de não sofrer uma debandada para a extrema-direita, se em causa estiverem estes temas sensíveis. E, embora ainda faltem algumas semanas para que os Estados formem os seus governos, é provável que tanto a Turíngia como a Saxónia sejam lideradas por um governador da CDU, o que daria ao partido mais poder em Berlim – por via do Conselho Federal dos Estados, que agrega os líderes estaduais.

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