Os investidores estão com o foco na época de apresentação de resultados do terceiro trimestre que arranca esta sexta-feira 13 em Wall Street com os números da banca (JPMorgan, Citigroup, Wells Fargo) a que se junta a BlackRock.
Os analistas estimam que este vai ser o último de quatro trimestres com queda homóloga nos lucros, pelo que as perspetivas que as cotadas apresentarem podem ser determinantes para o rumo das bolsas até ao final do ano. Mas no caso específico da banca, o mercado está cauteloso porque espera um agravamento substancial nas provisões para fazer face ao crédito malparado, bem como às perdas potenciais com a carteira de obrigações do tesouro.
O que esperar do sector bancário e a que é que os analistas prestarão atenção?
Segundo os analistas da XTB, os investidores esperam que os grandes bancos sejam os “beneficiários” da situação mais fraca dos bancos regionais, que se debatem com a saída de clientes e as perdas em obrigações e imóveis comerciais.
“O mercado vê o JP Morgan em particular (rácio CET1 de 13,8%) como o principal vencedor – espera-se que o Wells Fargo e o Citigroup tenham um desempenho significativamente mais fraco”, referem os analistas da XTB.
Os analistas do JP Morgan não esperam saídas de depósitos ou problemas de liquidez nos grandes bancos. Salientam que, mesmo em março e abril de 2023, os grandes bancos dos EUA não registaram saídas de depósitos e, contrariamente às expectativas de alguns analistas, registaram um crescimento dos depósitos – aumentando a liquidez e oferecendo novas oportunidades de negócio.
JP Morgan
“Os analistas do índice KBW indicaram recentemente que as ações do JP Morgan poderiam comportar-se melhor devido à crescente quota de mercado do gigante bancário, ao aumento dos volumes de depósitos e dos volumes e a uma melhoria global dos resultados líquidos em 2023”, avança a XTB.
Os dados da Bloomberg sugerem que o banco deverá registar a taxa de crescimento mais forte entre os bancos de investimento dos EUA. Prevê-se que as provisões para perdas com empréstimos cresçam 16% em relação ao ano anterior.
“Um aumento da carteira de empréstimos do banco, indiretamente resultante também da aquisição do falido First Republic Bank, poderá traduzir-se em lucros adicionais decorrentes de taxas de juro mais elevadas”, destacam.
Receitas estimadas para o gigante de Wall Street oscilam entre 39,55 mil milhões de dólares (crescimento de 19% face ao ano anterior).
A estimativa de lucros por ação (EPS) é 3,9 dólares por ação contra 3,53 dólares por ação no terceiro trimestre de 2022, o que traduz um aumento de 29% em relação ao ano anterior.Mas compara com 4,98 dólares por ação no segundo trimestre deste ano.
A margem líquida de juros deverá situar-se em 2,63% o que compara com 2,62% no 3.º trimestre de 2022.
Os custos operacionais são estimados em 22 mil milhões de dólares contra 19,2 mil milhões de dólares no 3.º trimestre de 2022.
Wells Fargo
A XTB diz que os analistas salientaram que “o banco está a recuperar lentamente da turbulência regulamentar, na qual reembolsou recentemente 35 milhões de dólares em comissões cobradas aos clientes, apesar dos descontos prometidos nas comissões das contas de corretagem”.
“Espera-se que os ganhos com hipotecas caiam 40% a partir do terceiro trimestre de 2022, face à redução da procura de hipotecas sobrecarregadas por taxas de juro elevadas. Os analistas esperam também uma descida de 1% nos depósitos médios, mas um aumento de quase 50% nas provisões para perdas com empréstimos em relação ao segundo trimestre de 2023”, avança a XTB.
Para o Wells Fargo as receitas estimadas somam 21,11 mil milhões de dólares (um modesto aumento de 3% em relação ao ano anterior). O lucro por ação estimado é de 1,26 dólares por ação (ou seja, um aumento de 48% em relação ao ano anterior, altura em que foi afetado por perdas operacionais).
Os custos operacionais devem atingir os 12,7 mil milhões de dólares, o que compara com 12,1 mil milhões no segundo trimestre de 2022.
