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BFF Banking Group é o principal credor do Serviço Nacional de Saúde

Responsável por sucursal portuguesa de multinacional que oferece soluções financeiras a empresas fornecedoras do setor público, explica como funciona “relação de proximidade” com essas entidades.
  • Cristina Bernardo
30 Junho 2019, 10h00

Em entrevista ao Jornal Económico, o head of country para Portugal do BFF Banking Group, Nuno Francisco, fez o primeiro balanço da sucursal da Banca Farmafactoring, que tem três principais linhas de negócio: factoring sem recurso, gestão de créditos e assistência legal. A primeira é um instrumento financeiro para empresas que trabalham com a Administração Pública ou com o Serviço Nacional de Saúde, e que sofrem atrasos de pagamentos para lá dos prazos contratuais normais.

O que mudou com a abertura de uma sucursal oficial em Portugal, pois já trabalhavam com clientes portugueses desde 2014 e com uma carteira de mais de 300 milhões de euros de créditos sobre entidades da Administração Pública?
Desde que abrimos a sucursal, em outubro do ano passado, temos registado uma evolução muito positiva. Conseguimos cumprir com o que nos tínhamos comprometido em número de clientes e crescimento, quer em volume de carteiras compradas, quer em saldo líquido de clientes. Desde 2014 até a abertura da sucursal tínhamos comprado cerca de 300 milhões de euros de créditos e, segundo dados do primeiro trimestre deste ano, conseguimos um crescimento de 57% a 58% sobre o volume de créditos que tínhamos no ano transato.

Qual é o valor atual da vossa carteira de créditos?
Não vamos divulgar o valor das nossas compras. O mais importante no balanço destes sete meses da operação é o grau de penetração dos nossos serviços em termos de potencial de negócio, que era um dos nossos objetivos deste investimento em Portugal: consolidar a relação que já tínhamos com muitas empresas multinacionais, que são a base do negócio do BFF. Somos um banco especialista no fornecimento de soluções financeiras para empresas fornecedoras do setor público.

Quando fala em setor público, fala em quê? No setor da saúde?
Quando falo em setor público falo em tudo, não só no setor da saúde, mas também da Administração Central e Local, e aqui podemos estar a falar de municípios, agrupamentos escolares, universidades públicas. Estamos habilitados a fazer aquisições de crédito sem recurso sobre todas estas entidades. Claro que o nosso negócio nasceu e cresceu assente no negócio da saúde, nomeadamente na compra de faturas da indústria farmacêutica sobre os hospitais públicos nos vários países onde está o grupo BFF. À data de hoje, cerca de 60% da nossa carteira de negócio potencial, em pipeline, são empresas portuguesas, quando há um ano atrás tínhamos cerca de 10% ou 20%, no máximo, de empresas portuguesas. As restantes eram empresas multinacionais ligadas ao setor farmacêutico e aos dispositivos médicos, que são normalmente credoras do Serviço Nacional de Saúde. Temos muitas empresas que trabalham com a Administração Central e Local e temos empresas portuguesas que vendem produtos aos hospitais públicos, na área dos componentes, dispositivos médicos ou consumíveis.

Qual é o valor da dívida dos hospitais públicos a fornecedores que já está nas mãos da Banca Farmafactoring?
Não divulgamos, mas posso dizer que o BFF será seguramente uma das entidades com maior valor a receber da Administração Pública. Seguramente um dos principais bancos, porque a maioria dos bancos de Portugal não estão muito focados neste nicho de mercado.

Portanto, são o principal banco a quem o SNS deve?
Sim.

A que taxa de juro compram os créditos? Disse recentemente ao “Jornal de Negócios” que, em média, “esta situa-se entre 4% e 5% do total da carteira comprada e não supera os 8%”. É esse o desconto praticado face ao valor facial da fatura?
O desconto é bastante competitivo quando comparado com as taxas praticadas pela maior parte dos bancos. O nosso negócio é diferente do factoring feito pelos outros bancos. Aos clientes é cobrada uma “comissão única” no momento da assinatura do contrato. Nós temos um custo único, que o cliente paga e que o liberta de qualquer tipo de outro custo ao longo da vida do contrato.

Como é que isso funciona?
Analisamos os créditos, analisamos a antiguidade das faturas que os clientes querem vender à BFF, analisamos a tipologia do devedor – se é um hospital, se é um município, se é da Administração Central – analisamos qual é o prazo médio de pagamento deste devedor, e também tendo em conta o volume, definimos um preço que consideramos justo – é um preço único, não há mais custos ao longo da vida do contrato. O cliente, quando aceita, sabe que é uma solução sem recurso, isto é, o cliente vende os créditos que passam a ser propriedade da BFF e não retornam ao cliente se não forem pagos. O pricing depende muito da antiguidade da dívida.

Como é que conseguem cobrar as dívidas às entidades públicas?
Temos uma equipa interna que faz a gestão dos créditos e é responsável pela relação com essas entidades. A relação com uma entidade privada é diferente da relação com uma entidade pública e por isso procuramos ter uma relação de proximidade. Quando compramos os créditos contactamos as entidades públicas para tentar perceber qual é o prazo mais provável de pagamento.

