É improvável uma guerra entre os EUA e o Irão. Pelo menos por enquanto. Não devido à reconhecida capacidade de retaliação iraniana ou às dramáticas consequências que teria na região e na economia mundial, mas pelo facto do presente aumento de tensão causado pelo abate de um drone norte-americano pela defesa aérea iraniana e pelo agravamento das sanções impostas pelos EUA se inserir num quadro de diplomacia coerciva.

O que está em causa não é utilizar a diplomacia ou a força, mas sim a ameaça do uso da força para persuadir o oponente a abdicar dos seus propósitos. Trata-se de dar ao oponente uma oportunidade, antes de se empregar eventualmente a força contra ele, caso não cumpra com aquilo que lhe é exigido.

Sobre esta matéria, a Administração americana encontra-se dividida. De um lado Trump, avesso a intervenções militares, pretende apenas alterar o comportamento do Irão; enquanto que do outro, Bolton e Pompeo advogam uma mudança de regime. O end state almejado por Trump não é o mesmo de Bolton e Pompeo. Trump não pretende ir para a guerra com o Irão. Resta saber que posição acabará por prevalecer.

Os belicistas tentarão limitar a margem de manobra de Trump empurrando-o para a solução militar. Os pretextos para começar uma guerra podem surgir a qualquer momento. Já foram ensaiados alguns, embora sem sucesso, como aconteceu com o abate do Global Hawk que sobrevoava o espaço aéreo iraniano. A decisão de não retaliar militarmente representou uma derrota dos belicistas, e por acréscimo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Não é de descartar que situações semelhantes se repitam.

A mudança de regime só será possível através de uma operação terrestre. Os militares norte-americanos presentemente na região são manifestamente insuficientes para realizar uma operação dessa natureza. Por outro lado, é irrealista a possibilidade de isso acontecer através de uma sublevação do tipo “revolução colorida” motivada por um levantamento popular, como defende Pompeo, pretexto utilizado para justificar o agravamento das sanções.

Não havendo cedências do lado iraniano, não será de descartar a possibilidade de um ataque de objetivo limitado, antecipando-se como alvos principais as instalações ligadas ao programa nuclear iraniano, precedido da destruição dos sistemas de comando e controlo. Resta saber se os resultados obtidos com essa ação militar, se ocorrer, farão claudicar o Irão. Ou, como no caso da Coreia do Norte, outro exercício de diplomacia coerciva, depois do ataque de nervos fica quase tudo na mesma.

Dois aspetos adicionais merecem destaque particular. Por um lado, o facto do Conselho Europeu (CE) de 20 e 21 de junho não ter debatido este tema. Em matéria de relações externas, o CE dedicou a sua atenção à parceria da UE com a vizinhança a Leste, à Moldávia, às relações UE-Marrocos e à libertação dos marinheiros ucranianos pela Rússia, entre outros temas. Nem uma palavra sobre o assunto que analisamos. Provavelmente não considerado importante.

Por outro lado, o apelo do ministro interino norte-americano da Defesa na reunião de ministros da Defesa da NATO, de 20 de junho, aos seus congéneres aliados para considerarem o conflito com o Irão um desafio global que necessita de diplomacia global, e para a criação de uma coligação naval para garantir a liberdade de navegação no Golfo Pérsico. Longe vão os tempos em que a NATO era considerada uma organização obsoleta.