O relatório do BCV sobre a Política Monetária em Cabo Verde diz que o país deverá crescer este ano até 4,5%. Segundo o banco central, as projecções macroeconómicas para 2018 para 2018 apontam para um crescimento do PIB em volume no intervalo fechado 3,5% – 4,5%, uma evolução da inflação média anual entre 1,75% e 2,75%; e para uma melhoria da balança global, e consequente aumento das reservas internacionais líquidas em 12 milhões de euros, pese o agravamento da conta corrente.
“Numa conjuntura de contínuo fortalecimento da economia, a autoridade monetária deverá manter uma política prudente e neutra, na expectativa que as pressões inflacionistas e sobre as reservas internacionais líquidas permaneçam contidas”, diz o relatório do BCV, observando que “os efeitos desfasados de um crescimento maior que o antecipado do crédito à economia em 2017 e o cenário de uma performance melhor que a perspetivada em Setembro de 2017 do contexto externo justificam uma actualização em alta das expetativas de crescimento económico para 2018”.
Para o banco central cabo-verdiano, isso tudo “factoriza uma significativa recuperação do investimento direto estrangeiro, com a perspectiva de execução de projetos turísticos em fase de conclusão, e um aumento mais acelerado das despesas orçamentais”.
O documento do BCV refere ainda que o ciclo de recuperação das economias parceiras do país e dos seus mercados de trabalho, fortalecido ao longo de 2017, beneficiou a procura externa e os investimentos no país, “contribuindo positivamente para o bom desempenho da economia nacional”.
De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Estatística, a economia nacional registou um crescimento em volume de 3,9 por cento em 2017, depois de ter registado em 2016 o crescimento mais acelerado desde 2011 (3,8 por cento). Do lado da oferta, acrescenta o BCV, “as performances muito positivas de impostos líquidos de subsídios, indústria transformadora, administração pública, eletricidade e água, alojamento e restauração, bem como a assinalável recuperação do comércio, explicam o melhor comportamento da economia. Do lado da procura, a economia foi impulsionada pela dinâmica da procura interna, em particular do consumo e investimento privados, numa conjuntura de marcada recuperação do investimento público”.
O crescimento dos preços no consumidor – “mantiveram, ao longo de todo o ano de 2017, a tendência de recuperação iniciada em Janeiro, tendo a inflação média anual se fixado em 0,8 por cento em dezembro (-1,4 por cento em dezembro de 2016)” – foi, de acordo com o BCV, essencialmente, determinado pelos efeitos diretos e indiretos (na evolução dos preços no produtor e no consumidor dos principais fornecedores do país) do aumento dos preços das matérias primas, especialmente energéticas, nos mercados internacionais, numa conjuntura de fortalecimento da procura interna e da economia dos principais parceiros comerciais do país.
Além disso, lê-se no relatório, “a fraca precipitação registada na época das chuvas também contribuiu para alguma pressão inflacionista. Entretanto, a substituição da produção local pelas importações terá mitigado a tendência altista dos preços de frescos produzidos internamente”.
A balança de pagamentos, informa o supervisor, evoluiu desfavoravelmente em 2017, com o aumento do défice da conta corrente de 2,7 para 7,1 por cento do PIB, acompanhado de uma redução dos fluxos líquidos de financiamento da economia de 8,0 para 3,5 por cento do PIB. Em consequência, o stock das reservas internacionais líquidas diminuiu em 1.482 milhões de escudos para 57.221 milhões de escudos (519 milhões de euros).
“Não obstante a sua redução, as reservas do país permaneceram em níveis considerados adequados, atendendo ao perfil de risco do país e ao regime monetário de peg unilateral ao Euro, permitindo garantir 5,9 meses de importações de bens e serviços. Em função da redução das reservas externas do país, a expansão monetária, traduzida no crescimento da massa monetária, em 6,6 por cento, foi impulsionada pelo crescimento, em 7,5 por cento, do crédito à economia”, sublinha o relatório do BCV, acrescentando que “o aumento do financiamento bancário à economia, em particular ao sector privado (cujo crédito cresceu 6,8 por cento, que compara ao crescimento de 3,5 por cento registado em 2016 e ao crescimento médio de 0,6 por cento observado entre 2012 e 2015) terá reflectido os efeitos dos estímulos monetários e das medidas visando o fortalecimento dos mecanismos de transmissão monetária que vêm sendo implementados desde 2013, bem como os efeitos da contínua melhoria do clima económico e de algum alívio na aversão a riscos macroeconómicos por parte dos bancos, pese embora o aumento do crédito mal parado”.
E conclui o BCV: “num contexto de implementação de uma política de consolidação orçamental, as finanças públicas registaram um comportamento menos desfavorável em 2017, tendo o défice orçamental se fixado em 3,1 por cento do PIB (3,6 por cento em 2016). O melhor desempenho das contas públicas foi determinado pelo aumento das receitas fiscais e donativos. As despesas orçamentais, entretanto, aumentaram com a execução mais acelerada do programa de investimentos públicos”.
Note-se que o FMI, depois de projectar um crescimento da economia cabo-verdiana em 4,1% em 2018, reviu em alta as suas previsões, estimando um aumento do PIB em 4,3%, projecção, ainda assim, abaixo da calculada agora pelo BCV (4,5%), mas acima da média para a África subsaariana (3,4% este ano e 3,7% em 2019), segundo o World Economic Outlook divulgado esta manhã, 17, em Washington.
O Governo, através do vice-primeiro-ministro e ministro das finanças, Olavo Correia, havia anunciado para este ano um crescimento de 5,5%.
“Estamos a crescer à volta de 4% e penso que no próximo ano podemos atingir 5,5%”, disse Olavo Correia, no início do ano, numa entrevista à agência Lusa quando confrontado com a desaceleração da economia para 3,6% no primeiro trimestre de 2017, face aos 3,8% de crescimento registados em 2016.
O ministro, que está desde ontem, 16, e até o dia 22, nos EUA, na assembleia da Primavera do Banco Mundial e FMI, assinalou que se tratava de números provisórios e desvalorizou as previsões quer do Fundo Monetário Internacional, quer do BCV. “Os bancos centrais são sempre conservadores e o Fundo Monetário também. No Governo, estamos a pensar que, com os instrumentos que vamos lançar e com o ambiente de negócios que vamos melhorar e a confiança que estamos a gerar na economia, será possível crescer a 5% ou 5,5%, mas para lá chegar é preciso muito trabalho do Estado, da administração pública e do sector privado”, disse Correia, que também já foi governador do BCV.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com