Porque é que o Estado, nomeadamente o SNS, tem sempre tantas faturas em atraso para pagar?
É uma boa pergunta, mas não tem a ver com a BFF, e sim com o Orçamento do Estado. Há um défice crónico de suborçamentação na saúde que faz com que os hospitais não tenham grande autonomia para pagarem dívidas a fornecedores sem passar previamente pela Administração Central do Sistema de Saúde, e pelos ministérios da Saúde e das Finanças, que são as entidades que têm autonomia para libertar as verbas extra-orçamento dos hospitais.

Quais são as vossas metas para o segundo semestre?
Em continuidade com o que fizemos até agora, o nosso objetivo é crescer anualmente mais de 10% ao ano. Gostaríamos de ter um crescimento a dois dígitos, quer em novo negócio captado, quer em carteiras de crédito compradas no ano, quer em resultados.

Quantos parceiros têm em Portugal?

Em fevereiro, o BFF Banking Group assinou um acordo com o BBVA para que os clientes do banco espanhol em Portugal tenham acesso aos serviços do grupo italiano e que passam pela gestão e aquisição sem recurso – ou seja, assumindo totalmente o risco – de créditos sobre entidades da administração pública. O BFF Banking Group poderá assim facilitar ainda mais as relações comerciais entre as empresas e a administração pública com esta parceria assinada com o BBVA. Neste momento temos oito parceiros na nossa rede, que contribuem para angariar potencial negócio para a BFF. Empresas da área da corretagem dos seguros; de consultoria. São empresas que, nas suas atividades, se relacionam com empresas que são fornecedoras de entidades públicas, e o BFF pode ajudar. Queremos consolidar este conceito no segundo semestre. Já temos contratos assinados com alguns clientes que vieram dos nossos parceiros. Alargar o leque de atuação comercial é a nossa vantagem. Estamos abertos a negociações com outros bancos em Portugal.

A BFF está em Espanha desde 2010, e o grupo fala em sinergias ibéricas. Pode explicar o que está em causa?
Sabemos que há um grande número de empresas espanholas que trabalham em Portugal, com sucursais ou filiais. Muitas dessas empresas são clientes da BFF em Espanha. São empresas que vendem produtos e serviços aos hospitais em Espanha e que têm uma sucursal ou filial em Portugal que fornece os hospitais em Portugal. Faz parte da estratégia do grupo. Nos oito países onde estamos presentes, os vários clientes multinacionais trabalham com a BFF em todos os países onde estão e onde nós estamos.

Querem participar em fusões e aquisições?
Somos um banco com muita liquidez e com uma vocação muito forte de expansão internacional. Estamos disponíveis para analisar oportunidades de aquisição, desde que isso represente uma mais-valia dentro daquilo que é a nossa estratégia.

Quer falar dos resultados do grupo e em Portugal?
Os resultados do grupo foram divulgados há pouco tempo: registou um lucro líquido ajustado de 22,2 milhões no primeiro trimestre de 2019, num crescimento anual de 10%. O banco de origem italiana teve um RoTE (Return on Tangible Equity) ajustado de 36% que se compara com 32% um ano antes. Em 2018, o BFF Banking Group apresentou um lucro líquido ajustado consolidado de 91,8 milhões de euros, num dos melhores resultados de sempre, com um rácio de 10,9% do Grupo CET1 no final de dezembro de 2018. Nos vários países onde estamos também conseguimos uma boa performance que permitiu consolidar a nossa posição, nomeadamente em Itália, onde consolidámos a posição de líder da quota de mercado; Espanha também consolidámos a nossa posição. Este ano anunciámos a aquisição de um concorrente no mercado espanhol, a IOS Finance, que pertencia ao Deutsche Bank, que concretizaremos no terceiro trimestre deste ano e nos vai permitir crescer mais em Espanha. Dadas as sinergias dos mercados, Portugal pode também beneficiar desta aquisição, do ponto de vista comercial e de negócio.

E em Portugal?
Somos uma sucursal. Aqui é pouco importante o resultado, pois estamos numa fase inicial. Mas claramente são positivos, em linha com o previsto. É interessante que, em poucos meses de operação, Portugal já contribua de forma positiva para os resultados consolidados do grupo. O futuro do negócio em Portugal passa pela adaptação de algumas soluções mais standard às especificidades do mercado, das quais nos apercebemos no contacto com as empresas portuguesas. Uma solução que pode ser interessante para Portugal é passarmos a poder comercializar apenas a gestão dos créditos sobre entidades publicas. Nesse negócio, o cliente não vende as faturas, apenas contrata a gestão da cobrança das dívidas à BFF.

É uma nova área?
É uma nova área que queremos desenvolver no segundo semestre. Nessa área só fazemos o servicing de gestão e cobrança dessas faturas.

Artigo publicado na edição nº 1993, de 14 de junho do Jornal Económico

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