A presidente da Associação de Emigrantes Açorianos, Andrea Moniz-DeSouza, critica as declarações do secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, feitas à Renascença, de que “não há razão para acreditar que vai haver deportação maciça de portugueses” dos Estados Unidos, numa altura em que Donald Trump já assumiu a presidência norte-americana, a 20 de janeiro.
“Com todo o respeito ao secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, acho que é impossível fazer uma confirmação dessas. Eu sou advogada e já aprendi que nunca podemos fazer uma declaração desta maneira, numa situação destas. Trump fez muitas promessas, e está a tentar provar à população, essas promessas. É impossível prever [o que vai acontecer]”, considerou Andrea Moniz-DeSouza, ao Jornal Económico.
Donald Trump tomou posse esta segunda-feira, 20 de janeiro, com a promessa de expulsar os estrangeiros ilegais. No mesmo dia, em entrevista à Rádio Renascença, o secretário de Estado das Comunidades admitiu que não sabia se Portugal tem “muitos, ou poucos cidadãos indocumentados (ou ilegais), nos Estados Unidos”, mas que o país tem planos de contingência para todos os países se for necessários acioná-los. José Cesário excluiu também a possibilidade de, nesta altura, existir uma deportação massiva de portugueses dos Estados Unidos, sublinhando, contudo, que vai estar atento ao assunto. “Não há razão para acreditar que vai haver deportação massiva de portugueses”, disse o governante, admitindo, ainda assim, estar a acompanhar “atentamente” o tema, e lembrando que Portugal tem planos de contingência para todos os países do mundo que só acionará, se for necessário.
Esta posição foi reforçada um dia depois pelo ministro dos Negócios Estrangeiros no Parlamento. Paulo Rangel referiu que “não está a antecipar” nenhuma crise desse ponto de vista, referindo-se à possibilidade de existir uma deportação massiva de açorianos dos Estados Unidos. Sinceramente, não há nenhuma situação que indicie alarme ou uma preocupação especial”, declarou à entrada para a comissão dos Assuntos Europeus, onde foi ouvido nesta terça-feira, 21 de janeiro,
Cálculos do executivo açoriano apontam para a existência de 1,5 milhões de portugueses em território americano, com a “grande fatia” a serem provenientes do arquipélago.
“Os açorianos, em concreto, são uma comunidade bem implementada, trabalhadora, admirada e respeitada, designadamente nos estados de Massachusetts, Rhode Island ou Califórnia. O número de eventuais cidadãos com a situação irregular é um exercício que, nesta fase, “é meramente especulativo”, já tinha adiantado fonte oficial do Governo dos Açores, ao Jornal Económico.
A dirigente da Associação de Emigrantes diz ao JE que gosta de pensar que os portugueses podem ser dos “menos afetados, face a outros países”, no que diz respeito a deportações. “Temos menos pessoas nessa situação e somos uma área da população que Donald Trump não tem visado. Somos pessoas trabalhadoras, temos história, temos diplomacia”, frisa Andrea Moniz-DeSouza. Deixa, porém, o alerta: “mas dizer que não vão acontecer deportações [massiva de portugueses dos Estados Unidos] não é uma declaração que eu possa fazer”.
A responsável pela Associação de Emigrantes Açorianos adianta que o executivo dos Açores também organizou um grupo de trabalho, que reuniu na semana passada, com o objetivo de “estudar e trabalhar” a possibilidade de existir uma vaga de deportação.
Relativamente à atual situação política norte-americana, Andrea Moniz-DeSouza acredita que Donald Trump “vai tomar decisões” que fizeram parte das suas promessas de campanha, onde se incluí a deportação de pessoas ilegais, mas, “ao mesmo tempo, eu acho que ele vai ter uma política de equilíbrio ao nível da economia e das necessidades” da América.
“O discurso de tomada de posse foi a primeira parte. Agora vamos ver como é que ele vai colocar as coisas em prática”, acrescenta a dirigente da associação, não afastando a possibilidade de existirem deportações de açorianos dos Estados Unidos. “O número não sabemos”, acrescenta Andrea Moniz-DeSouza.
Mesmo expressando essa incerteza sobre o que pode acontecer à comunidade açoriana que está nos Estados Unidos, Andrea Moniz-DeSouza refere que acredita que “a relação entre Portugal e a América, a história diplomática entre os dois países, e os laços existentes entre os dois países”, serão fatores que serão tidos em consideração na altura de se tomar decisões no que diz respeito às questões das deportações.
“Mas se me pergunta se nenhum açoriano será afetado? Não lhe consigo dizer isso, acho que poderão existir pessoas que serão afetadas”, diz Andrea Moniz-DeSouza.
“Se formos a ver as estatísticas nos mandatos dos presidentes Barack Obama e George Bush, houve mais deportações [de açorianos] do que no primeiro mandato de Donald Trump (ver tabela). Mas agora estamos numa situação diferente. Ele [Trump] regressa à presidência, depois de não ter sido reeleito [perdeu as eleições em 2020 para Joe Biden]. Agora está no seu último mandato e pode querer provar às pessoas de que, de facto, está a dar seguimento às promessas que tinha feito em campanha”, afirma Andrea Moniz-DeSouza.
A responsável da Associação de Emigrantes Açorianos diz ainda que tem estado em contacto com organizações nos Estados Unidos e, pelo que tem sido transmitido, a questão das deportações pode ser dividida em várias partes.
“Uma delas é estarem à procura daquelas pessoas que já receberam ordens de deportação e que, por uma razão ou outra, têm conseguido fugir. A segunda, aquelas pessoas que estão lá sem documentos, que tenham cometido crimes”, diz a responsável da Associação de Emigrantes.
“Mas teremos que ver. Pensamos que Trump quererá provar que quer avançar com as promessas que fez [no campo da imigração]. Eu acho também que, no fim do dia, temos de pensar que a América, tal como Portugal, precisa de pessoas de fora para as suas economias. Mas acho importante nos prepararmos para a eventualidade de existirem deportações”, volta a frisar Andrea Moniz-DeSouza.
Se no pior cenário se confirmar uma vaga de deportação de açorianos dos Estados Unidos, Andrea Moniz-DeSouza considera que os Açores “têm capacidade de resposta” na receção a estas pessoas que decidam regressar ao arquipélago.
“Tem muitas pessoas nos Estados Unidos que estão lá, que têm vidas lá, que estão estabelecidas. Essas pessoas, voltando, podem precisar de assistência, mas não de uma grande assistência. Mas eu acho que o Governo e nós temos que receber e ajudar de qualquer maneira possível”, diz Andrea Moniz-DeSouza.
A presidente da Associação de Emigrantes Açorianos diz ainda que os Açores possuem margem de manobra em várias áreas, dando como exemplo as carências que apresenta ao nível da mão de obra.
“Há tantas pessoas na restauração que procuram trabalhadores e não têm. Tem muitos imigrantes que vêm trabalhar para cá. Acho que há oportunidade para colmatar algumas das fraquezas que os Açores têm atualmente. Temos imigrantes que vêm de fora para trabalhar para cá. Acho que há [capacidade de] resposta dos Açores para essas pessoas”, explica a dirigente da Associação de Emigrantes Açorianos.
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