O procurador-geral da República, Hélder Pitta Grós, revela que Angola vai solicitar o apoio de países como Portugal, Inglaterra, Espanha e outros com os quais tem excelentes relações, para que a empresária angolana, Isabel dos Santos, e seus colaboradores de nacionalidade portuguesa sejam notificados na condição de arguidos. A revelação foi feita nesta quarta-feira, 22 de janeiro, em conferência de imprensa em Angola, um dia antes de Pitta Grós se reunir com a sua homóloga portuguesa, Lucília Gago, em Lisboa, na Procuradoria Geral da República. Segundo fonte oficial da PGR de Angola, o magistrado angolano irá pedir a cooperação judicial à PGR de Portugal no âmbito do inquérito crime que investiga em Angola a transferência de mais de 100 milhões de dólares da Sonangol para uma consultora do Dubai através do banco português EuroBic.
Segundo o Ministério Público de Angola, Isabel dos Santos é acusada de crimes de peculato, falsificação de documentos autênticos, abuso de poder, tráfico de influências e branqueamento de capitais.
Sobre a colaboração judicial com Portugal que abriu também já um inquérito às operações realizadas em Portugal, após denúncia da ex-eurodeputada Ana Gomes, as autoridades angolanas esperam o “empenho” de Portugal para o desfecho do processo, atendendo que o é dos locais onde a empresária mais intensificou os seus negócios. Citado pelo Jornal de Angola, Pitta Grós disse, ontem, apenas esperar que Portugal e outras entidades portuguesas tenham “o mesmo empenho e pré-disposição em apoiar Angola nesta batalha contra a corrupção”.
Angola admite captura internacional
O Procurador Geral da República angolano admite que, noutra fase, a emissão de um mandado de captura junto da Interpol e da Europol caso as autoridades portuguesas e de outros países não consigam notificar a empresária angola.
Aos jornalistas angolanos sinalizou ontem a emissão de um mandado de captura contra Isabel dos Santos e seus pares, caso não regressem ao país, de forma voluntária, para se defenderem em tribunal dos crimes de que são acusados.
“Usaremos todos os meios legais possíveis, inclusive solicitando a colaboração da Interpol e outras polícias internacionais caso Isabel dos Santos e seus pares não compareçam de forma voluntária ao país para se defenderem dos crimes que pesam sobre eles”, afirmou Pitta Grós, citado pelo Jornal de Angola, salientando, contudo, que não basta apenas ter o processo-crime instaurado para que se emita um mandado de captura internacional.
Como arguidos no processo de inquérito por suspeitas de desvios de fundos e má gestão na Sonangol, Pitta Grós apontou ainda os nomes dos colaboradores de Isabel dos Santos na Sonangol, nomeadamente Sarju Raikundalia, braço direito de Isabel dos Santos na Sonangol, que é suspeito de ter ordenado, após a sua exoneração da petrolífera, uma transferência – com a concordância da filha do ex-presidente – de cerca de 38,1 milhões de dólares para a Matter Business de Paula Oliveira, amiga próxima e sócia e Isabel dos Santos que é também arguida neste processo. A empresária angolana e o seu administrador financeiro na Sonagol terão assinado as ordens das transferências que estão sob suspeita da justiça portuguesa e angolana.
Na lista de arguidos do inquérito crime em Angola estão ainda Mário Filipe Leite da Silva, advogado da empresária angolana e seu principal gestor de negócios, que consta também, segundo o Luanda Leaks, como como diretor da empresa offshore sedeada no Dubai para onde terão sido transferidos 57,4 milhões de dólares, a 16 de Novembro, um dia após Isabel dos Santos ter saído da Sonangol.
A investigação revela que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana.
Outro arguido é Nuno Ribeiro da Cunha, direto do private banking do EuroBic e gestor de conta de Isabel dos Santos que validou a ordem de transferência da Sonangol para a empresa consultora no Dubai, e que foi encontrado morto na sua casa, em Lisboa, nesta quarta-feira, 22 de janeiro. Segundo a PSP, tratou-se de suicídio.
O Procurador Geral de Angola sublinhou, ontem, que estes cidadãos encontram-se a residir no exterior, gerindo empresas “só como fachada porque a beneficiadora final é Isabel dos Santos”.
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