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Berardo: “Se eles [CGD] quiserem levar a garagem podem levar”

Joe Berardo revelou ainda que já está a correr uma ação executiva à Metalgest pela CGD no Funchal e que ainda “não foi citado pelos outros bancos”.
10 Maio 2019, 20h05

A CGD só encontrou uma garagem no Funchal quando tentou executar bens, segundo foi noticiado. Joe Berardo explicou que deu ações da Quinta da Bacalhôa e da Empresa Madeirense de Tabacos ao BCP. “Ao BES dei prédios no Funchal”, acrescentou. A CGD ficou com 40% da Associação Coleção Berardo.

Como a Quinta da Bacalhôa, a Empresa Madeirense de Tabacos e imóveis na Madeira, foram dados como garantias a outros bancos que já tinham a hipoteca, a Caixa só encontrou depois a famosa garagem no Funchal.

Perante a insistência dos deputados respondeu em tom de graça: “Se eles [CGD] quiserem levar a garagem podem levar”.

As coisas que estão em seu nome estão penhoradas, disse Berardo depois de esclarecido pelo advogado André Luiz Gomes.

O empresário Joe Berardo considerou hoje na comissão de inquérito que a sua situação creditícia tem servido como bode expiatório para os problemas que afligiram a CGD nos últimos anos, segundo a declaração lida pelo seu advogado.

“O mais prejudicado aqui fui eu. Podia ter comprado mais quadros se não tivesse entrado neste negócio com a CGD”, disse Berardo, referindo-se ao empréstimo de 350 milhões da CGD.

Os três bancos (BCP, CGD e BES) reclamam mais de 960 milhões de euros a Joe Berardo, essencialmente por dívidas da Fundação Berardo e da empresa Metalgest.

Segundo a auditoria da EY à gestão da CGD entre 2000 e 2015, o banco público tinha neste ano uma exposição a Joe Berardo e à Metalgest, empresa do seu universo, na ordem dos 321 milhões de euros.

Os empréstimos a Joe Berardo serviram para financiar a compra de ações do BCP, naquilo que alguns deputados classificaram de “assalto” ao banco, em 2007, cuja garantia eram as próprias ações, e que depois desvalorizaram praticamente na totalidade, gerando grandes perdas para o mutuário e para o banco público, uma vez que Berardo entrou em incumprimento com a banca.

Por que acha que só o banco público aceitou apenas títulos da Associação dona da coleção Berardo? Questionou o deputado do PCP. “Não sei”, disse Berado. “Eu não sei o que vai na cabeça daquelas instituições”.

Depois surgiu o tema da alteração de estatutos levada a cabo por Joe Berardo na Associação Coleção Berardo, que impede os bancos de venderem títulos, sem o acordo de Joe Berardo. O comendador diz que fez isso para proteger a sua coleção e não quer dar as suas obras aos bancos “porque eles não saberão fazer uma boa gestão delas. Se eu fosse dar a eles para vender, sem saber o que estão a fazer…”,  desabafou Joe Berardo.

“Tinha medo que os bancos vendessem os penhores aos fundos de reestruturação”, disse.

“Um dia, quando for vendido, o valor vai ser dividido”, revelou.

Joe Berardo confirmou que houve um aumento de capital já depois de ter dado a penhora de 75% dos títulos da associação aos bancos credores. Joe Berardo não revela quem participou nesta operação, fala em “várias pessoas”.

O aumento de capital diluiu a posição dos bancos na associação dona do coleção de arte conhecida como “Coleção Berardo”, e assim os bancos deixaram de ser maioritários na associação.

Além do aumento de capital, que dilui a participação dos bancos (era de 75% no contrato de penhor), a alteração aos estatutos determinou que sem o consentimento da maioria da assembleia geral (51%) não pode haver transmissão dos títulos (unidades de participação).

A deputada Mariana Mortágua tinha perguntado sobre a possibilidade de os bancos executarem a Associação Coleção Berardo. “Se o fizerem ficam com a maioria dos votos na associação?”, perguntou. “Não sei. Ainda não executaram. Quando o fizeram logo se vê”, disse Berardo.

Mas com 75% dos títulos têm direito a ter a maioria dos votos numa assembleia-geral da Associação? “Eles pensam que têm a maioria [dos votos na Associação], mas não têm”, responde Berardo.

No fim da audição Berardo voltou a queixar-se que os bancos não acionaram o mecanismo de stop loss, que dava aos bancos direito a venderem as ações do BCP assim que elas começassem a desvalorizar e a degradar o colateral do empréstimo, e que não o fizeram porque “podia estar em causa a estabilidade do sistema financeiro português”. Não identificou quem lhe deu esta resposta, mas quem lha deu referia-se provavelmente ao facto de a venda das ações provocar a queda abrupta dos títulos do BCP.

Berardo revelou ainda que já está a correr uma ação executiva à Metalgest pela CGD no Funchal e que ainda “não foi citado pelos outros bancos”.

A CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de 980 milhões milhões de euros. A ação tem como executados o empresário José Berardo, a Fundação José Berardo, a Metalgest e a Moagens Associadas.

 

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