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Artur Pastor e o Povo no Panteão

“Um andarilho de lente afiada”, dizemos nós sobre o olhar acutilante de Artur Pastor. Não resistiu a fotografar o Povo por esse país fora, mas nunca terá pensado levá-lo ao Panteão Nacional, em Lisboa. É lá que está o “Povo”, até 6 de fevereiro.
Algarve © Artur Pastor
15 Novembro 2021, 17h50

O acervo do fotógrafo Artur Pastor, que se encontra sob a guarda do Arquivo Municipal de Lisboa, viajou até ao Panteão Nacional para mostrar a quem o visita o seu olhar sobre um mundo que ainda não desapareceu e outro ainda não se impôs.

Pastor não resiste a retratar a sucessão de novidades que entra nos campos – o mundo novo – e também os instrumentos e formas de trabalhar do mundo “velho”. A sua lente está sobretudo atenta e sensível ao que o rodeia. Não se dobra à nostalgia, antes se deixa contagiar pelo mundo “novo”. Aliás, é ele  que predomina nas suas paisagens.

“As vilas, repentinamente implantadas, distantes entre si, amontoados brancos avistam-se como miragens”

Nasce em 1922 numa família pobre, em Alter do Chão, e com três anos de idade é apadrinhado pelo diretor da Coudelaria de Alter do Chão. Uma prática habitual à época, pois só assim poderia ser  encaminhado para uma educação adequada e ao nível do ensino superior.

Um irmão e familiares próximos desse padrinho são os diretores da Escola de Regentes Agrícolas de Évora. Artur Pastor irá frequentar a Herdade da Mitra, em Évora, e a sua formação nessa escola acabará, mais tarde, por refletir-se na sua obra. E será o embrião do trabalho realizado na qualidade de técnico do Ministério da Agricultura, sobretudo entre os anos 40 e 60 do século XX. Trabalhadores agrícolas e camponeses não escapavam à mira da sua câmara, a par de ambientes urbanos e rurais.

“Nenhum queixume, abrandamento, renúncia e sujeição a um destino sem clemência”, escreverá. O Algarve terá sido a primeira paixão, geograficamente falando. Seguir-se-á o Minho. E o mar, sempre. E a faina. Mas nunca descurou o território. Todo ele. Portugal continental e ilhas, num retrato absolutamente único do país e do seu povo.

E também um livro… precioso

A exposição “Artur Pastor – O Povo no Panteão” reúne algumas das imagens do acervo do fotógrafo, considerado o mais importante repositório de fotografias do Portugal rural dos anos 1940-1990. Paralelamente, é editada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa e o Arquivo Fotográfico de Lisboa, uma obra que fixa os muitos milhares de negativos de Pastor.

Santiago Macias e Sofia Castro asseguram a direção e coordenação  da mostra, resultado de uma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa/Arquivo Municipal e a Direção Geral do Património Cultural/Panteão Nacional, patente ao público no Panteão, em Lisboa, até dia 6 de fevereiro de 2022.

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