A inflação continuou a descer marcadamente em novembro, tanto em Portugal, como na zona euro, uma notícia que os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) certamente receberão de braços abertos. A economia europeia voltou a marcar passo no terceiro trimestre, aumentando a probabilidade percepcionada pelo mercado de cortes dos juros já na primeira metade do próximo ano, isto apesar das tentativas pela autoridade monetária de manter um discurso agressivo contra a pressão nos preços.
O indicador de preços recuou para 1,6% em termos homólogos na economia portuguesa, o valor mais baixo em dois anos, depois de ter ficado em 2,1% no mês anterior. Numa leitura em cadeia, os preços recuaram 0,3%, dando continuidade à queda de 0,2% do mês anterior. Já o espaço da moeda única viu o indicador homólogo desacelerar para 2,4%, uma descida assinalável em relação aos 2,9% de outubro e abaixo da expectativa do mercado, de 2,7%.
Estas leituras mostram o alívio do fenómeno dos preços no continente europeu, algo ainda mais evidente olhando para a taxa subjacente na zona euro: de 4,2% em outubro, o indicador caiu para 3,6%, pulverizando a projeção de 3,9%. Assim sendo, e apesar do inegável impacto da componente energética no alívio no indicador nominal, verifica-se de facto uma aceleração do processo de desinflação no bloco da moeda única.
No caso português, e com uma economia menos exposta à crise energética dos últimos dois anos, a variação nos preços demonstrou ser menos persistente do que noutros Estados-membros, como se comprova pelas leituras mais recentes da inflação. No entanto, nem tudo são vantagens: “Portugal encontra-se numa posição sistematicamente mais sensível à política monetária, por via da maior percentagem de crédito a taxa variável”, lembra Pedro Brinca, economista e professor universitário.
“Os economistas acreditam que o maior impacto da subida das taxas de juro diretoras, sente-se passados 12 a 18 meses. Ora, o grosso da subida das taxas de juro foi precisamente nos últimos 12 meses, pelo que o futuro inspira de facto alguma cautela, em particular quando zona euro e Portugal cresceram em terreno negativo no último trimestre”, acrescenta.
Precisamente olhando ao crescimento negativo em cadeia do bloco euro no terceiro trimestre, o mercado começa a projetar cortes de juros já na primeira metade de 2024. Perante este cenário, a análise da Pantheon Macro reforça a projeção de cortes já em março, alertando que o BCE pode estar a ocorrer num erro de cálculo.
“Uma coisa é sinalizar que as taxas podem ficar ‘mais altas durante mais tempo’ como resultado de riscos pós-Covid e da guerra na Ucrânia, algo com que concordamos; outra é ignorar a realidade, que mostra agora que as previsões do BCE de setembro, que têm motivado mensagens relativamente hawkish nos últimos meses, parecem agora irremediavelmente fora de validade”, lê-se na nota do think-tank.
Esta visão é secundada pela Ebury, que denota que “as swaps estão agora a atribuir mais de 50% de probabilidade de um ciclo de alívio a começar já em março de 2024”, o que contrariaria radicalmente o discurso do banco central nos últimos meses.
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