Angola tem em curso um ambicioso programa de privatizações mas existe um novo paradigma no país que deve ser ultrapassado e que passa pelo afastamento do Estado angolano do sector privado. Estas foram algumas das ideias fortes deixadas na conferência “Doing Business Angola”.
O evento organizado pel’O Jornal Económico e a Forbes África Lusófona, que se realizou esta terça-feira em Lisboa com o objetivo de reunir alguns dos mais importantes atores do ecossistema económico e político de Angola, serviu para abordar alguns dos temas relevantes da vida económica angolana. Veja ou reveja esta conferência através desta transmissão da plataforma multimédia JE TV.
N’Gunu Tiny, fundador do Grupo Media Nove, abriu a conferência e colocou a tónica na convicção de que Angola precisa de um sector privado forte. “este país tem que ter um sector privado forte e esse é um argumento de racionalidade económica. São esses que investem a médio/longo prazo. Há aqui um alinhamento de expectativas e de interesses”, realçou.
Evidenciando a forte relação económica e comercial luso-angolana, Luís Rebelo de Sousa, administrador da AICEP Portugal Global, referiu acreditar que Portugal poderá ser um importante parceiro na futura entrada na Europa de bens produzidos com o selo feito em Angola. Por outro lado, Ivan Marques dos Santos, secretário de Estado para a economia de Angola, apresentou a visão política sobre o desenvolvimento da economia angolana. A estratégia de longo prazo “Angola 2050” e o plano de desenvolvimento nacional 2023-2027 são a base desta visão.
João Traça, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola, apelou os empresários portugueses a aproveitarem o atual cenário que o país lusófono africano vive para investirem a longo prazo no país, embora reconheça existirem desafios e paradigmas económicos diferentes entre Portugal e Angola.
Privatizações e um programa ambicioso
Augusto Kalikemala, administrador executivo do IGAPE – Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado, apresentou o programa de privatizações a levar a cabo pelo governo angolano nos próximos anos. O programa é vasto, abrangente e inclui empresas de todos os sectores de atividade, com destaque para as infraestruturas, logística, transportes, seguros e empresas como Sonangol, Unitel, SGA, gestora de aeroportos, e até o BFA e a TAAG.
Sonangol, Unitel, BFA e Endiama são “empresas estratégicas” que “vão atrair muito interesse” (programa conta com 67 ativos por privatizar até 2026), enalteceu Paulo Trindade Costa, partner da Vieira de Almeida no painel “Privatizações: efeitos e perspectivas” moderado por Filipe Alves, diretor do JE. No mesmo painel, Indira Campos, Angola Country Manager do International Finance Corporation, recordou que há um “novo paradigma” que existe um “afastamento” do Estado angolano do sector privado. Os investidores estrangeiros que estão interessados no programa de privatizações em Angola esperam encontrar padrões internacionais nos procedimentos de venda dos ativos públicos, destacou Hugo Moredo Santos, sócio da sociedade de advogados Vieira de Almeida, no mesmo painel.
A experiência dos grupos empresariais em Angola foi tema de conversa entre três grandes nomes do mercado. Numa conversa moderada por Nilza Rodrigues, diretora da Forbes Portugal e Forbes África Lusófona, José Carlos Pinto Nogueira, CFO da Mota-Engil, esteve acompanhado por Diogo Caldas, CEO da Refriango, e Rui Miguel Nabeiro, CEO do grupo Nabeiro-Delta Cafés.
“Angola é um país de oportunidades para os mais atentos. É preciso estar atento para executar e reagir. Aquilo que a Refriango faz é trabalhar para os angolanos e adaptamo-nos na cultura local. É isso que nos diferencia”, apontou o CEO da Refriango.
Na mesma linha de pensamento, o CEO do grupo de Campo Maior, Rui Miguel Nabeiro, foi perentório em garantir que “a Angonabeiro é uma empresa extremamente importante para o nosso grupo”, isto para espelhar o peso da participada angolana. Rui Miguel Nabeiro socorreu-se do legado do Comendador Rui Nabeiro (cuja vida e obra foi homenageada neste evento como figura importante também para a lusofonia no contexto empresarial) para dizer que “sempre ouvi o meu avô dizer que se nós existimos é por causa de Angola. Sempre ouvi o meu avô dizer que Angola é a razão da nossa existência e subsistência hoje.
Angola: sectores que potencial e apoiam o desenvolvimento
Para perceber o tecido empresarial angolano, a conferência juntou Ângelo Gama, PCE da Angola Cables; Carlos Firme, PCE da Fortaleza Seguros, Luís Lelis, PCE do BAI e Miguel Geraldes, PCE da Unitel.
O CEO do BAI, S.A. Angola, Luís Léllis, afirmou nesta conferência que a consolidação no sector bancário angolano terá que ser uma realidade, dando como exemplo a realidade da África do Sul. Além disso, este responsável considerou que expandir o negócio por via de aquisições não está nos planos da instituição no período 2022/2027: “Não prevemos nem comprar, nem fazer fusões ou aquisições. Não consta do plano estratégico”. O BAI opera em Portugal através do BAI Europa, estando presente em Lisboa e no Porto, tem um banco em Cabo Verde e uma participação de 25% em S. Tomé e Príncipe. “O BAI Europa tem uma vantagem competitiva de como fazer negócios em Angola”, destacou Luís Léllis.
O sector das telecomunicações também é fundamental como base no crescimento económico e nesse sentido, Miguel Geraldes, CEO da Unitel, empresa de telecomunicações angolana, destacou a forma como estas infraestruturas. “A nossa fibra ótica cobre 14 mil quilómetros, atravessa todas as estradas, de alto nível mundial. Não perde em comparação com Portugal ou outros países. Não é comum na região. Isso dá uma base de infraestrutura para o país que é relevante”, explicou, recordando o lançamento da rede 5G no passado no país. “Em base de telecomunicações, conseguimos entregar ao país o que é expectável”, sublinhou, admitindo que “a evolução dos preços nos últimos anos foi dramática para o desafio [da empresa], porque criou uma elasticidade na utilização da rede”, explicou.
Ângelo Gama, CEO da Angola Cables, multinacional angolana de telecomunicações, revelou que a empresa está à beira de conseguir mais uma vitória: vender o primeiro software desenvolvido em Angola. “Estamos quase, quase, quase, a fazer a nossa primeira venda de um software desenvolvido por Angola para uma multinacional, neste caso americana”, afirmou o gestor.
Carlos Firme, PCE da Fortaleza Seguros, afirmou que a proteção das pessoas “é um tema crítico em Angola”, reconhecendo que ainda há “um longo caminho a percorrer que não está dissociado da própria evolução económica e da maior capacidade das famílias em ter possibilidade de aceder aos seguros, em particular o seguro de saúde”, explicou.
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