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Avanços nas negociações levam Qatar a apresentar proposta de cessar-fogo a ambas as partes

Após largos meses de violência na Faixa de Gaza e de negociações frustradas entre os representantes israelitas e os do movimento palestiniano Hamas, os mediadores qataris mostram alguma esperança num acordo de cessar-fogo.
A man gestures as Palestinians search for casualties a day after Israeli strikes on houses in Jabalia refugee camp in the northern Gaza Strip, November 1, 2023. REUTERS/Mohammed Al-Masri
13 Janeiro 2025, 20h39

Os mediadores qataris fizeram saber esta segunda-feira que já entregaram aos representantes israelitas e do Hamas a proposta para um cessar-fogo em Gaza, mostrando-se esperançosos que uma suspensão das hostilidades e uma troca de prisioneiros seja finalmente possível. O acordo ainda não foi alcançado, mas os sinais vindos de Israel, da liderança do Hamas e dos enviados norte-americanos são otimistas.

Após 464 dias, a possibilidade de um cessar-fogo na Faixa de Gaza parece mais real do que nunca. Os mediadores do Qatar, o principal intermediário nas conversações que se vêm arrastando há largos meses, fizeram saber esta segunda-feira que houve avanços nas discussões entre israelitas e representantes do Hamas, projetando que um acordo seja possível até ao final da semana.

As negociações em Doha, capital do Qatar, incluíram os representantes máximos da Shin Bet e da Mossad, as agências de inteligência israelitas, além dos enviados da administração Biden e da futura administração Trump para o Médio Oriente. À Reuters, um membro sénior do movimento palestiniano terá admitido estes progressos, enquanto o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Gideon Saar, referiu em conferência de imprensa uma proposta “muito melhor do que antes”.

Tanto o presidente cessante como o regressado Trump têm fortes incentivos para garantir um acordo: para Biden, é a última hipótese de resolver a situação dos reféns antes do fim do seu mandato, enquanto para o novo presidente é um sinal de influência e capacidade de resolução de conflitos ainda antes de chegar ao cargo.

Recorde-se que Trump havia colocado a data da sua tomada de posse, 20 de janeiro, como prazo final para que os reféns israelitas, que incluem cidadãos de dupla nacionalidade norte-americanos, fossem libertados; caso contrário, o novo presidente garante que irá “soltar o inferno” na região.

Não são conhecidos detalhes do acordo, embora este deva incluir uma troca de prisioneiros entre ambas as partes, tal como aconteceu na interrupção de seis dias no final de 2023 que permitiu a libertação de 50 reféns israelitas por 150 detidos palestinianos, muitos deles sob detenção administrativa (uma forma de detenção sem prova ou acusação formada, renovável por períodos sucessivos de seis meses sem limite).

A esperança por um acordo vem após meses de negociações frustradas, com ambos os lados a trocarem acusações de culpa pelo impasse. Recorde-se que, em maio, Washington mostrava esperanças de conseguir que ambas as partes firmassem um cessar-fogo e troca de reféns faseada, apresentando a proposta como vinda de Telaviv. Os responsáveis israelitas rapidamente fizeram saber que rejeitavam aquelas condições.

Em setembro, Biden acusou Netanyahu, primeiro-ministro israelita, de não estar a fazer o suficiente para assegurar a libertação dos reféns, ameaçando mesmo interromper o fornecimento de algumas armas e equipamento militar. A ameaça saiu, no entanto, frustrada, dado que os EUA continuaram com o normal fluxo para o seu maior aliado.

Mais recentemente, no final de 2024, o Qatar acusou ambas as partes de falta de seriedade nas conversações, afastando-se até que houvesse vontade real de atingir um acordo.

A ofensiva israelita em Gaza começou após o ataque de 7 de outubro do Hamas que vitimou 1,195 pessoas, das quais 815 eram civis, e em que cerca de 250 pessoas foram levadas reféns para o enclave. Desde então, o Ministério da Saúde do enclave reporta 46.565 mortes, incluindo 17.492 crianças, além de quase 110 mil feridos e mais de 11 mil desaparecidos.

Dada a destruição sistemática das instalações de saúde e o cerco de 100 dias à zona norte da Faixa, o número real de vítimas da ofensiva israelita deverá ser muito maior. O jornal ‘The Lancet’ publicou este fim-de-semana um estudo no qual estima um impacto cerca de 40% maior do que o reportado em termos de vítimas mortais nos nove primeiros meses de guerra, o que colocaria o balanço no final de junho em mais de 64 mil mortos. Destes, 59% são mulheres, crianças ou idosos.

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