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“Musk Foundation”: atividade filantrópica do fundador da Tesla levanta dúvidas

Algumas das subvenções da Musk Foundation beneficiaram organizações que parecem ter pouco a ver com filantropia. O britânico ‘The Guardian’ tentou perceber o que está por trás das suas atividades.
24 Janeiro 2019, 15h43

O site da filantrópica fundação privada de Elon Musk, criador da Tesla, é mais curto que muitos dos seus controversos tweets: “Musk Foundation”. As doações são feitas em apoio a: investigação de energia renovável; investigação da exploração espacial; investigação pediátrica; educação em ciência e engenharia”.

Documentos obtidos pelo jornal britânico ‘The Guardian’ revelam como a fundação colocou em prática essa vaga declaração: várias das doações à organização foram muito além dos objetivos declarados. Algumas beneficiaram as próprias iniciativas do bilionário e, indiretamente, a sua família, enquanto outras seguiram para as ‘obsessões’ do filantropo: a fundação deu mais dinheiro à investigação sobre inteligência artificial do que à instituições de caridade mais tradicionais que afirma apoiar.

Tal como acontece com muitas das suas realizações, Musk divulgou publicamente as suas atividades de caridade: o resgate da equipa de futebol de uma caverna tailandesa, doações multimilionárias para o Sierra Club e para a Fundação XPrize, e uma doação de um milhão de dólares para a Fundação Obama foram algumas delas.

Em 2012, Musk juntou-se a bilionários como Michael Bloomberg e Warren Buffett ao assinarem ‘The Giving Pledge’, um compromisso para doar a maior parte da sua riqueza (em vida ou na morte). Musk – que controla a Tesla, a SpaceX e a The Boring Company – vale cerca de 22 mil milhões de dólares, embora quase toda a sua fortuna esteja vinculada às suas próprias empresas.

Musk lançou a sua fundação em 2001, juntamente com o seu irmão mais novo, Kimbal, que atuaria como secretário e tesoureiro da organização. O primeiro grande financiamento de Musk à fundação surgiu no ano seguinte, pouco depois de o eBay comprar o PayPal, a empresa de pagamentos em que Musk tinha interesses. Musk entregou à organização 30 mil ações do eBay, no valor de 2,1 milhões.

Nos primeiros tempos, a fundação fez doações pequenas e sem controvérsias. Entre 2007 e 2014, Musk encheu os cofres da fundação com pouco mais de 3,1 milhões em dinheiro. A lista de seus destinatários cresceu e começou a apresentar mais organizações com ligação a interesses da família de Musk.

Em 2010, a fundação gastou 183 mil dólares para ajudar a lançar a Kitchen Community, uma instituição de caridade com sede no Colorado liderada por Kimbal, que usava jardins de aprendizagem em zonas carentes, para ajudar as crianças a cultivar e preparar alimentos frescos. A Community Kitchen, agora chamada Big Green, arrecadou mais de 47 milhões desde a sua criação.

Entre 2011 e 2013, a fundação também fez duas doações de 50 mil dólares para a escola Mirman para crianças superdotadas em Los Angeles, uma escola que os filhos de Elon Musk frequentavam na época. Musk lançou depois a sua própria escola sem fins lucrativos, a Ad Astra, localizada dentro da sede da SpaceX em Hawthorne, Califórnia, que seus filhos agora frequentam.

Em 2012, o ano em que Musk assinou a promessa de doação, a fundação expandiu os seus horizontes e doou verbas para o Rock and Roll Hall of Fame, a Los Angeles Police Foundation e uma organização sem fins lucrativos para mulheres profissionais no cinema de Nova Iorque.

As regras fiscais estabelecem que as fundações privadas devem distribuir 5% de seus ativos a cada ano. A Musk Foundation teve subitamente que encontrar um lugar para milhões de dólares. Musk voltou-se para uma de suas paixões: a inteligência artificial. Em 2015, havia prometido mil milhões para criar uma empresa de investigação chamada OpenAI, que desenvolveria inteligência artificial mais segura.

“As doações de Elon deram início à investigação de segurança da inteligência artificial, transformando-a em uma área vibrante e respeitável”, disse Max Tegmark, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que recebeu pessoalmente nove milhões de dólares de Musk.

Mas em 2016, o IRS ainda estava a processar a OpenAI, tornando impossível à organização receber doações de caridade. Em vez disso, a Fundação Musk doou 10 milhões a outra jovem instituição de caridade, a YC.org, que não tem um site e assume como objetivo declarado “fazer doações para outras iniciativas e atividades que estão a tentar resolver os problemas do mundo”. Documentos mostram que a organização é dirigida por Sam Altman, diretor da OpenAI e presidente da Y Combinator, uma aceleradora de Sillicom Valley que ajudou a lançar centenas de startups de tecnologia, incluindo a Airbnb, Cruise Automation e Dropbox.

Também em 2016, a Musk Foundation fez o seu maior desembolso até hoje: 37,8 milhões para a Vanguard Charitable, um fundo que serve de veículo de doação que detém dinheiro em nome de vários clientes e os distribui ao longo do tempo. Este tipo de estrutura torna difícil e opaca a aperceção sobre o destino que tomam as doações.

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