A subida das taxas de juro tem vindo a dar um forte contributo para o crescimento da margem financeira dos bancos portugueses, catapultando os seus lucros. A diferença entre os juros recebidos nos créditos e aqueles pagos nos depósitos contribuiu com 79,3% para o aumento do produto bancário, uma percentagem que fica quase 30% acima da média da banca europeia. As instituições financeiras nacionais estão na oitava posição entre as que mais beneficiaram do contexto de juros elevados numa lista de três dezenas de países do espaço económico europeu.
O Banco Central Europeu (BCE) iniciou a subida dos juros em 2022 para combater a escalada da inflação, agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, com a taxa de depósitos a alcançar um máximo histórico de 4% ao longo deste ciclo. Um movimento que impulsionou o produto bancário dos bancos europeus, à boleia da margem financeira, com destaque para os portugueses. Por cá, o sector financeiro ganhou 27,3% mais com a subida das taxas de juro em comparação com a média europeia de 62,3%, mostram os dados referente ao primeiro trimestre divulgados recentemente pela Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês).
No conjunto dos primeiros três meses do ano, os maiores bancos nacionais – Caixa Geral de Depósitos, BCP, Novobanco, Santander e BPI – viram a margem financeira crescer 20% para 2,4 mil milhões de euros, beneficiando do facto de os contratos a taxa variável representarem 86,2% do número de contratos em carteira e 79,1% do saldo em dívida, de acordo com o relatório de acompanhamento dos mercados de crédito referente a 2023 divulgado na semana passada pelo Banco de Portugal.
Além da preponderância da taxa variável, que tornou automático o impacto dos juros mais elevados nos créditos, a ajudar o sector financeiro a apresentar uma margem financeira tão expressiva esteve a política de remuneração das poupanças. Enquanto noutros países, as taxas dos depósitos acompanharam mais de perto a evolução dos juros do BCE, em Portugal a taxa média dos novos depósitos demorou a descolar, com o país a ficar na cauda da Europa. A taxa média está atualmente nos 2,72%, contra os 3,09% da Zona Euro.
Os bancos nacionais só são superados nesta análise comparativa, realizada pela EBA, por sete outros países do espaço económico europeu, entre eles Espanha, onde a margem financeira contribuiu com 81,1% para o produto bancário. No primeiro lugar surge a Lituânia (97,8%), seguida pela Polónia (87,3%) e Malta (86,1%). Na última posição deste ranking está o Liechtenstein, com uma contribuição de 19,9%, enquanto, em França, a margem contribuiu com apenas 41,1%, na Alemanha com 53% e em Itália com 59,4%.
Margem já atingiu “pico”
Os banqueiros portugueses já admitiram, porém, que a margem financeira atingiu um “pico” e que a tendência será agora de descida, numa altura em que o banco central liderado por Christine Lagarde iniciou a inversão da política monetária com o primeiro corte dos juros, após sucessivas subidas, a ser realizado na reunião de junho. E não deve ficar por aqui. Mais de 80% dos economistas ouvidos pela “Reuters” preveem que o BCE reduza novamente as taxas nas reuniões de setembro e dezembro.
A própria EBA refere isso mesmo no seu mais recente relatório. “A rentabilidade dos bancos europeus aumentou significativamente em 2023, à boleia de uma grande subida da margem financeira”, diz a entidade liderada por José Manuel Campa, notando que, “de forma geral, os bancos conseguiram beneficiar da subida das taxas de juro e reforçar as suas margens”.
Porém, “depois de uma estabilização da margem financeira em meados de 2023, alguns indicadores de rentabilidade começaram a mostrar os primeiros sinais de descida”, num cenário em que “as taxas de juro já devem ter alcançado o seu pico”. Nesse sentido, frisa, “é expectável que o cenário de taxas de juro futuro afete negativamente a margem financeira dos bancos”.
A descida dos juros pode, por outro lado, aumentar a procura dos portugueses por crédito, nomeadamente para a compra de casa, depois de um período de quebra perante o agravamento dos custos de financiamento. Como o Jornal Económico escreveu, o mesmo relatório da EBA mostra que o crédito às famílias deverá crescer menos de 1% este ano, mas que vai acelerar nos próximos anos. A projeção aponta para um crescimento de 3% em 2025 e de 3,4% em 2026.
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