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“Alívio está longe de ser uma solução”, realça economista Pedro Brinca sobre apoios ao crédito à habitação

Em entrevista ao JE, o economista e professor na Nova SBE, Pedro Brinca, traça um cenário de grandes dificuldades para as famílias e que sobre a bonificação dos juros, “o alívio será sempre uma ajuda, mas longe de ser uma solução”, tendo em conta que para muitas famílias as prestações já poderão ter duplicado.
22 Setembro 2023, 09h03

O Governo aprovou esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, as medidas que têm como objetivo amenizar a subida das taxas de juro no crédito à habitação própria e permanente, que passam por proporcionar uma estabilidade na prestação do crédito à habitação e ainda alargar a atual bonificação de juros.

Crédito à habitação. Como funciona a redução e estabilização das prestações e bonificação dos juros?

Em entrevista ao JE, o economista e professor na Nova SBE, Pedro Brinca, traça um cenário de grandes dificuldades para as famílias e que sobre a bonificação dos juros, “o alívio será sempre uma ajuda, mas longe de ser uma solução”, tendo em conta que para muitas famílias as prestações já poderão ter duplicado. Quanto à fixação da taxa Euribor, este economista realça que “seria importante perceber se esse diferimento será sujeito a juros”.

Estas medidas surgem numa altura de grande dificuldade para que tem créditos à habitação

As medidas anunciadas já eram largamente antecipadas, uma vez que havia uma perceção generalizada de que as medidas produzidas pelo Governo para quem tem crédito à habitação teriam sido manifestamente insuficientes. Aliás, foi o próprio primeiro-ministro que o admitiu recentemente. E existem muitas pessoas que estão realmente em dificuldades. Antes da subida das taxas de juro, tínhamos cerca de 18 a 20 mil famílias com taxas de esforço acima dos 35%. No fim de 2022, tínhamos já 70 mil famílias com taxas de esforço superior a 50%. Junte-se a isso a perda real do poder de compra e podemos ficar com uma ideia das dificuldades com que muitas famílias se estão a deparar.

O alargamento da bonificação dos juros poderá ser uma ajuda?

Relativamente às novas medidas, temos o prolongamento da isenção de penalizações por amortizações antecipadas, e que terá contribuído para os seis mil milhões de créditos que já foram amortizados. A medida que vai alargar a base que beneficiará da bonificação dos juros também poderá ser uma ajuda adicional para muitas famílias, já que poderá atingir os 100% do montante de juros acima dos 3%. O limite superior foi aumentado para 800 euros, mas é bom lembrar que para fazer face a uma prestação que em muitos casos poderá ter duplicado, o alívio será sempre uma ajuda, mas longe de ser uma solução.

E relativamente à fixação da taxa Euribor?

A medida da fixação da taxa é um pouco confusa. Na comunicação do conselho de ministros, é dito que o montante diferido pela diminuição da prestação calculada agora com base em 70% da Euribor a seis meses para daqui a seis anos, será amortizado no remanescente da maturidade do empréstimo. Mas seria importante perceber se esse diferimento será sujeito a juros. Se sim, a medida tem pouco impacto uma vez que vamos fixar a taxa numa altura em que o consenso é que ela atingiu o pico. Se não, alguém terá de pagar esses juros. Seria racional a todas as pessoas que têm crédito à habitação aderir à medida, quanto mais não seja para amortizarem o capital em divida de forma imediata, e assim poupar em 6 anos de juros sobre a diferença entre a prestação que seria paga sem a medida e a que será efetivamente paga.

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