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António Lobo Antunes: “Estou-me a lixar para o Nobel. Os prémios não melhoram os livros”

Conta com 19 prémios e com 37 obras literárias, todas escritas à mão. Em entrevista, o escritor português destaca a vantagem de alguns prémios literários: “São agradáveis quando vêm com muito dinheiro”.
14 Outubro 2019, 14h13

Reconhecido mundialmente, António Lobo Antunes é um dos escritores portugueses mais controversos devido a algumas posições que assume, o despudor do seu discurso e a frontalidade com que aborda alguns temas. Com a soma de 19 prémios literários, deu uma entrevista ao jornal espanhol ‘El Mundo’ onde apresenta a obra literária mais recente a ser traduzida em espanhol, ‘Da Natureza dos Deuses’, e algumas curiosidades em relação à sua escrita e vida.

Lobo Antunes começou a escrever com 14 anos, mas apenas foi publicado aos 36 anos de idade. A entrada na faculdade aos 16 anos impediu-o de ser “funcionário numa livraria para ler” e admite que não se tornou psiquiatra para entender os demais porque “a maioria são loucos sem amor”.

Questionado sobre a possibilidade de vir a ganhar um prémio Nobel para a Literatura, devido à sua obra composta por 37 textos, António Lobo Antunes sustenta que “sempre me lixei para isso”, ainda assim admite a boa sensação de estar entre os favoritos a vencedor ano após ano mas diz que já não pensa no Nobel.

“Para mim era mais importante ‘La Pléiade’, mas agora que veio já não tem importância”, classifica o autor de ‘Memória de Elefante’.

António Lobo Antunes é apenas o segundo autor português, depois de Fernando Pessoa, a ter a sua obra publicada na renomada editora francesa, conhecida pelas suas edições cuidadas, partilhando neste momento o lugar de autor vivo com nomes como Mario Vargas Llosa, Milan Kundera e Philippe Jaccottet.

Com prémio Nobel ou não, Lobo Antunes sustenta que “os livros não ficam melhor com isso, seja que prémio for”. “Os prémios literários são agradáveis quando vêm com muito dinheiro”, garante o psiquiatra, como é exemplo o Prémio Camões, que tem agregado um prémio monetário no valor de 100 mil euros.

Na entrevista, o escritor reafirma os seus gostos literários, sublinhando que não aprecia Fernando Pessoa, uma vez que este “acaba sendo muito mais racional que emocional” e que Jorge Luis Borges também não lhe enche as medidas literárias pois dizia que “Quevedo não era um escritor, mas sim uma literatura”, apelidando-o de fascista.

Questionado se conseguiu cumprir o sonho de adolescente, uma vez que tem 77 anos, Lobo Antunes diz que não é vaidoso, mas declara: “Penso que mudei a literatura. Mas que importância tem, se vou morrer. Então há que relativizar tudo o resto”.

Para terminar, o escritor analisa o impacto do sucesso na sua carreira. “Quiçá o êxito não seja mais que um fracasso que chega mais tarde”.

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