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Austrália cria fundo de dois mil milhões de dólares para recuperar comunidades da devastação do fogo

O fundo, que poderá ser reforçado, servirá para investir na reconstrução das comunidades, com especial enfoque nos governos locais, agricultores e produtos do setor primário e pequenos comerciantes. Ontem estavam 245 fogos ativos, que já vitimaram mais de vinte pessoas, pelo menos. Segundo a imprensa local, não resistiram às chamas mais de 1.700 casas e pequenos estabelecimentos comerciais. E estima-se que cerca de 480 milhões de animais tenham perdido a vida. O estado de Nova Gales do Sul tem sido o mais afetado pelos fogos, onde já arderam cerca de cinco milhões de hectares, uma área maior que a Bélgica.
7 Janeiro 2020, 08h03

A Austrália está a arder desde setembro do ano passado. Ontem, sem contar com a Tasmânia, estavam 245 fogos ativos, que já vitimaram mais de vinte pessoas, pelo menos. Segundo a imprensa local, não resistiram às chamas mais de 1.700 casas e pequenos estabelecimentos comerciais. E estima-se que cerca de 480 milhões de animais tenham perdido a vida. O estado de Nova Gales do Sul tem sido o mais afetado pelos fogos, onde já arderam cerca de cinco milhões de hectares, uma área maior que a Bélgica. Ao todo, já arderam quase oito milhões de hectares em todo o território australiano.

 

 

Apesar da destruição, ainda não há fim à vista porque a estação quente ainda não começou. Há uma seca que dura há dois anos e, além disso, o ano passado foi o mais quente de sempre da Austrália desde que há registos. Segundo os dados do Bureau of Meteorology australiano, o equivalente ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera, a temperatura média em 2019 foi 1,52º superior à média de longo-prazo entre 1961 e 1990. O segundo ano mais quente de sempre foi em 2013, seguido de 2005, 2018 e 2017.

Há quem culpe o Homem. Não por ter sido fogo posto, mas porque é o principal responsável pelos níveis dos gases cada vez mais elevados com efeito estufa na atmosfera, proveniente dos combustíveis fósseis. “São a causa subjacente ao calor” que se faz sentir, disse  Mark Howden, diretor da Australian National University Climate Change Institute, ao jornal britânico “The Guardian”.

 

 

 

“É muito claro que os gases com efeito estufa estão a alterar o equilíbrio da radiação na Terra. As outras causas são menor, em comparação”, salientou Mark Howden àquela publicação.

A maior evacuação de pessoas em tempo de paz

Na semana, o Governo australiano, liderado pelo primeira-ministro Scott Morrison, chamou cerca três militares na reserva para combaterem as chamas e ajudar nas evacuações de larga escala, a maior em tempo de paz conduzida naquele país. Milhares de pessoas foram evacuadas na semana passada quando o fogo ameaçava a periferia dos subúrbios de Sydney. Em algumas localidades o céu estava pintado de tons de encarnado devido às chamas intensas.

Segundo a imprensa local e internacional, há relatos de cidades costeiras em Nova Gales do Sul e em Victoria, onde fica a cidade de Melbourne, que foram consumidas pelos fogos, havendo pessoas que se esquivaram das chamas mas que se encontram presas atrás das linhas ativas do fogo, sem eletricidade ou telefone.

“A duração da estação [dos fogos] é sem precendentes”, disse Scott Morrison, numa conferência de imprensa no sábado passado. “A ferocidade e a ausência da chuva que normalmente acabariam por trazer algum controlo a uma estação como esta não estão à vista”, lamentou o primeiro-ministro australiano.

Fundo de recuperação de dois mil milhões de dólares australianos

A devastação levou Scott Morrison a criar um fundo de recuperação no valor de dois mil milhões de dólares australianos (cerca 1,24 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual).

O fundo, que poderá ser reforçado, servirá para investir na reconstrução das comunidades, com especial enfoque nos governos locais, agricultores e produtos do setor primário e pequenos comerciantes. “Este dinheiro será canalizado para os pequenos negócios, as pequenas localididades, para providenciar apoios na saúde mental, investir em infraestruturas sociais e económicas, e ainda na promoção da proteção ambiental e da vida selvagem nativa, que têm sido terrivelmente afetados por estes fogos trágicos”, explicou o primeiro-ministro australiano.

O fundo sserá gerido pelo National Bushfire Recovery Agency, que será liderardo pelo ex-líder da Polícia Federal Australiana, Andrew Colvin.

A sociedade civil mundial angariou 25 milhões de dólares australianos (15,5 milhões de euros)

Devastação animal

A fauna australiana é extremamente variada e está agora ameaçada pelo fogo. Cerca de 83% dos mamíferos são naturais do país, assim como 89% dos reptéis, 90% do peixe e dos insectos e 93% dos anfíbios.

 

https://twitter.com/Justbestials/status/1214234133066665985

 

A imprensa internacional dá conta que os fogos mataram 480 milhões de animais, segundo o professor da Universidade de Sydney e especialista em biodiversidade, Chris Dickman, que chegou a este número com base num relatório de 2007 que co-escreveu sobre a densidade populacional mamífera em Nova Gales do Sul.

No relatório, Chris Dickman estimou que, em média, por cada hectare de floresta, haviam 17,5 mamíferos, 20,7 pássaros e 129,5 répteis.

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