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Banca apresenta uma elevada exposição a títulos de dívida pública e a ativos imobiliários

Em 2024, o peso dos títulos de dívida pública no ativo aumentou para 19% (+3,3 pp face ao final de 2023), mantendo-se a tendência de redução da proporção de dívida pública portuguesa. Do lado do imobiliário, o banco central diz que a concretização de uma conjuntura adversa deverá ter um impacto limitado no mercado imobiliário português, que representava 25% do ativo dos bancos.
21 Maio 2025, 15h23

O sistema bancário português apresenta uma elevada exposição a títulos de dívida pública, a ativos imobiliários e, em menor escala, a ativos emitidos por outros subsetores do setor financeiro nacional. Os dados são do Relatório de Estabilidade Financeira de maio de 2025.

Em 2024, o peso dos títulos de dívida pública no ativo aumentou para 19% (+3,3 pp face ao final de 2023), mantendo-se a tendência de redução da proporção de dívida pública portuguesa. O Banco de Portugal explica que este movimento ocorre num contexto de evolução moderada do crédito e redução do rácio de transformação, o que levou os bancos a expandir as suas carteiras de títulos de dívida pública.

Esta expansão tem sido acompanhada por uma maior diversificação geográfica.

Com base na informação da atividade doméstica, que não considera a atividade desenvolvida por filiais no estrangeiro, o peso da dívida pública portuguesa diminuiu 49 pp nos últimos dez anos, para 30%, enquanto o peso da exposição a países da área do euro tem aumentado gradualmente, atingindo 57%.

Na carteira de dívida pública destaca-se a exposição a Espanha, Itália, França (totalizando 45%) e, em menor grau, a Bélgica, Alemanha, Irlanda e Países Baixos (totalizando 11%) e aos EUA (3%).

Em 2024, verificou-se ainda um aumento significativo da exposição a instituições supranacionais, refletindo a emissão de obrigações por parte da Comissão Europeia (9%). O relatório revela que os títulos de dívida pública a custo amortizado continuam a ser a principal componente desta carteira.

Apesar do aumento geral da exposição, verificou-se uma redução do peso dos títulos a custo amortizado, para 73% (-7 pp), por contrapartida de um aumento do peso dos títulos a justo valor, cujas alterações de valor impactam capital e resultados.

A significativa alteração da composição desta carteira nos últimos dez anos, aliada à redução da sua duração média observada em anos recentes, mitiga o impacto das alterações de mercado sobre o balanço dos bancos. No entanto, eventuais perdas latentes que se acumulem nesta carteira terão de ser reconhecidas em caso de venda destes instrumentos.

“Não se antecipam implicações negativas para o setor bancário no que respeita à qualidade creditícia dos ativos. A exposição a títulos soberanos e a bancos centrais não assume relevância creditícia e a carteira de crédito tem apresentado uma tendência de redução da exposição a clientes de maior risco”, revela o relatório.

“O reforço das carteiras de títulos de dívida implica, contudo, um aumento da exposição ao risco de mercado, nomeadamente a eventuais perdas associadas a comportamentos de aversão ao risco por parte dos investidores. Esse risco é mitigado pela preponderância de instrumentos de dívida pública nas carteiras de investimento, três quartos dos quais registados a custo amortizado, e por fatores como a diversificação geográfica, a gestão das maturidades e a contratação de instrumentos de cobertura”, lê-se no documento.

No atual enquadramento de política monetária do Eurosistema, em que os títulos de dívida pública são considerados ativos líquidos de elevada qualidade, a probabilidade de  vir a realizar (eventuais) perdas (latentes) por venda forçada desses títulos, num cenário de choque de liquidez, é reduzida. Não obstante, tal não impede que, em contextos de maior incerteza e volatilidade, um peso considerável de títulos soberanos registados a custo amortizado possa ser um fator relevante na avaliação feita por investidores e clientes.

O aumento da carteira de títulos de dívida a taxa fixa poderá ter implicações negativas sobre a rendibilidade.

A concretização de uma conjuntura adversa deverá ter um impacto limitado no mercado imobiliário português, que representava 25% do ativo dos bancos. “Perante o ajustamento lento da oferta, o aumento dos preços no segmento residencial tem sido sustentado pelo crescimento da população estrangeira residente, pelo aumento do rendimento disponível das famílias e pelo recente ciclo de descida das taxas de juro”, refere o Banco de Portugal que acrescenta que a exposição dos bancos, sob a forma de empréstimos à habitação, é mitigada pela baixa percentagem do valor do imóvel financiada pelo empréstimo e pela contenção da taxa de esforço”.

Os empréstimos a famílias garantidos por imóveis continuam a ser a principal componente da  exposição ao setor imobiliário, representando 25% do ativo em dezembro de 2024 com uma reduzida fração de empréstimos com rácios LTV e LSTI elevados. Considerando uma amostra representativa dos empréstimos à habitação, 85% apresentam rácios LTV e LSTI entre 0-80% e 0-40%, respetivamente, indicando um menor risco. A percentagem da carteira que combina rácios elevados (acima de 80% e 40%, respetivamente), situação que potencia a materialização de riscos, é muito reduzida (0,4%), refere o relatório.

Os empréstimos a empresas dos setores da construção e atividades imobiliárias são ainda uma componente relevante da exposição ao setor imobiliário (4% do ativo), embora a sua importância tenha vindo a diminuir ao longo dos últimos quinze anos, realça o banco central.

Em 2024, a exposição dos bancos a contrapartes do setor financeiro português fixou-se em 14% do seu ativo, menos 8 pp do que em 2012, segundo o documento.

“A maior parte dessa exposição continua a ser dirigida a bancos residentes, sob a forma de depósitos e títulos de dívida, representando 11% do total. Estas mudanças contribuíram para diminuir o risco de transmissão e amplificação de choques adversos através de interligações no setor financeiro nacional, nomeadamente via exposições a contrapartes não residentes, como os títulos de dívida pública não doméstica (Tema em destaque — Interligação e contágio em Portugal — uma perspetiva entre países)”.

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