As intervenções públicas do bilionário Elon Musk nos comícios da campanha presidencial do atual presidente, Donald Trump, foram um dos pontos altos de uma caminhada que levou o ‘rei do imobiliário’ de regresso à Casa Branca – dando nota de uma aliança política e de interesses que parecia ter tudo para ir longe. Não foi: a aventura política de Musk acabou e não encerra da melhor forma. Os mais atentos já o tinham percebido: Trump nunca poderia tolerar que os analistas o apresentassem como uma espécie de ‘is master’s voice’ de Tusk – e quando isso sucedeu, percebeu-se que os ‘dias políticos’ do empresário nascido na África do Sul estavam prestes a acabar.
Confirma-se: a imprensa norte-americana dá nota de que o bilionário está a deixar a administração Trump após liderar uma tumultuada campanha de eficiência, durante a qual ele derrubou diversas agências federais, mas acabou por falhar em gerar as economias de gestão que tinha prometido. É, evidentemente, a ‘desculpa’ que a própria administração encontrou: não seria nunca em quatro meses que Tusk conseguiria apresentar os resultados prometidos. O motivo é, por isso, outro.
“O seu afastamento começará hoje à noite”, disse um funcionário da Casa Branca à Reuters na noite de quarta-feira. Musk usou as redes sociais para agradecer ao presidente Donald Trump. Uma saída rápida e sem cerimónias, que, segundo a agência, nem sequer teve direito a uma conversa formal com Trump. Embora as circunstâncias precisas da sua saída não estejam ainda claras, Musk sai um dia depois de criticar o importante projeto de lei tributária de Trump, considerando-a cara demais e uma medida que prejudica o seu empenhamento com o Serviço DOGE – o gabinete para si criado para poupar dinheiro à administração pública. Os comentários do na altura ainda membro da administração irritaram muitos membros próximos do presidente, incluindo o vice-chefe de gabinete Stephen Miller. Segundo a Reuters, a Casa Branca foi forçada a ligar a vários senadores republicanos para reiterar o apoio de Trump ao pacote tributário.
Após a posse de Trump, o bilionário emergiu rapidamente como uma força poderosa na sua órbita. A promessa de que conseguiria cortar pelo menos dois triliões de dólares em gastos federais resultou, para já, em poupanças de 175 mil milhões, número que ainda assim carece de confirmação. E cortou quase 12%, ou 260 mil dos 2,3 milhões de funcionários civis federais, em grande parte por meio de ameaças de demissões e reformas antecipadas.
Mas essa é apenas uma das partes do que sucedeu. Musk – cuja liberdade de ação foi sempre mal-vista por vários membros da administração – teve palavras pouco simpáticas em relação às opções de Trump face à imigração (cuja força de trabalho é necessárias nas suas próprias indústrias), mas também face à política de tarifas (que o bilionário considerou um desastre pré-anunciado).
E se os membros do gabinete acolheram inicialmente a energia outsider de Musk, passaram rapidamente a desconfiar das suas táticas e do seu desalinhamento face ao padrão imposto por Trump. O antigo conselheiro Steve Bannon foi um deles: considerava Musk uma espécie de rapazola sem formação e sem tino, que trataria em pouco tempo de dar cabo da herança agregada no movimento Make America Great Again (MAGA), de que se considera o pai fundador.
Musk entrou em choque com três dos membros mais antigos do gabinete de Trump: o secretário de Estado Marco Rubio, o secretário dos Transportes Sean Duffy e o secretário do Tesouro Scott Bessent. Chamou o assessor comercial de Trump, Peter Navarro, de “idiota” e “mais burro que um saco de tijolos”. Navarro minimizou os insultos, dizendo: “Já fui chamado de coisas piores”. Ao mesmo tempo, Musk começou a insinuar que o seu tempo no governo chegaria ao fim, enquanto expressava alguma frustração por não conseguir cortar gastos de forma mais agressiva. Em teleconferência da Tesla em 22 de abril, sinalizou que reduziria significativamente o seu trabalho governamental para se concentrar nos negócios. As coisas não lhe estavam a correr bem: “a situação da burocracia federal é muito pior do que eu imaginava”, disse ao ‘The Washington Post’ esta semana. “Eu achava que havia problemas, mas certamente é uma batalha árdua tentar melhorar as coisas em Washington, D.C., para dizer o mínimo”. Mas o seu gabinete, o DOGE, vai continuar: “a missão do DOGE só se fortalecerá com o tempo, à medida que se tornar um modo de vida em todo o governo”, disse Musk.
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