Celeste Hagatong, presidente do conselho de administração do Banco Português de Fomento (BPF), falava na conferência “Consolidar para Crescer – O papel do M&A na competitividade da economia”, organizada pelo Jornal Económico.
“O Banco de Fomento está a gerir os fundos do PRR para capital e quase-capital no montante de 1,3 mil milhões de euros, e tem duas tranches em cada um dos programas. Um para consolidar empresas (Programa Consolidar) e tem um programa para empresas que estão na primeira fase”, lembrou a gestora.
“O que temos praticamente contratado (com as capitais de risco e diretamente) – nos programas de consolidar e de start-ups – está próximo dos 900 milhões de euros, desde janeiro de 2023 até agora, o que foi duro”, revelou a presidente do BPF.
A presidente do BPF referia-se ao facto de o Fundo de Capitalização e Resiliência (FdCR), lançado no contexto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e gerido pelo Banco Português de Fomento (BPF), com uma dotação global inicial de 1.300 milhões de euros, ter terminado o ano de 2023 com 864 milhões de euros em operações contratadas, representando 67% da dotação global e superando em 214 milhões de euros (cerca de 33%) a meta de 650 milhões de euros, prevista no Acordo Operacional do PRR reprogramado.
“Os dois programas (Consolidar e Start-ups) têm duas formas de distribuição, ou as empresas vão ao banco ou nós selecionamos as capitais de risco e as empresas vão diretamente às capitais de risco e são estas que gerem pequenas tranches do volume global”, explicou Celeste Hagatong.
Recorde-se que o Banco de Fomento lançou o Programa de Coinvestimento Deal-by-Deal e o Programa de Venture Capital que se destinam a pequenas e médias empresas emergentes e de grande crescimento, conhecidas como start-ups e scaleups.
Celeste Hagatong falou ainda da falta de recursos humanos no Banco de Fomento e apontou as dificuldades de “lidar com o Estado”. O banco promocional precisa de autorizações regulamentares para recrutar.
O programa de recapitalização estratégica, que o BPF gere diretamente, consiste numa linha que tem cerca de 200 milhões e é para capital ou quase capital, “neste momento estão já aprovadas operações que estão acima dos 50% desta linha e já temos operações em pipeline”.
O programa Consolidar é cerca de 500 milhões e está praticamente todo contratado com as capitais de risco, acrescentou.
“Nós não entramos sozinhos nessas empresas, é obrigatório pelas regras do programa que pelo menos haja 30% de capital privado independente (da empresa) que entre no capital”, explicou.
No programa Consolidar a comparticipação máxima pelo FdCR (Fundo de Capitalização e Resiliência) é de 70% da dotação total de cada fundo de capital de risco. Portanto os fundos conseguem alavancar pelo menos 30% do montante para investir nas empresas.
Este programa destina-se a apoiar a subscrição de fundos de capital de risco para investimento em PME e Mid Caps, impactadas pela pandemia de Covid-19, mas economicamente viáveis e com potencial de recuperação.
O Programa Consolidar pretende promover o crescimento, expansão, consolidação de projetos empresariais, bem como o desenvolvimento de “Há aqui novas áreas de negócio e novos produtos, através da restruturação dos respetivos modelos de negócio e a profissionalização e reforço da equipa de gestão dos Beneficiários Finais.
“Há aqui um ponto que levantou problemas que se refere ao facto de não estarem contempladas no programa as aquisições com os fundos do PRR. Os fundos públicos não podem ser usados no financiamento de uma aquisição, mas podem ser chamados para o investimento na reestruturação”, explicou Celeste Hagatong que sublinhou que é uma regra da União Europeia.
“Agora fusões podem fazer as que quiserem”, disse ainda.
“Num país que tem pouco capital eu diria que faz sentido olhar mais para as fusões, juntar dois capitais e criar uma empresa maior e cada acionista fica com metade de uma empresa maior”, defendeu a gestora que reconheceu que há dificuldade em Portugal em fusões por uma questão de mentalidade.
“Nós temos mais de 300 mil empresas, das quais 96% são micro empresas de baixo valor acrescentado, porque se compararmos com outros países europeus, o valor acrescentado dessas micro empresas é maior porque são start-ups e empresas de inovação, enquanto que em Portugal são restaurantes”, acrescentou.
Celeste Hagatong lembrou a sequência fatídica de acontecimentos, o Covid-19, a guerra na Europa, a inflação, a subida das taxas de juro, conflito de israel, e ainda para ajudar mais o problema do mar vermelho que é dramático nas exportações para a Europa.
Mas há também oportunidades, defendeu a gestora, falando dos fundos comunitários que vieram ajudar a recompor a economia portuguesa. Não são só os fundos do PRR, mas também os fundos sectoriais.
“Não podemos é deixar de não utilizar os fundos a que temos acesso”, disse.
“Estes fundos obrigam a um trabalho conjunto entre bancos, Banco de Fomento, private equities. Se nos juntarmos para promover estas fusões e aquisições era fantástico, por isso já assinámos protocolos com vários bancos, mas infelizmente ainda não temos resultados”, disse.
A presidente do BPF sublinhou que os fundos do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) foram também fundamentais para desenvolver a atividade de private equity em Portugal, referindo-se ao Programa Consolidar.
“Posso dizer que no último concurso para o Programa de Venture Capital, o número de propostas ultrapassou 60 e o montante dos fundos era três vezes o montante disponível”, disse Celeste Hagatong.
O que se pode fazer para consolidar as empresas? Uma das formas é ter investimento estrangeiro, como por exemplo a Autoeuropa que criou um cluster.
“Consolidar as empresas é absolutamente indispensável, pedir a ajuda dos todos os atores deste ecossistema, temos de tornar o ambiente cada vez agradável para estas fusões, sobretudo na parte fiscal, pelo menos até determinado limite. Por último gostava de ter visto este programa (PRR) ligado ao acesso destas empresas ao mercado de capitais. Isto não está no programa nem nos objetivos, mas considero que devia ser um objetivo e que faz todo o sentido”, defendeu.
Sem dimensão, “é impossível reter talento, pagar melhores salários, é impossível fazer crescer a economia e é impossível fazer os investimentos rápidos que o sector empresarial tem de fazer para se adaptar às novas condições”.
É preciso tornar as empresas portuguesas mais eficientes, com mais ganhos de produtividade e estarem mais preparadas para os desafios. Nem tudo é compras e vendas, pode ser crescimento orgânico. Mas exige a realização de novos investimentos.
Um dos pontos essenciais para as empresas ganharem massa crítica é a abordagem aos mercados externos, exportarem mais. Mas nas mais pequenas empresas, a exportação é apenas para um país, um produto e com valores muito baixos, típico das micro-empresas.
“O que é importante é o empresário ser bom gestor e ter ambição”, referiu a presidente do BPF, que citou a “Pedra Filosofal”, para dizer que não chega ser bom gestor é preciso ter o sonho para fazer crescer as empresas.
“O que é bom nos private equities é que muitas vezes transformam a gestão da empresa, dá-lhe mais profissionalismo à gestão e mais estratégia”, disse ainda.
As fases para as empresas crescerem seguem muito uma sequência, entrada de capital de risco, depois uma fase de emissão de obrigações em mercados e depois entrada em Bolsa, frisou a gestora.
“Temos de ter a certeza que os fundos saem em 2024 e 2025 e que são entregues aos beneficiários finais. As estimativas das capitais de risco são muito positivas”, acrescentou.
Celeste Hagatong defendeu ainda, perante uma plateia onde constava o vice-presidente do BCP, João Nuno Palma, que a banca “deve retomar a visita a clientes”.
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