A União Europeia (UE) perde a corrida tecnológica. Não tem empresas no top 20 das maiores tecnológicas e nem do top 20 das “start-ups” mundiais. Falhou na liderança das tecnologias críticas e emergentes, bem como na geração das plataformas empresariais que as canalizam para a economia global.

Passaram duas semanas do meu último artigo aqui neste jornal, quando me referi ao Relatório Letta sobre os 30 anos do Mercado Único, e eis que é hora de referir mais um novo estudo: “EU Innovation Policy – How to Escape the Middle Technology Trap”.

As observações acima são dos economistas alemães, franceses e italianos responsáveis pelo estudo. Significativamente, o governo do estado da Baviera empenhou-se na sua promoção junto de Bruxelas, naquilo que só se pode ver como um alerta enfático a todo o continente. Um dos autores, Jean Tirole, que ganhou o prémio Nobel há precisamente dez anos, sublinha: “está em causa o bem-estar económico, bem como a influência regulatória e geopolítica.”

O estudo assinala que a UE se vê hoje nesta situação, apesar da prioridade à “Economia do Conhecimento”, lançada com a Agenda de Lisboa na Presidência portuguesa do ano 2000. A UE conseguiu colocar-se a par dos EUA com 2% do orçamento público afecto à Investigação e Desenvolvimento, porém a especialização das suas maiores empresas persiste em áreas como o material de transporte (sector automóvel) e química (tradicional). Mas as grandes tecnológicas do século XXI estão na alta-tecnologia, desde os semicondutores de suporte à computação até aos novos serviços finais aos utilizadores conectados.

Os autores sublinham que a inovação não resulta de um processo puro de mercado. Dado isto, pode até surpreender como o estudo é duramente crítico da política de inovação europeia. Aponta que o problema não tem sido só o nível do compromisso, mas as falhas na governança. É tudo gerido de forma burocrática, não dando poder a quem realmente sabe, não acompanhando o ciclo de vida dos esforços, dispersando recursos por muitos temas ao invés de concentrar nas tecnologias disruptivas, etc. Depreende-se então que é preciso ser selectivo e sustentado; que fazer política pública não é só inventar “slogans” e preparar “powerpoints”.

Uma das implicações para Portugal poderá ser um encontro de agendas entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ministério da Economia e Ministério da Educação, Ciência e Inovação. Não é cedo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.