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Associações Académicas: as incubadoras do futuro do país

Os jovens responsáveis pela gestão destas ‘empresas’, as associações de estudantes, merecem muito mais reconhecimento por parte da sociedade.
26 Abril 2018, 08h32

É frequente a opinião pública encarar as associações académicas ou as associações de estudantes (AE), especialmente as que dizem respeito ao Ensino Superior, como realidades que se assumem como o porta-voz dos alunos na defesa dos interesses dos mesmos, bem como a ponte entre a comunidade estudantil e o corpo docente e dirigente das universidades. É certo que o papel preponderante das AE se deve, em grande parte, ao papel que desempenharam no século XX na luta contra a opressão do Estado Novo, sendo que muitas delas são hoje instituições centenárias.

Na viragem para o século XXI, a luta política nas universidades perdeu o impacto que teve outrora, e ainda que os restantes fins das AE se mantenham, nos últimos anos têm surgido novos desafios, próprios dos tempos em que vivemos.

Antes de mais, vivemos hoje numa era digital. Ora, sendo a esmagadora maioria dos estudantes jovens, estas instituições têm de se adaptar à nova realidade. Hoje, mais do que nunca, o contacto com o aluno pode ser feito por outras vias que não a presencial. A ajuda que as AE se propõem prestar aos estudantes passa por garantir soluções para os seus problemas de forma rápida e eficiente. Daí ser essencial assegurar um suporte digital coeso e bem montado, desde apontamentos, livros, inquéritos até livestreams de palestras e conferências.

Este papel, se é feito para os alunos, também tem que ser assegurado pelos alunos e não pelas universidades ou outros, pois aqui o elemento teleológico é o apoio ao estudante.

De salientar também que as associações académicas com maior longevidade, história e peso no meio estudantil são hoje dotadas de orçamentos anuais bastante avultados. Existem várias explicações para isto: ou fizeram um bom trabalho em termos de angariação de fundos (festas, investidores privados, parcerias, etc.), ou detêm editoras próprias, cujo principal mercado é o aluno da faculdade, além dos acordos para disponibilizar o produto noutras superfícies comerciais, como livrarias, lojas ou outras faculdades, ou ambos os casos.

Tendo isto em conta, nas AE de maior dimensão, como é caso da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, o Instituto Superior Técnico e o ISEG, entre outras, o dirigente académico, mais do que a voz dos estudantes, é administrador de uma empresa. De facto, a estrutura é muito semelhante: existe uma administração que, neste caso, é a direção, um board, que é a mesa de reunião de alunos-sócios, e um conselho fiscal que supervisiona financeiramente a associação.

Podemos, assim, concluir que os jovens (muitas vezes com menos de 25 anos) que estão à frente de instituições que valem centenas de milhares de euros (que podem inclusive chegar aos seis dígitos), que são responsáveis pela gestão destas ‘empresas’ e ainda têm de conciliar essa atividade com as respetivas formações académicas – bem como defender os interesses dos alunos –, merecem muito mais reconhecimento por parte da sociedade, porque as faculdades e as AE são as incubadoras do futuro do país. E, neste momento, o balanço é francamente positivo no panorama português.

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