Uma população de bacalhau evoluiu para ser menor e escapar das redes, de acordo com uma pesquisa que relaciona a pesca excessiva a mudanças no DNA da espécie.
Bacalhaus que antes seriam maiores que um prato de jantar agora cabem facilmente num, porque os espécimes de crescimento mais rápido comumente capturados para alimentação praticamente desapareceram, descobriram os cientistas.
As mudanças evolutivas impulsionadas pela superexploração humana põem em risco futuras populações da espécie, segundo pesquisadores, que analisaram quase um quarto de século de DNA do peixe.
“Pela primeira vez numa espécie totalmente marinha, fornecemos evidências de mudanças evolutivas nos genomas de uma população de peixes submetida a intensa exploração, o que levou a população à beira do colapso”, disse Kwi Young Han, autor principal da pesquisa publicada na revista Science Advances na última quarta-feira (26).
Pouco mais de um terço dos peixes marinhos comumente capturados para consumo humano são considerados sobrexplorados, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O comprimento médio de maturidade do bacalhau do Báltico oriental foi reduzido pela metade, de 40 cm para cerca de 20 cm desde a década de 1990, segundo pesquisa publicada no ano passado.
A pesca do bacalhau do Báltico oriental está proibida pela União Europeia desde 2019, após uma queda acentuada na população da espécie.
Han e seus colegas analisaram genética e quimicamente pequenos otólitos em 152 bacalhaus capturados entre 1996 e 2019 na bacia de Bornholm, entre a Suécia e a Polônia. Espécimes de crescimento mais rápido quase desapareceram, enquanto peixes que cresciam lentamente e atingiam a maturidade reprodutiva com um tamanho menor predominaram.
Os pesquisadores encontraram evidências da chamada seleção direcional na evolução de variantes genéticas associadas ao crescimento corporal. Isso significava que os peixes de crescimento mais lento se tornaram gradualmente mais comuns e os espécimes de crescimento mais rápido menos frequentes.
Os autores do estudo abriram novos caminhos ao vincular a diminuição do tamanho dos peixes a “genes que são importantes para o crescimento e reprodução dos peixes”, na avaliação do biólogo marinho Malin Pinsky, que estudou o bacalhau do Atlântico.
Embora os peixes tenham evoluído para sobreviver, as mudanças genômicas criaram muitos problemas, de acordo com o biólogo. Peixes menores produzem menos descendentes e o estreitamento genético da espécie prejudica seu potencial de adaptação às mudanças ambientais. Ainda segundo ele, peixes menores são mais vulneráveis a predadores e às mudanças climáticas.
“Estamos preocupados com essas populações e outras semelhantes entrando em colapso ou até mesmo sendo extintas.”
Mudanças evolutivas comparáveis apareceram em espécies como o salmão do Atlântico e provavelmente afetaram outros peixes marinhos intensamente explorados, como anchovas, arenques e atum, segundo Han, que realizou a pesquisa no Centro Helmholtz Geomar para Pesquisa Oceânica de Kiel, na Alemanha.
O estudo forneceu importantes evidências genéticas das pressões de seleção evolutiva exercidas pela pesca, disse Rick Stafford, professor de biologia marinha da Universidade de Bournemouth. “O bacalhau pode viver mais de 30 anos, mas, com os níveis atuais de pesca, é raro encontrar bacalhaus com mais de cinco anos de idade.”
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