A consultora EXX Africa considerou este domingo que Angola só vai conseguir aumentar as receitas através de ajuda financeira multilateral ou venda de ativos petrolíferos, depois da recusa dos EUA em aumentar o envolvimento financeiro.
“Os Estados Unidos tornaram-se relutantes em envolver-se mais em Angola e os seus investidores têm preferido manter-se longe do setor bancário e das privatizações”, lê-se na nota de análise à visita do secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo a Luanda.
No documento, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, o analista Robert Besseling escreve que “só parece haver duas maneiras possíveis para Angola aumentar as suas receitas, que são a assistência multilateral e a venda de ativos petrolíferos”, já que “Angola esperava mais investimento norte-americano nos setores do gás e petróleo como alternativa aos empréstimos chineses”.
A análise da consultora surge poucos dias depois da visita do governante norte-americano a Luanda, na qual elogiou o esforço reformista do Governo e a campanha contra a corrupção.
Para a EXX Africa, estas soluções, no entanto, trazem o perigo de um aumento da austeridade defendida pelo FMI, por um lado, e pela possibilidade de elementos da elite política angolana serem beneficiados nas privatizações, afastando os investidores internacionais.
“O FMI está a defender mais cortes na despesa e reformas económicas mais substanciais”, lê-se no comentário, que aponta que “o Governo está a tentar atrasar as reformas dolorosas do FMI, apesar de as perspetivas de um acordo com a família do antigo Presidente parecer improvável”.
Por outro lado, acrescentam os analistas, “apesar de a campanha anticorrupção ser altamente popular no país, à medida que as condições de vida se degradam, a inflação sobe e os orçamentos são cortados, a confiança no Governo de João Lourenço deve, provavelmente, enfraquecer-se”.
Isto vai aumentar a pressão “para adicionar novos alvos à campanha anticorrupção, incluindo dirigentes do MPLA, ‘generais empresários’ influentes e o todo-poderoso triunvirato (Manuel Vicente, ‘Kopelipa’ e ‘Dino’), de cujo apoio Lourenço depende”.
Esta, no entanto, não deverá ser a opção do Executivo, que deverá apostar na venda de ativos energéticos através do programa de privatizações, a dispersão em bolsa de 30% da Sonangol e a venda da licença para explorar blocos petrolíferos.
“Nos próximos três anos, a Sonangol deverá vender muitos dos seus blocos nas bacias do Namibe e Congo, apesar de a produção estar a cair” nesta região, mas o interesse não deverá ser elevado, ao contrário do que pode acontecer com a privatização de 30% da companhia petrolífera nacional.
“Continua a haver grande esperança de que a venda de 30% da Sonangol possa ter mais sucesso, com as petrolíferas internacionais a avançarem para ativos vendidos a preço de desconto, mas a autoridade reguladora do setor tem mostrado pouca capacidade, até agora, de gerir a privatização parcial de uma das maiores empresas africanas”.
Isto, conclui a EXX Africa, “tem aumentado a suspeita de que as empresas locais próximas da elite política vão receber um tratamento favorável na venda”.
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