A cidade de Leiria recebeu esta terça-feira a Conferência sobre o futuro da construção e o desafio das Indústrias verdes. Um debate promovido pelo JE com o patrocínio da Transfor. No painel “Futuro da Construção: o desafio das Indústrias Verdes” António Ramalho, gestor, ex-CEO do Novobanco, ex-presidente da Infraestruturas de Portugal, consultor da Alvarez & Marsal, entre outros, deu a sua visão sobre o sector imobiliário e o momento que este está a viver.
“Este sector tem uma característica única, que devia levar a uma reflexão, é que tem ondas de movimento em relação à sua importância no PIB de um país, no sistema financeiro e no emprego, com variações e volatilidades inesperadas”, referiu Ramalho.
“Fizemos a terceira maior rede de autoestradas do mundo”, lembrou o gestor para frisar que “temos capacidade”.
António Ramalho apontou que “este sector [construção] vive protegido e sobreprotegido pelo Estado. A movimentação do sector é sempre determinado pelo cliente público”, referindo-se à qualidade do Estado como cliente, como regulador e legislador, o que, na sua opinião, justifica o excesso da burocracia e de informalidade para “resolver os problemas”.
“A chave de qualquer sector passa sempre por duas características e neste sector por uma terceira: permanência, previsibilidade e contenção”, porque a obra é algo que fica, explicou.
António Ramalho considera que há três tensões significativas no sector em Portugal, sendo duas com origens internacionais – a transição energética e transição digital – a que acresce “um enorme desiquilíbrio entre a oferta e a procura do lado da estrutura habitacional e até de outras”.
“Basta que tenhamos de fazer 100 mil casas e já temos próximo de 10 mil milhões de euros de investimento”, disse.
Portugal, nos últimos 10 anos, não construiu nada, sublinhou o gestor, e neste momento, “temos 4,9% das casas em Portugal com mais de 100 anos, e 3,9% das casas com menos de 10 anos”, afirmou.
“Com mais de 75 anos temos mais de 60% da casas, o parque habitacional tem de ser renovado”, disse Ramalho que lembra que 61,3% das famílias são proprietários das suas casas.
“Se tivermos em conta que não temos mais de 1,2 filhos, essa habitação vai rondando pela renovação”, refere o gestor que detalha que a média de cada crédito à habitação novo é 123 mil euros e a média de todo o crédito à habitação soma 63 mil euros. “Por isso é que não há ainda sinistralidade no crédito à habitação, porque as pessoas devem pouco”, frisou o ex-banqueiro que lembrou “a subida de taxas de juro violentíssima” que as famílias suportaram.
António Ramalho fala em condições de mercado para uma mudança de paradigma do ponto de vista da Construção. “Vamos precisar de uma eficácia que não temos e é verdade também há um conjunto de custos que vão exercer à atividade existente”, disse o gestor.
Os portugueses “adoram construir caro”, disse António Ramalho que sustentou a afirmação com números. “Temos 119 metros quadrados per capita, é o dobro do Japão. Adoramos ter uma assoalhada a mais, quase 60% das famílias tem. Somos o segundo país da Europa com uma segunda casa”, disse.
Por outro lado, referiu que o sistema BEEM tem sido introduzido na Europa nas infraestruturas de obras públicas, mas, defende o gestor, a granularidade deste sistema vai inevitavelmente depender da iniciativa privada.
“Havendo procura, tecnologia, e histórico, este sector tem futuro”, frisou Ramalho, apesar de terem “caído” muitas empresas de construção. Sobre a falência de muitas construtoras, o gestor disse que “este efeito do desiquilíbrio teve a ver com o pós-troika, que nasce do excesso de procura que existiu antes”.
“Há futuro para a Construção, mas haverá alterações significativas”, defendeu.
“Este é um dos sectores onde não consigo perceber a cadeia de valor. Pois cada vez que há concorrência na banca, os spreads do crédito descem violentamente, para 0,5%, de 0,25%, que vão afetar 30 anos de crédito e não baixa a comissão dos mediadores imobiliários que é sempre de 5%”, disse António Ramalho, que espera maior flexibilidade no futuro.
No painel participou ainda José Carlos Pinto Nogueira, CFO da Mota-Engil, Miguel Saraiva, arquiteto e CEO da Architect Saraiva e Associados e Tiago Marto, Chairman da Transfor.
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