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Às portas da Europa, Sérvia continua a investir no rearmamento

Depois da compra de drones e sistemas de defesa à China, chegam agora ao país tanques de guerra de fabrico russo. O embaixador sérvio em Moscovo desafiou a União Europeia a censurar a decisão do governo do seu país.
  • Antonio Bronic / Reuters
30 Outubro 2020, 17h45

Paulatinamente, a Sérvia – primeira responsável por quase todas as guerras civis que dizimaram a antiga Jugoslávia a partir do seu colapso, nos últimos anos do século passado – está a comprar armamento (ou a recebê-lo de graça) em vários mercados. Depois de já este ano ter adquirido drones de última geração e um novo sistema de defesa a empresas chinesas, chegou agora a vez de a Sérvia receber um presente da Rússia.

O embaixador sérvio em Moscovo, Miroslav Lazanski, disse que a ajuda militar russa no valor de 180 milhões de dólares está a chegar à Sérvia. Essa ajuda consiste em 30 tanques russos T-72 e 30 veículos blindados BRDM modernizados para o exército sérvio. Logo a seguir, chegarão aviões de combate.

Para o diplomata, mais esta ‘ajuda’ é um indicador seguro de que as relações entre a Sérvia e a Rússia estão em grande plano. O negócio foi acordado pelo presidente sérvio Aleksandar Vucic e o seu homólogo russo, Vladimir Putin.

Miroslav Lazanski não se esqueceu de enaltecer a ajuda da Rússia e de lembrar que o Ocidente destruiu muito do armamento sérvio em 1999, quando a NATO interveio (com o apoio do atual candidato à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden) no cenário de guerra dos Balcãs.

Questionado sobre se a Sérvia deveria temer a reação da Comissão Europeia, Lazanski disse que a Sérvia é um país soberano, com uma política externa independente da União. “Não entraremos em nenhuma aliança militar e compraremos armas guiados principalmente pelos interesses da nossa segurança, sem pressão política. Se alguém na União se incomodar por comprarmos armas à Rússia, China, Israel e Turquia, deveriam saber que podemos estar incomodados com o facto de que a Roménia ter comprado o sistema Patriot norte-americano”, disse Lazanski citado pelos jornais sérvios.

A Sérvia faz parte do grupo de países dos Balcãs que querem entrar na União Europeia – estando a ser monitorizados em relação a uma série de itens que, se não cumpridos, inviabilizarão a adesão. O processo está atrasado e nenhum país parace estar interessado em apressá-lo. A compra de armamento por parte da Sérvia não será com certeza um fator que a Comissão valorize como conforme à entrada na União.

A Sérvia foi, como ficou demonstrado pelos tribunais internacionais, o principal responsável pelas sangrentas guerras que se sucederam nos Balcãs depois do fim da Jugoslávia. A União tem conhecimento de que uma parte do país e dos políticos que entretanto chegaram ao poder tender a ser negacionistas em relação à questão – mas é difícil esquecer que Slobodan Milosevic era sérvio e foi inegavelmente o maior responsável pelos milhares de mortos (e respetivos genocídios) que ali se verificaram, às portas da Europa. Na altura, a União não só não soube antecipar os acontecimentos, como não soube lidar com eles.

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