Na sua dissertação sobre as “Leis da Estupidez Humana”, o professor de história económica Carlo Cippola identificou quatro tipos de pessoas: os estúpidos, os inteligentes, os bandidos e os ingénuos. Os estúpidos não se importam de perder desde que os outros também percam (jogos de soma negativa), os inteligentes ganham e dão a ganhar (jogos de soma positiva), e os bandidos ganham à custa dos ingénuos (jogos de soma nula). Curiosamente, estas leis aplicam-se a todo o universo das relações humanas, incluindo o das relações internacionais.

No rescaldo da anexação da Crimeia pela Rússia, os EUA seguidos pela União Europeia (UE), impuseram sanções draconianas à Rússia para a pressionar a desistir daquele projeto e a acomodar-se com o statu quo ante. Estavam convictos de que esta se iria ajoelhar, Putin cairia no descrédito, perderia a sua base social de apoio criando-se assim condições para se encorajar uma operação de mudança de regime, o país seria ostracizado – os representantes da Rússia no Conselho da Europa (CE) foram impedidos de votar –, e tornar-se-ia um Estado pária.

Passados cinco anos, nada do que se pretendia foi atingido. Apesar de todas as amarguras, a Rússia não soçobrou economicamente. Após uma queda acentuada em 2015 o PIB começou a aumentar, voltou a ser membro de pleno direito do CE, a popularidade do presidente Putin não ficou nas ruas da amargura, o conflito na Ucrânia prossegue e a Crimeia continua e continuará anexada.

A Rússia não foi ostracizada e virou-se para leste, estabelecendo uma parceria estratégica com a China. Para além disso aumentou a sua influência no Médio Oriente, resultado da sua intervenção no conflito sírio, reforçou alianças com novos parceiros e regressou a África, onde se tornou um ator de relevo.

Trump e Macron vêm agora sugerir o regresso da Rússia ao grupo das grandes potências industrializadas (G7). Na recente reunião do Fórum Económico do Oriente, em Vladivostok, por sinal a quinta, Putin respondeu àquela proposta dizendo que era uma ideia cool mas que não conseguia imaginar uma organização internacional eficaz sem a presença da China e da Índia, dando a entender que o G7 é uma relíquia de uma época passada, como lhe chamou Simon Tisdall.

Na sequência da recente visita de Putin a Paris, Macron veio apelar à redução das sanções e a uma política de aproximação, quando, paradoxalmente, a Rússia já se encontra em muitas matérias mais próxima da Europa do que os EUA (acordo nuclear com o Irão, processo de paz no Médio Oriente ou o estatuto de Jerusalém). Em contrapasso com estes desenvolvimentos, a Polónia não convidou a Rússia para as comemorações dos 80 anos do início da Segunda Guerra Mundial, não obstante ter convidado a Alemanha, assim como os parceiros da NATO e da UE, na sua maioria países que fizeram parte da União Soviética.

As relações com a Rússia irão normalizar-se progressivamente, apesar desta não abdicar da Crimeia, pura e simplesmente porque não pode. É muito estranho que os dirigentes europeus não tenham percebido isso logo de início quando decidiram embarcar na aventura, como também é incompreensível que não tenham percebido que o statu quo pós crise iria ser pior do que o statu quo ante, geoestrategicamente falando, para todos. Todos iriam perder.