[weglot_switcher]

Argélia: a revolta dos biquínis

Despir a roupa e exibir um biquíni é uma coisa simples, informal e corriqueira. Mas não em todo o lado. As mulheres argelinas, ou pelo menos algumas, querem ter esse direito – apesar de, naquele país muçulmano, a lei não prever a sua proibição.
5 Agosto 2017, 17h00

Como país marcadamente muçulmano – a que apesar de tudo se acrescenta uma mescla de modernidade transversal a todo o Magreb (pelo menos em algumas áreas sociais) – a Argélia não se dá bem com essas modas ocidentais onde pontifica, entre outras, a de as mulheres usarem duas tiras de pano necessariamente reduzidas quando vão à praia. E se os olhos dos argelinos toleram, mesmo quando não gostam, esses exageros quando são exibidos por mulheres ocidentais, o mesmo não se passa quando as mulheres são árabes.

Até agora: segundo relata a imprensa francesa, sempre muito próxima e muito crítica da pouca flexibilidade da ex-colónia, uma jovem argelina de 27 anos decidiu mudar tudo. Conta ela, sob pseudónimo (Sara), que, quando em julho passado, chegou a uma praia argelina, Annaba, e se predispôs a exibir o seu biquíni, não o fez porque sentiu o olhar reprovador de todos os homens à sua volta.

Mas não se deixou ficar: criou uma página no Facebook onde se queixou da ameaçadora imposição masculina (e não só) de velhos hábitos retrógrados e exigiu liberdade suficiente para se vestir de biquíni, por muito curto que ele fosse.

Mais inesperado ainda, a praia de Annaba, no noroeste da esplêndida costa mediterrânica argelina, passou a ser o centro de uma série de iniciativas e happenings com as quais algumas mulheres argelinas pretendem enxotar (é o termo) para longe de si as motivações tradicionalistas e não menos religiosas contra o uso do biquíni.

A coisa está a correr de tal ordem, que já há argelinas que decidiram não só acompanhar Sara na sua vontade de usar biquíni, como desistiram do anonimato, dando a cara por uma causa que o ocidente também conheceu há umas décadas atrás. “Quero poder tomar banho com as roupas que me apetecerem, onde me apetecer, quando me apetecer”, disse Halima, uma argelina de 32 anos, citada pelo jornal ‘Le Parisien’.

Os protestos espalharam-se a várias outras regiões do país, e só falta explicar que, na Argélia, o biquíni é autorizado, apesar de muitos argelinos continuarem ou terem voltado a considerá-lo demasiado provocador.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.