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Arnaldo Matos: o “grande educador” que revolucionou a classe operária

A Arnaldo Matos cabe a frase: “Vamos tomar o poder custe o que custar, demore o que demorar”. Não o conseguiu em quase 50 anos de luta, mas não desmobilizou e manteve-se na luta pela criação de uma sociedade sem classes. Morreu esta quinta-feira aos 79 anos. Para a história ficam o seu radicalismo e a persistência no derrube do capitalismo.
22 Fevereiro 2019, 17h08

Arnaldo Matias de Matos nasceu a 24 de fevereiro de 1939, em Santa Cruz, na ilha da Madeira. Saiu de casa ainda jovem para ir estudar Direito na Universidade de Coimbra, mas foi forçado a deixar o curso para cumprir o serviço militar obrigatório. Esteve primeiro em Moçambique e foi depois para Macau. Foi aí, na antiga província do ultramar português que conheceu os ideais revolucionários de Mao Tse Tung e que o sonho maoísta e a criação de uma sociedade sem classes nasceu.

De regresso a Portugal, em 1965, Arnaldo Matos trocou a Universidade de Coimbra pela de Lisboa e continuou os estudos em Direito. É aí que começa a fazer oposição ao regime salazarista, envolvendo-se na vida política estudantil. Três anos mais tarde participa na criação da Esquerda Democrática Estudantil (EDE), que visava também fazer oposição ao regime salazarista, mas que pretendia ir mais além do que o PCP, que acusavam de “revisionismo” e de não ser mais o “partido do proletariado”.

Em setembro de 1970, fundou, em conjunto com Fernando Rosas e Vidaúl Ferreira, João Machado, o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP). Arnaldo Matos era um dos membros do Comité Central, chamado “Comité Lenine”, e um dos principais pensadores do partido. Em fevereiro de 1975, o comité central do MRPP foi legalizado e pouco depois Arnaldo Matos foi preso pela primeira vez em Mirandela, pelo COPCON, em pleno PREC (Processo Revolucionário em Curso).

Arnaldo Matos, saído entretanto da prisão, candidata-se às eleições de 1976, conseguindo apenas 36.200 votos (0,66%). O mau resultado não o faz, no entanto, enfraquecer a luta: “Vamos tomar o poder custe o que custar, demore o que demorar”, garantia, longe de saber que em mais de 40 anos, o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses – Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (PCTP/MRPP) seria incapaz de eleger um único deputado.

Arnaldo Matos, que entretanto ganhou a alcunha de “grande educador da classe operária” por Natália Correia, deixou o partido entre 1982 e 2015, movido pela desilusão com o rumo que o país tinha tomado e com a vitória da “contra-revolução”. Nessa altura, assumiu o cargo António Garcia Pereira. Com o regresso de Arnaldo Matos, em 2015, os dois camaradas cortam relações e António Garcia Pereira bate com a porta e deixa o partido, acusando Arnaldo Matos de “traição” e iniciando uma luta interna sem precedentes.

Recentemente, tinha descoberto nas redes sociais, numa nova plataforma de mobilizar o eleitorado, a par com o Luta Popular Online. Era através da sua conta oficial do Twitter, que diariamente publicava críticas à atual governação, à direita e um pouco a tudo e todos. Eram os “social-fascistas”, “o monhé”, “o putedo”, “os lacaios do capitalismo”, e tantos outros. Manteve-se na “luta” até ao dia da sua morte. Morreu esta sexta-feira, aos 79 anos, vítima de doença. Dentro de dois dias completaria 80 anos.

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