A economia da zona euro continuou a crescer em março e ao ritmo mais pronunciado dos últimos meses, embora com um menor impulso do que se estimava, impulsionada pelo melhor resultado da indústria do bloco em mais de dois anos e com a Alemanha em clara trajetória de recuperação. A reforma histórica do travão constitucional está a dar força ao motor económico europeu, mas os analistas sublinham a necessidade de mais reformas.
O índice de gestores de compras (PMI) composto para a zona euro subiu marginalmente de 50,2 pontos em fevereiro para 50,4 em março, falhando a expectativa de mercado de 50,8, mas registando ainda assim a leitura mais elevada desde agosto. O sector dos serviços até abrandou um pouco, tocando mínimos de quatro meses, mas a história de destaque está do lado do sector secundário.
O subindicador referente à produção industrial voltou a uma situação de expansão da atividade após mais de dois anos em zona de recessão, chegando a 50,7 pontos após os 48,9 de fevereiro, enquanto o subindicador relativo ao sector não conseguiu quebrar a barreira dos 50 pontos, mas também registou máximos de 26 meses com 48,7.
Esta é uma melhoria antes da esperada imposição de tarifas pelos EUA, algo que está a deprimir a confiança dos agentes europeus. Ainda assim, os analistas apontam para um crescimento positivo no primeiro trimestre do bloco da moeda única após a estagnação do final do ano passado.
O banco neerlandês ING fala numa “recuperação modesta do crescimento com inflação a acalmar”, mas alerta para o rombo que as barreiras à entrada decretadas por Washington podem significar para a economia europeia. Já a Pantheon relembra o efeito da Alemanha nesta leitura, onde o PMI composto se manteve acima de 50 pontos em março, mas subindo menos do que o esperado.
A procura continua deprimida, com o ritmo de novas encomendas a cair ao mesmo ritmo de fevereiro e a criação de empresas nos serviços também recuou. Na indústria, em particular, foi o 35º mês seguido de queda nas novas encomendas, o que sublinha o estado do sector apesar das ligeiras melhorias.
Em linha com a fraqueza do lado da procura, as empresas continuam a retrair-se em termos de emprego, embora sem sinais de reduções previstas. Do lado dos preços, a tendência é de alívio nas pressões sentidas pelas empresas, apontando para uma inflação em queda.
Na Alemanha, o PMI chegou a 50,9 pontos, uma subida em relação aos 50,4 de fevereiro, mas abaixo das projeções de mercado de 51,2. O sector industrial foi o principal responsável pela melhoria, tocando máximos de 36 meses, ou três anos, com 52,1 pontos – a primeira leitura em terreno de expansão da atividade em dois anos.
A componente externa alemã continua a desiludir perante uma procura global fraca, mas as encomendas industriais subiram pela primeira vez desde março de 2022, com as empresas alemãs a reportarem um aumento na inclinação dos seus clientes para acumularem stock.
A inversão surge numa altura em que a maior economia da zona euro atravessa alterações profundas e de relevo, sobretudo com a reforma do travão constitucional da dívida. Martin Wolburg, economista sénior na Generali Investments, salienta que o fundo para a infraestrutura representa quase a totalidade dos 600 mil milhões de euros de gap estimado de investimento nesta categoria para a Alemanha, mas alerta para a necessidade de mais reformas.
“As discussões da coligação darão sinais importantes sobre a inclinação para fazer reformas do lado da oferta que permitam explorar o potencial das alterações orçamentais”, acrescenta, lembrando a necessidade de remover obstáculos consideráveis ao investimento ainda existentes.
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