As receitas de comissões esperadas somam 1,4 mil milhões de dólares contra 1,7 mil milhões de dólares no 2.º trimestre de 2023.
Citigroup
Por fim, o Citigroup está a passar por uma reestruturação em que as suas divisões de banca de consumo no estrangeiro estão a ser vendidas.
A XTB diz que o mercado aguardará os comentários da CEO Jane Fraser sobre a reestruturação em curso e (possivelmente) possíveis cortes de empregos.
As provisões para perdas com empréstimos deverão aumentar 9% no terceiro trimestre.
Wall Street espera que a carteira de empréstimos e a receita de juros do Citigroup se beneficiem da exposição aos cartões de crédito e da normalização da dinâmica desse sector no terceiro trimestre, segundo a XTB.
O mercado espera que os custos do banco aumentem em relação ao trimestre anterior e em relação ao ano anterior (13,8 mil milhões de dólares contra 12,7 mil milhões de dólares no terceiro trimestre de 2022), “mas o Citi ainda está no bom caminho para cumprir a sua orientação de custos anuais de não mais de 54 mil milhões de dólares (excluindo o impacto do FDIC)”, acrescenta a XTB.
A corretora estima que as receitas do Citi atinjam 19,22 mil milhões de dólares (mais 4% em termos homólogos).
A estimativa de lucros por ação (EPS) é de 1,23 dólares por ação versus 1,37 dólares no segundo trimestre de 2023 (estimado em 1,32 dólares na altura).
Toda a banca de Wall Street deverá mostrar no terceiro trimestre que as taxas de juro mais elevadas e as saídas de depósitos de bancos pequenos para bancos grandes e “mais seguros”, com uma economia ainda forte, “podem favorecer o desempenho dos cinco maiores bancos dos EUA – embora os riscos e os sérios desafios sejam evidentes no horizonte”, diz a XTB.
Os bancos estão a competir entre si, oferecendo aos depositantes taxas de juro cada vez mais elevadas – estão também a lutar contra os fundos do mercado monetário, que começaram a pagar até mais de 5,5% a indivíduos e empresas que querem investir capital de forma passiva.
“O sector dos bancos regionais parece estar numa situação particularmente problemática e terá muita dificuldade em competir com as maiores instituições. A época dos bancos regionais começará com a apresentação da holding US Bancorp, a 18 de outubro, antes da abertura da sessão”, acrescenta a XTB.
A XTB destaca que após o colapso de três bancos de média dimensão na primavera de 2023, o mercado está tranquilo quanto ao facto de as maiores instituições norte-americanas “poderem sair da crise com os pés bem assentes na terra e estarem a posicionar-se bem para beneficiarem da força (ainda) contínua da economia dos EUA e de taxas de juro mais elevadas, com um impacto positivo nas receitas de juros”.
Por outro lado, têm de enfrentar mais concorrência e oferecer aos depositantes taxas de juro mais elevadas sobre os depósitos. “Além disso, a atividade (e a procura) de crédito ao consumo pode diminuir em 2024, quando a economia abrandar num ambiente de crédito dispendioso”, acrescenta a XTB.
Os analistas da Pimco esperam que o crescimento da economia dos EUA enfraqueça no final deste ano e “paire” entre a estagnação e uma recessão ligeira em 2024, destacam os analistas da corretora que consideram que “os desafios são, sem dúvida, consideráveis, mas, ao contrário dos pequenos banco, as maiores instituições podem contar com mais ajuda da Reserva Federal e acesso a fundos da janela de empréstimo”.
Do mesmo modo, “Wall Street não vê entre elas uma oportunidade considerável para materializar os riscos sistémicos associados a perdas crescentes em obrigações ou imóveis comerciais (aos quais os bancos regionais têm uma exposição relativamente maior e potencialmente mais perigosa)”.
“Além disso, os investidores esperam que o capital flua para os maiores bancos – fugindo dos pequenos credores regionais instáveis”, acrescenta a XTB.
Na próxima semana serão conhecidos os resultados do Bank of America, Goldman Sachs (ambos a 17 de outubro) e Morgan Stanley (a 18 de outubro)
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