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Analistas temem contágio do SVB, mas sublinham especificidades do banco

O colapso do banco de investimento gerou pânico nos mercados, apesar das medidas desenhadas pela Reserva Federal para proteger os depósitos, com os analistas a sublinharem as diferenças em relação à generalidade das instituições financeiras.
Andrey Rudakov / Bloomberg
13 Março 2023, 15h15

Os analistas começam já a projetar os próximos passos depois do colapso do Silicon Valley Bank (SVB), a instituição financeira norte-americana que fechou portas esta fim-de-semana depois de uma corrida aos depósitos causada por perdas assinaláveis na operação do banco. As mudanças nas expectativas quanto ao ciclo monetário são das reações mais evidentes, mas várias outras previsões têm surgido.

O SVB completou uma extraordinária desvalorização este fim-de-semana com a suspensão da atividade do banco pela Reserva Federal, que se apressou a desenhar mecanismos para assegurar os depósitos aos clientes, incluindo os acima de 250 mil dólares.

Mário Martins, analista da ActivTrades, começa por explicar o que levou ao colapso: à semelhança da generalidade de eventos desta natureza, a culpa reside num “erro de gestão”, considera.

O banco em causa “detinha mais de 50% do seu capital em obrigações”, posição que se complicou com a subida de juros da Fed e que levou a desvalorizações consideráveis nesta vertente. Para as colmatar, o SVB optou por vender um portfólio em torno dos 21 mil milhões de dólares (19,6 mil milhões de euros), incorrendo assim em perdas de 1,8 mil milhões de dólares (1,7 mil milhões de euros) nestes ativos.

Apesar de ter chegado a apalavrar um acordo com a Generali para angariar parte dos fundos de que necessitava, “a queda a pique do valor dos títulos em apenas dois dias, assim como o ruído que se instalou à volta do banco, acrescido da corrida aos depósitos por muitos clientes, fez abortar o negócio e a venda das ações”, levando ao encerramento do banco.

Esta é a segunda maior falência de um banco norte-americano na história, a seguir ao Lehman Brothers, em 2008, e ecoa medos dessa altura. O banco ING sublinha que o SVB era “um outlier” em muitos aspetos, atuando fora do espetro tradicional da banca, ao servir sobretudo para financiar start-ups tecnológicas; no entanto, “isto não quer dizer que não haja outros SVBs por aí”, pelo que risco de novas quedas, apesar de diminuto, é real.

Uma das reações mais rápidas prendeu-se com a atualização de expectativas quanto ao ciclo monetário nos EUA: se os investidores atribuíam forte probabilidade, na quarta-feira passada, de uma subida de 50 pontos base (p.b.) na reunião de 22 de março, esse cenário é agora visto como tendo probabilidade zero; pelo contrário, instituições como a Goldman Sachs projetam mesmo que os juros não subam este mês, permitindo à Fed avaliar os efeitos do colapso e sinalizar ao mercado a sua sensibilidade à crise.

“Com a criação de uma nova facilidade para fornecer liquidez aos bancos, a ação da Fed deve acalmar os nervos no imediato, mas as preocupações vão persistir”, avalia Greg Hirt, diretor de Investimento Global em Multiativos da Allianz Global Investors (AllianzGI). A ação do regulador deve “reduzir substancialmente o risco de um efeito dominó e um ciclo vicioso de vendas”, mas o sector continuará “sob pressão”, sobretudo nos EUA, dada a sua exposição ao imobiliário.

Para o analista da AllianzGI, “o incidente com a SVB realça a fraqueza do sistema financeiro global num ambiente de curvas de yield invertidas”, apesar de, neste caso, ser também relevante o peso da grande alavancagem do sector tecnológico na banca.

Apesar de esperar novos movimentos com perdas nos balanços dos bancos norte-americanos, a DBRS mostra-se confiante que as instituições na sua análise “serão capazes de absorver estas potenciais perdas através dos fortes resultados e almofadas de capital”.

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