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BCP sobe lucros 0,3% para 302 milhões de euros em 2019

O maior banco privado português apresentou os resultados anuais e reportou 302 milhões de euros de lucros, mais 0,3% do que em 2018. Os impactos negativos com os ativos por impostos diferidos e as provisões na Polónia penalizaram as contas. Mas este foi o resultado líquido mais alto desde 2008.
  • Miguel A. Lopes/Lusa
20 Fevereiro 2020, 17h17

O Millennium BCP registou um lucro consolidado de 302 milhões em 2019, o que representa uma subida moderada face a 2018. Mas o resultado recorrente melhorou 29% para 87,8 milhões de euros.

O BCP tinha registado em 2018 um aumento de 61,5% do seu lucro líquido para 301,1 milhões de euros, e tinha sido suportado na atividade em Portugal e no exterior e pela redução de imparidades e provisões. E em 2017 o banco tinha reportado um lucro de 186,4 milhões de euros.

Miguel Maya explicou que a atividade teve impactos negativos decorrentes da alteração legislativa relativa à equivalência dos custos contabilísticos aos custos fiscais o que em conjunto com os juros negativos travou a subida dos lucros.

“O ano de 2019 foi adverso para o sector bancário, nomeadamente devido à a política monetária e ao impacto nas taxas de juro, que vão permanecer baixas por um período mais longo no tempo.  Mas também a guerra comercial e Brexit, que se traduz num abrandamento na actividade económica”.

O BCP teve um conjunto de vicissitudes que lhe são específicas e que impactaram os resultados de forma negativa, disse o CEO do Banco.

Os impactos negativos nos resultados líquidos somam 86,9 milhões de euros.

O Bank Millennium decidiu constituir uma provisão extraordinária de 223 milhões de zlotys (cerca de 52 milhões de euros) que impactou na conta de resultados consolidados em 26 milhões, para salvaguardar responsabilidades com processos judiciais relacionados com os créditos concedidos em francos suíços, o que penalizou os resultados no quarto trimestre.

O maior efeito negativo veio do impacto fiscal não habitual, decorrente do desreconhecimento de ativos por impostos diferidos, e que somou 53,8 milhões de euros. O CEO do BCP salientou ainda o impacto negativo de 11 milhões dos custos de integração do EuroBank.

O efeito das taxas de juro negativas nas participações em seguradoras foi negativo em 8,6 milhões, ao passo que os custos com pessoal (reestruturação e compensação pelo ajuste temporário) afectaram em 9,2 milhões os resultados de 2019.

Há também a destacar os custos com colaboradores, com a compensação extraordinária salarial, os custos de reestruturação e custos com pessoal num ano em que o banco reforçou o seu quadro em 109 pessoas “porque foi preciso reforçar as linhas de defesa do BCP e as competências na área digital”.

Destaque ainda para o crescimento das contribuições obrigatórias que impactou negativamente em 7,3 milhões. As contribuições obrigatórias subiram 11,1% para 153,3 milhões. Em Portugal para o setor bancário foram 31,8 milhões em 2019 e para o Fundo de Resolução português foram 16 milhões.

Miguel Maya voltou a queixar-se dos custos de 47 milhões ao ano com o mecanismo de capital contingente do Fundo de Resolução, que capitaliza o Novo Banco. “O que só afecta os bancos com sede em Portugal e que criam emprego no nosso país”, apesar de estarem a operar cá sucursais de outros bancos da zona euro, à revelia da lógica inerente à criação da União Bancária, salientou o banqueiro. Maya lembrou o contexto regulatório nacional que obriga a reflectir as taxas de juro negativas no crédito à habitação e impede os juros negativos nos depósitos. A impossibilidade de cobrar comissões nalguns serviços, também foi invocado pelo CEO.

O BCP sublinhou a aceleração do programa de redução de NPE (crédito malparado) mais do que o orçamentado. O que tem um custo adicional.

Pela positiva, destacaram-se as mais-valias em dívida pública portuguesa. Os resultados de operações financeiras dispararam de 78,5 milhões em 2018 para 143,3 milhões em 2019 nas contas consolidadas. Só em Portugal a venda de dívida também ajudou ao produto bancário ao ter subido de 12,3 milhões para 51,5 milhões de euros. Esta opção de obter resultados com venda de dívida pública compromete a margem financeira no futuro, mas os administradores do banco desvalorizaram essa questão.

Estes são os melhores resultados desde 2007 altura em que obteve 536 milhões de lucros. Mas em 2008 o BCP registou 201,2 milhões de euros de lucros e desde então foi sempre abaixo dos 302 milhões.

Os resultados antes de impostos subiram acima dos dois dígitos (12,4% para 627,3 milhões) e teriam subido mais sem os custos extraordinários com pensões, ativos por impostos diferidos e Polónia.

Em termos de eficiência (cost-to-income) o BCP compara bem com os seus pares em Portugal e na Europa, ao estar nos 47%.

Em Portugal os resultados antes de impostos subiram 79% e caíram 14,4% no estrangeiro.

Os proveitos “core” (margem e comissões) subiram  6,9% para 2.252 milhões. A margem financeira melhorou 8,8% para 1.548,5 milhões e as comissões evoluem 2,8% para 703,5 milhões. O BCP é assim o único dos grandes bancos que vê uma subida do lucro em paralelo com a subida da margem financeira.

As imparidades para crédito caíram 16% para 390,2 milhões e as outras imparidades cresceram 11% para 151,4 milhões. Ao todo as novas imparidades constituídas em 2019 desceram 9,9% para 541,6 milhões o que significa um custo do risco de 72 pontos base, abaixo dos 99 pb de 2018.

A melhoria da qualidade dos ativos foi a pedra de toque do BCP. Os NPE (Non Performing Exposure) reduziram-se 1,3 mil milhões de euros para 4,2 mil milhões. Só em Portugal a queda de NPE foi de 1,6 mil milhões para 3,2 mil milhões de euros, e Miguel Maya disse que houve uma redução de 900 milhões só no último semestre.

No balanço, o volume de negócios aumentou  9,1% para 136,4 mil milhões, dos quais há a destacar a subida de 11% do credito performing (+5 mil milhões num ano) para 50,5 mil milhões de euros. Na actividade doméstica o crédito performing cresceu 1,1 mil milhões ou 3,3% face a 2018.

O crédito a clientes cresceu para 54,7 mil milhões e os recursos totais de clientes avançou 10,3% para 81,7 mil milhões de euros. O que inclui uma subida dos depósitos.

O rácio de capital CT1 Subiu sustentado na geração de resultados para 12,2% e o rácio total está em 15,6%.

Não há informação de dividendos. O BCP pagou no ano passado 30,2 milhões de euros dos seus lucros de 301 milhões aos acionistas, em dividendos (0,2 cêntimos por ação).

“A proposta de dividendo vai ser muito conservadora”, disse Miguel Maya.

[Atualizada]

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