O Médio Oriente é uma região que se encontra entre vários focos de tensão e conflito há várias décadas. Mas desde a queda do preço de petróleo, de perto de 100 dólares/barril em 2014 para cerca de 60 dólares/barril desde então, que a intensidade das tensões tem piorado a um ritmo insustentável.

Por mais justificações que sejam apresentadas para explicar um conflito, a raiz de todas as tensões é sempre insatisfação económica, e a queda do preço do petróleo causa bastante stress às economias da região.

Se nas monarquias absolutistas da região (Arábia Saudita, EAU, Omã…) a riqueza acumulada e as relações construídas com o Ocidente ao longo de décadas são suficientes para gerir as quedas no preço do petróleo, do outro lado do Golfo Pérsico, no Irão, onde o clero é quem governa, piores condições económicas – causadas tanto pela queda do preço do petróleo como pelas recentes sanções económicas – só dão mais motivos para a perseguição de objectivos antigos que implicam conflitos na região.

Segundo os últimos relatos sobre o envolvimento do Irão, os ataques a Abqaiq foram mais uma prova disso e tornam provável um conflito mais directo entre a Arábia Saudita e o Irão (há décadas que as duas potências do Médio Oriente financiam conflitos secundários à sua volta, mas nunca se confrontaram directamente).

Para além da debilidade económica no Irão, que faz com que tenha cada vez menos a perder, importa ter presente que a Arábia Saudita se encontra numa posição particularmente frágil. Em primeiro lugar porque o novo jovem príncipe, Mohammad bin Salman, tem sido muito errático (principalmente no Iémen e com Khashoggi) e por isso tornou-se bastante impopular no Ocidente. Em segundo, porque os EUA (os principais aliados da Arábia Saudita) estão relativamente perto de eleições e vão evitar ao máximo entrar em mais uma guerra no Médio Oriente.

Neste sentido, este será um momento em que o Irão vai continuar a pressionar a Arábia Saudita, de modo a atingir os seus objectivos de disseminação do regime, e a assustar os seus oponentes, que lhe impõem restrições e sanções.

Tanto a Arábia Saudita como o Irão estão hoje assustadoramente armados, e a recente intervenção dos EUA tem sido até contraproducente. Parece-me por isso vital que a comunidade internacional se junte para acalmar esta tensão, de forma mais activa, pacifista e neutral. Caso contrário, o Médio Oriente corre o risco de sucumbir perante uma guerra que – por incrível que pareça – pode ser mais grave do que qualquer outra a que a região já assistiu.

E como é que toda esta geopolítica se relaciona com os mercados financeiros? Através do petróleo…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.