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Armando Vara recusa falar de Vale do Lobo e diz que a prisão é um “martírio” que o impediu de se preparar

Armando Vara está a ser ouvido na comissão de inquérito à Caixa. “Não irei responder a perguntas sobre Vale do Lobo”, disse.
14 Junho 2019, 14h57

Armando Vara está a ser ouvido na comissão de inquérito à Caixa e queixa-se de não se ter podido preparar para esta comissão, por estar a viver o “martírio” que é estar preso.

Esta é a segunda vez que Armando Vara vai ser questionado sobre os dois anos e meio que esteve na administração da Caixa Geral de Depósito. O antigo gestor esteve na primeira comissão de inquérito à recapitalização do banco em 2017, quando já era arguido da Operação Marquês precisamente por causa do negócio de Vale do Lobo e do envolvimento da Caixa da qual era administrador.

Armando Vara diz que se “colocou à disposição do parlamento” para prestar “todos os esclarecimentos” sobre a sua participação na gestão do banco público. E deixou um aviso: “Não irei responder a perguntas sobre Vale do Lobo”.

“A Caixa foi o banco que melhor saiu da crise, talvez um bocado tarde, mas já não tenho nada a ver com isso”, disse o antigo administrador do banco público quando confrontado com as perdas registadas em créditos concedidos durante a sua gestão. “A Caixa nunca teve intervenção nas guerras do BCP”. Até quis vender as ações que tinha no banco”, acrescentou

Sobre quem o convidou para a administração do BCP, Armando Vara afirmou: “Foi o dr. Santos Ferreira que me convidou para a Administração do BCP”. Questionado por Constança Urbano de Sousa sobre o tempo em que foi administrador da CGD e de algumas operações ruinosas, referindo-se aos casos de Berardo e Manuel Fino, Vara respondeu: “Sinto que é muito complicado para quem não acompanhou o momento em que todas essas decisões tiveram o seu racional e avançaram como avançaram em outros bancos. É muito difícil agora olhar agora para trás. Na verdade créditos garantidos por ações não era tema que repugnasse aos bancos. Não pense que todas essas decisões foram tomadas de ânimo leve. Nenhuma das pessoas que participou na concessão de crédito ficou contente”.

O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) Armando Vara disse ainda que o banco público “não teve qualquer intervenção nas ‘guerras’ do BCP”, durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD.

A Caixa “nunca teve qualquer intervenção nas guerras do BCP”, garantiu hoje Armando Vara aos deputados, rejeitando que tenha existido qualquer “assalto” ao banco privado e que a CGD até quis vender as ações que tinha do BCP.

“E só não saímos mais, porque Paulo Teixeira Pinto [então presidente do BCP] deu conta que a Caixa estava a vender e pediu a [Carlos] Santos Ferreira [então presidente da CGD] para discutir o tema”, revelou Armando Vara, acrescentando que o banco público não via “vantagem em ter uma participação daquela dimensão num concorrente”.

De acordo com o ex-ministro socialista, Paulo Teixeira Pinto disse que “não era o melhor tempo” para vender uma posição no BCP, “porque ter a Caixa como acionista era uma proteção contra a OPA [do BCP sobre o BPI, à data]”, tendo pedido que o banco público ficasse com “pelo menos 1%”.

Armando Vara disse ainda que, quando saiu da CGD para o BCP, em 2008, o banco público tinha “menos de 5%” de ações do banco privado.

Armando Vara – que se encontra detido desde janeiro deste ano após condenação no processo Face Oculta – foi nomeado administrador da CGD em 2006, para a equipa presidida por Carlos Santos Ferreira, tendo ambos depois transitado para o BCP em 2008.

O também antigo ministro Adjunto e da Juventude e Desporto do segundo governo de António Guterres é um dos 28 arguidos da Operação Marquês.
Dos arguidos deste processo, foram já ouvidos na comissão parlamentar de inquérito à CGD Joaquim Barroca (ex-administrador do grupo Lena) e Diogo Gaspar Ferreira (ex-administrador de Vale do Lobo).

 

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