Segundo o relatório “Os Peixes Esquecidos do Mundo”, elaborado por 16 organizações de conservação ambiental, cerca de um terço dos peixes de água doce estão sob ameaça de extinção e aponta como principais causas a construção de barreiras nos cursos de água, como é o caso das barragens, a poluição, que é muitas vezes potenciada pela acumulação de resíduos nesses obstáculos, e ainda a gestão comercial da água desajustada, para fins de irrigação.
Feita a análise, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) estima que apenas 38% dos rios da União Europeia têm água de qualidade, o que compromete o habitat de muitas espécies marítimas. Em Portugal, a associação alerta para a falta de cumprimento da meta estabelecida para 2027, que visam proteger os habitats e ecossistemas de água doce, assegurando que sejam protegidos e restaurados.
“O facto de Portugal não assegurar o cumprimento destas medidas é um golpe terrível para os nossos rios e para toda a biodiversidade que deles depende, também devido a não existir um estatuto legal de preservação dos rios livres”, diz Ricardo Próspero, coordenador técnico e científico do GEOTA.
“Estudos apontam para a existência de mais de 8 mil barreiras identificadas de norte a sul do país, o que é algo extremamente preocupante, uma vez que potencia a deterioração da água e dos habitats ribeirinhos, interrompe o normal ciclo dos nutrientes e sedimentos e coloca em risco a continuidade de inúmeras espécies autóctones, algumas delas ameaçadas, tais como o mexilhão-de-rio, a lampreia, o salmão e a enguia”.
A associação alerta que, embora os ecossistemas de água doce se encontrem protegidos por legislação europeia e portuguesa, assiste-se ainda “a uma desresponsabilização do Governo português a este nível e ao incentivo da construção de novas barragens, tanto para produção de energia elétrica como de regadio, agravando ainda mais o problema”.
Ricardo Próspero acrescenta, por isso, que “a melhor forma de contrariar este ciclo de deterioração da biodiversidade e da qualidade da água” é através de uma legislação que preserve os rios e um reforço “em eficiência energética em setores como a indústria e habitação, em fontes de energia alternativas e com menor impacto ambiental, tais como a energia solar”, sem deixar de fora a “a aposta numa agricultura mais bem adaptada ao nosso clima”.
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