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BCE apoia demasiadas empresas poluentes, acusa Greenpeace

O estudo demonstra que 63% das obrigações privadas adquiridas pelo BCE vêm de setores que utilizam as energias fósseis ou consomem muita energia, num ‘stock’ de cerca de 242 mil milhões de euros de títulos detidos pelo banco central no final de julho.
20 Outubro 2020, 20h45

A organização ambientalista Greenpeace apontou esta terça-feira que a dívida privada adquirida pelo Banco Central Europeu (BCE) no seu programa de compra de ativos favorece empresas que recorrem a energias fósseis, de acordo com um estudo.

No mercado europeu de obrigações de empresas, a carteira de ativos do BCE demonstra “um desequilíbrio significativo a favor das empresas e das indústrias prejudiciais ao clima”, segundo um estudo conjunto publicado pela Greenpeace, pelas universidades de Londres, do Oeste de Inglaterra, de Greenwich e do grupo de reflexão New Economics Foundation (NEF).

A sua análise, citada pela agência France-Presse (AFP), demonstra que 63% das obrigações privadas adquiridas pelo BCE vêm de setores que utilizam as energias fósseis ou consomem muita energia, num ‘stock’ de cerca de 242 mil milhões de euros de títulos detidos pelo banco central no final de julho.

Para apoiar a atividade da zona euro, o BCE lançou em 2015 um programa de compras maciças de dívida essencialmente pública, mas também privada – o programa expansivo ‘quantitative easing’ – visando injetar liquidez na economia.

O BCE já criou cerca de 2.800 mil milhões de euros de moeda com os efeitos sobre o emprego e a conjuntura.

As compras da instituição respeitam um princípio de “neutralidade”: os títulos são adquiridos em função da sua duração, volume e notação financeira, mas ignora o critério ambiental.

“O BCE precisa de uma nova orientação mais respeitadora do clima. Para a fazer, deve alinhar o mais rapidamente possível a sua política monetária com os objetivos climáticos do acordo de Paris e estabelecer o enquadramento de um sistema financeiro europeu ‘verde'”, apelou num comunicado Mauricio Vargas, especialista financeiro da Greenpeace citado pela AFP.

Numa entrevista publicada na segunda-feira pelo diário francês “Le Monde”, a presidente do BCE, Christine Lagarde, explicou que “tentou treinar o Conselho de Governadores” da instituição a “pelo menos aceitar interrogar-se sobre a ação legítima de um banco central para participar na luta contra as alterações climátivas”.

As alterações climáticas são um dos temas que Lagarde pretende introduzir na “revisão estratégica” do mandato do BCE, lançada pouco depois da sua chegada à presidência da instituição, há quase um ano.

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